No dia da sua apresentação, acabado de chegar de Braga, Jorge Jesus não esteve com meias medidas e atirou: “Jogadores vão jogar o dobro ou mais do que no ano passado. Vim para o Benfica com a certeza e convicção que vou ser campeão nesta casa”.

Encheram-se páginas de jornais, gastaram-se minutos na televisão e na rádio, e na internet abundaram os posts com comentários.

Se uns viam nas declarações de Jesus apenas meras palavras de circunstância - típicas de quem acabara de chegar a um clube grande – outros apelidaram o acto de pura fanfarronice de um treinador que nunca primou por ser comedido nas palavras. O famoso estilo de Mourinho, disse-se. Outros, ainda, desvalorizaram as garantias dadas por Jesus, pois, argumentavam, o Benfica jogava tão pouco que não seria difícil pô-lo a jogar o dobro de quase nada.

Certo é que, e não será exagero dizê-lo, praticamente ninguém suspeitou que o treinador que já passara por Braga, Restelo, Setúbal, Amadora, Guimarães e Felgueiras, cumpriria na íntegra e escrupulosamente cada sílaba que lhe saiu da boca naquela tarde de Junho.

No Restelo, conseguiu levar o agora despromovido Belenenses ao quinto lugar, em 2005/06, com uma equipa que na temporada anterior fora 15ª e que ficara na I Liga em consequência do caso Mateus, do Gil Vicente. Em Braga, onde esteve em 2008/09, como ele próprio disse, foi “o pai” da equipa que no domingo alcançou a marcar histórica de ser vice-campeã nacional.

O Benfica entrou rapidamente nos eixos e com uma pré-temporada recheada de vitórias e troféus, Jorge Jesus começou a mostrar serviço, entrando na época a todo o gás e sempre com o Benfica a jogar mais do dobro do que na época passada.

Será mesmo impossível não ligar Jorge Jesus à conquista do campeonato pelos encarnados, bem como à “reabilitação” de jogadores (Di Maria e Cardozo são os exemplos mais flagrantes) e valorização dos activos do clube – a lista de potenciais interessados em nomes como os de David Luiz, Di Maria, Óscar Cardozo, Ramires, Javi Garcia é extensa.

Os que privam com ele dizem que é viciado e ao mesmo tempo apaixonado pelo trabalho, o futebol. Ele que, ao serviço do Belenenses e ainda sem a visibilidade dos dias de hoje, disse a Bernd Schuster – então treinador do Real Madrid – que com uma equipa daquelas dava “quatro de avanço”.

Conclui-se, pois, que os holofotes não o mudaram. A Luz apenas iluminou o que já muitos diziam ser um dos melhores treinadores do futebol português.