A saída de Rui Vitória do comando técnico do Benfica não surpreendeu Gaspar Ramos, antigo vice-presidente do clube da Luz e ex-diretor desportivo das 'águias'.

Para o antigo dirigente do Benfica, a derrota em Portimão frente ao Portimonense deixou a situação de Rui Vitória na Luz insustentável uma vez que "a mensagem do treinador" já estava muito difícil de passar aos jogadores.

Numa entrevista ao SAPO Desporto, Gaspar Ramos falou sobre a saída de Rui Vitória do Benfica após o primeiro jogo do ano e considerou que Luís Filipe Vieira tinha de agir nesta altura, correndo o risco de aumentar a pressão sobre a equipa.

"Este era um momento complicado porque o Rui Vitória viveu momentos importantes na vida do Benfica, e acho que o Benfica lhe deve muito, porque com um plantel algo limitado em termos de qualidade, sobretudo comparando com outros planteis que o Benfica teve, nomeadamente no período do Jorge Jesus, ele conseguiu em três anos e meio atingir objetivos que são do máximo do que se tem atingido por um treinador neste período", começou por dizer Gaspar Ramos sobre os três anos e meio de Rui Vitória no Benfica.

"Mas chegou-se a um momento em que se tinha de ultrapassar a situação que foi criada por variadíssimas razões, atitudes, palavras, que entretanto aconteceram, e que de algum modo criou uma situação de balneário em que a mensagem do treinador estava difícil de passar", continou Gaspar Ramos sobre as situações que levaram à situação da saída.

"E portanto, depois deste resultado negativo em Portimão, depois do que aconteceu em dois lances absolutamente caricatos que deixaram a equipa ainda mais nervosa é evidente que só havia duas alternativas: ou o presidente vinha a público e dizia de uma forma convicta que o Rui Vitória era o treinador dele até ao fim da época, e portanto viria estancar um pouco a pressão da comunicação social e aliviava a pressão do balneário, ou então tomava esta decisão que acabou por tomar. São situações complicadas, mas uma delas tinha de ser tomada", frisou Gaspar Ramos para depois falar sobre as possibilidades do Benfica ainda conseguir chegar ao título.

Se agora daqui para a frente os resultados não acontecerem, bom, então a pressão passa a ser só sobre a equipa e não sobre o treinador

"O Benfica pode competir apesar de tudo [pelo título]. Se realmente for a este mercado de janeiro para fazer algumas correções ao plantel no sentido de equilibrar ainda mais a equipa, pois a equipa está muito desequilibrada porque é constituída por jogadores relativamente frágeis, alguns jogadores que são rápidos mas que são muito frágeis fisicamente. E por outro lado há outros que são frágeis porque vão acumulando anos e por lesões que vão tendo tornam-nos jogadores de qualidades mas mais frágeis", considerou Gaspar Ramos.

"É preciso que isto tudo seja tomado em consideração e devidamente analisado e que se façam as correcções devidas, não como foi feito no início da época, e já na época anterior, o que nos privou de sermos pentacampeões, e se faça um reforço da equipa ajustado não como foi feito no início desta temporada em que foram feitas contratações de jogadores que depois acabaram por não ser utilizados, ou porque não se adaptaram ou porque não manifestaram a qualidade necessária para entrarem no lugar de outros em determinadas situações da equipa seria necessário reforçar", atirou Gaspar Ramos sobre a necessidade de reforçar a equipa do Benfica este mês de janeiro.

"Se tudo isto acontecer é possível que mesmo com um treinador que está a prazo a equipa possa melhorar um pouco. Em relação à pressão, não sei se ela vai aliviar de todo. Repare, se agora daqui para a frente os resultados não acontecerem, bom, então a pressão passa a ser só sobre a equipa e não sobre o treinador. Porque até aqui era o treinador que tinha a maior pressão, mas depois transmitia naturalmente à equipa. Neste caso com a saída do treinador, se a equipa não ganhar naturalmente a pressão passa para cima da equipa. Tudo é possível em futebol, havia que fazer neste momento alguma coisa, o presidente tomou esta opção e agora resta respeitar e aguardar", sentenciou sobre a saída de Rui Vitória.

Benfica precisa de um treinador campeão

Em relação aos treinadores disponíveis no mercado para suceder a Rui Vitória, Gaspar Ramos falou em José Mourinho, mas admitiu que é um treinador de enorme prestígio que difícilmente regressaria agora a Portugal.

"O José Mourinho era uma solução boa, mas não sei. Ele sabe o que quer. É um treinador que atingiu um nível de prestígio enorme apesar de ultimamente estar um pouco da mó de baixo. Mas seria um treinador óptimo para o Benfica. Agora, ele vir numa altura destas, em que o Benfica tem um calendário muito carregado neste mês, e sem a possibilidade de contratar jogadores que ele próprio desejaria ter, não sei se ele aceitaria. Agora, era um treinador que a mim me agradaria muito", atirou sobre Mourinho antes se ser questionado sobre outras possibilidades.

"Não sei. Neste momento é difícil qualquer treinador avançar porque eu, por exemplo, tenho analisado o trabalho do Vítor Pereira. O Vítor Pereira é um treinador campeão, habituou-se a ganhar. Ganhou no FC Porto, ganhou no Olympiakos, ganhou agora na China, e o Benfica precisa de um treinador campeão. Porque isto também é muito importante em relação ao plantel. Mas ele já veio manifestar-se publicamente dizendo que não lhe interessa vir para o Benfica, até teve um termo deselegante, ao dizer que com o projecto de Luís Filipe Vieira o Benfica era um coveiro de treinadores. Mas ele até tem alguma razão porque o Benfica trabalhar bem a formação, melhorá-la até, a observação também, contratar só quando são bons, mas para se ser campeão a equipa não pode ser apoiada por jovens que venham imediatamente da formação para a equipa principal. Para se ser campeão é preciso ter uma equipa competitiva, que permita a entrada de alguns jogadores pontuais que vêem da formação, mas a base dela tem de ser de jogadores competitivos para poder ser campeão. E isso foi o que o Vítor Pereira quis manifestar", sentenciou Gaspar Ramos.