Segundo Nina Tisler, investigadora que coordena o estudo, os dados já recolhidos no âmbito do projecto "Diasbola" - que se iniciou em 2007 e termina no próximo ano - permitem concluir que, enquanto a participação eleitoral e o interesse pelo ensino da língua diminuem cada vez mais o interesse em campeonatos de futebol continua "omnipresente".
"A língua foi um espaço de emancipação, mas para os emigrantes e luso-descendentes hoje é mais o futebol que faz a Pátria", considerou a investigadora do Instituto de Ciências Sociais (ICS) da Universidade de Lisboa, acrescentando que o futebol permite-lhes ligarem-se a um Portugal moderno, através organizações como o Europeu'2004 ou figuras como Cristiano Ronaldo e Figo.
O projecto "Diasbola", o primeiro estudo comparativo sobre este tema realizado em seis países, pretende apurar o impacto do futebol no quotidiano e na cultura dos emigrantes portugueses, perceber até que ponto contribui para a percepção e a imagem do Portugal contemporâneo e validar a hipótese de que para os emigrantes o futebol português é mais importante do que o próprio património cultural e linguístico.
"Já confirmámos essa hipótese e agora estamos a comparar as funções que o futebol tem nos diversos países", adiantou Nina Tisler, sublinhando, no entanto, que apesar da sua importância o futebol este "não consegue manter os emigrantes exclusivamente portugueses sem abertura ao resto da sociedade".
Os dados preliminares do estudo - recolhidos por investigadores localmente ou através de inquéritos on-line - são hoje analisados num workshop em Lisboa com a presença dos investigadores que trabalham no projecto no Reino Unido, Alemanha, França, Estados Unidos, Brasil e Moçambique e com a participação de Detlev Claussen, professor do Instituto de Sociologia da Universidade de Hannover na Alemanha, com experiência nas áreas das migrações e do desporto globalizado.
Nina Tisler adianta que, no que respeita à integração nos países de acolhimento, o futebol consegue alterar contextos, contribuindo para "a emancipação das hierarquias sociais" e para a integração dos emigrantes e luso-descendentes.
"Por exemplo, em França, quando um clube português como o Benfica ou o Porto jogam na Liga dos Campeões é garantia de estádios lotados e, se ganharem, os franceses têm respeito pelo futebol e durante este tempo os emigrantes, que têm um estatuto social bastante subalterno, emancipam-se deste estatuto e sentem-se superiores", adiantou.
A investigadora destaca também o papel das equipas de futebol amador das comunidades portuguesas, que muitas vezes são multiculturais, na ligação com outras comunidades, bem como o potencial do futebol no diálogo entre gerações de pais e filhos.
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