As partidas da I Liga de futebol vão coincidir no domingo com as eleições legislativas pela 11.ª ocasião da história, e quinta em democracia, num contexto experimentado no Estado Novo e reforçado em dois dos últimos três sufrágios.

Na 25.ª ronda, o Sporting defende a liderança isolada em Arouca a partir das 18:00, uma hora antes do fecho das urnas em Portugal continental - que estarão abertas desde as 08:00 -, com o campeão nacional Benfica a ser anfitrião do Estoril Praia às 20:30, no Estádio da Luz, em Lisboa.

A agenda comprimida de ‘leões’ e ‘águias’, que estão a meio dos oitavos de final da Liga Europa e têm de acautelar um intervalo de 72 horas regulamentares entre desafios, ditou essa sobreposição de eventos contemplada pela Comissão Nacional de Eleições (CNE).

Mais de 10,8 milhões residentes em Portugal e no estrangeiro vão ser chamados a votar para eleger 230 deputados à Assembleia da República, pouco mais de dois anos depois das últimas legislativas terem viabilizado a segunda maioria absoluta de sempre do PS.

Em 30 de janeiro de 2022, a força política então comandada pelo atual primeiro-ministro António Costa contabilizou 41,37% dos votos e 120 de 230 assentos possíveis, num ato eleitoral que, à imagem de 2024, decorreu de forma antecipada e com futebol à mistura.

O FC Porto triunfou na receção ao Marítimo (2-1), para a 20.ª jornada da I Liga, tal como Sporting de Braga e Vizela bateram os ‘vizinhos’ minhotos Moreirense (2-0) e Vitória de Guimarães (3-2), ‘destoando’ a derrota caseira do Portimonense frente ao Tondela (2-1).

Essas eleições legislativas lograram 48.58% de abstenção, abaixo do recorde de 51.43% em 2019 - o último ano sem intromissão futebolística no dia da votação -, mas acima dos 44.14% de 04 de outubro de 2015, quando se realizaram três dos quatro jogos previstos.

Se o Sporting de Braga empatou em casa sem golos com o Arouca, FC Porto e Sporting bateram nessa condição Belenenses (4-0) e Vitória de Guimarães (5-1), respetivamente, tendo o nevoeiro adiado a receção do União da Madeira ao Benfica para dezembro, sem que o 0-0 impedisse as ‘águias’ de se sagrarem tricampeãs nacionais no final da época.

Nessa altura, António Costa já tinha sido indigitado como primeiro-ministro, impulsionado pela ‘geringonça’ parlamentar entre PS, Bloco de Esquerda e PCP-PEV, apesar do êxito comemorado nas urnas por PPD/PSD e CDS-PP através da coligação Portugal à Frente.

Consoante os dados da Liga Portuguesa de Futebol Profissional (LPFP), Dragão (34.109 espectadores) e Alvalade (31.295) superaram a meia casa, perante circunstâncias que já não aconteciam há 20 anos, aquando da primeira eleição do socialista António Guterres.

Em 01 de outubro de 1995, desta vez sem ‘grandes’ em ação, Leça-Sporting de Braga (0-1), Gil Vicente-Farense (2-2), Belenenses-União de Leiria (3-1), Tirsense-Felgueiras (0-0) e Desportivo de Chaves-Campomaiorense (4-1) perfizeram a agenda da sexta ronda da I Liga, que foi ladeada por mais oito jogos no segundo escalão, panorama recuperado em 2022 e mantido este ano, com um Tondela-Marítimo previsto para as 11:00 de domingo.

A tradição de não haver futebol em dia eleitoral já abrangeu 13 dos 16 escrutínios para a Assembleia da República e teve a primeira exceção em 02 de dezembro de 1979, com a Aliança Democrática (AD) - formada por PSD, de Francisco Sá Carneiro, CDS e PPM - a selar a primeira das seis maiorias absolutas da III República em plena Taça de Portugal.

Benfica-Quimigal (3-0), FC Porto-Lusitânia dos Açores (2-0) ou Amarante-Sporting (1-1), após tempo extra, forçando um jogo de desempate em Alvalade três dias depois, que os ‘leões’ venceriam por 5-0) ressaltaram entre 60 desafios da terceira fase nesse domingo.

A abstenção foi de apenas 17,13%, o quarto registo mais baixo em democracia, ficando perto do recorde de participação (91,7%) definido logo nas primeiras eleições livres com sufrágio universal decorridas em Portugal, que elegeram deputados para a Assembleia Constituinte em 25 de abril de 1974, exatos 365 dias depois da ‘Revolução dos Cravos’.

Durante as quase cinco décadas da II República, que foi implantada a partir do golpe de Estado de 28 de maio de 1926 e repartiu-se entre a ditadura nacional (1926-1933) e o Estado Novo (1933-1974), o futebol ‘invadiu’ seis eleições para a Assembleia Nacional.

Os sufrágios de 1949, 1953, 1961, 1969 - vencidos pela União Nacional (UN) - e 1973 - êxito singular da Ação Nacional Popular (ANP), de Marcello Caetano - coexistiram com rondas de I Liga, quase sempre na sua totalidade, enquanto a primeira fase da Taça de Portugal ‘invadiu’ 1965, no nono e último triunfo seguido de António de Oliveira Salazar.

FC Porto, Belenenses e Vitória de Guimarães são recordistas de embates realizados em domingos legislativos, com nove cada um, aos quais se juntará no domingo o Sporting, único dos três ‘grandes’ invicto nestas circunstâncias, com cinco vitórias e três empates.