O treinador do FC Porto surge esta quarta-feira em destaque no jornal desportivo espanhol MARCA, onde numa longa entrevista passa em retrospectiva vários momentos da sua carreira tanto como jogador, como técnico. O antigo selecionador espanhol de Sub-21 falou ainda das primeiras impressões que teve quando trabalhou com Mourinho no Barcelona, e teceu elogios à forma como as equipas de Pep Guardiola defendem.

Na antevisão do reencontro com o Pep Guardiola, atual treinador do Bayern de Munique e antigo companheiro de equipa no Barcelona, Julen Lopetegui teceu rasgados elogios ao técnico catalão, nomedamente à forma como as suas equipas defendem. Confrontado com a percentagem da posse de bola do Bayern Munique (67%) e do Barcelona (64%), Lopetegui falou sobre o modelo de jogo do FC Porto, que coloca a formação portuguesa no pódio das equipas europeias com maior posse de bola (61%), e o que significa isso.

"Que queremos atacar muito", começa por dizer Lopetegui a rir-se, quando questionado sobre o significado da posse de bola do FC Porto

"A equipa está mais à vontade com a bola do que sem bola e tratamos de a ter e de cuidar dela. A estatística não é algo que me prenda demasiado porque muitas vezes a estatística não esclarece. Fixo-me mais com o que fazes com esses 51% de posse de bola, porque há muitas equipas capazes de ser muito contundentes e superiores sem ter muita bola. Por isso o futebol é fantástico", acrescentou o técnico.

"Gosto quando uma equipa trata de atacar e impôr a sua ideia ao seu contrário. Mas não é só a forma como ataca que me agrada. O Bayern é uma equipa tremendamente agressiva sem bola, que defende bem. As equipas do Pep defenderam sempre muito bem", disse Lopetegui sobre as dificuldades que o FC Porto poderá vir a ter contra os 'bávaros'.

Em relação à forma como 'abraçou' a carreira de treinador depois de ter sido guarda-redes, Lopetegui assumiu que a curiosidade de entender o jogo 'em si' despertou em si a paixão por aprofundar os seus conhecimentos.

"Foi um processo gradual, que leva o seu tempo de maturação. Tinha a curiosidade de entender os porquês, era algo inato, tanto no futebol como na vida. É um processo natural de descoberta de paixões, por isso há que dar-lhe uma formação".

"(Aquela etapa (treinar os Sub-21 de Espanha) foi muito bonita, quatro anos maravilhosos e uma experiência impagável com recordações fantásticas. Mas tens sempre ambição de continuar a progredir e creio que tinha chegado esse momento. Tinha a vontade de encarar um desafio fantástico como este", frisou Julen Lopetegui sobre a transição de uma seleção nacional para um clube europeu como o FC Porto.

Sobre a sua definição enquanto treinador, Lopetegui confessou que não gosta de definições, especialmente sobre o próprio, mas assumiu que procura melhor e ajudar a crescer os jogadores com quem trabalha.

"Não acredito nas definições de treinador. Trato de dar resposta a todas as situações que vão aparecendo no dia a dia e nos objetivos a curto e longo prazo. Custa-me muito definir-me. Tento estar sempre alerta para melhorar a minha resposta e ajudar a minha equipa a crescer", disse o técnico basco ao diário MARCA.

Questionado sobre a adaptação ao FC Porto, o técnico basco garantiu que não teve dificuldades em transmitir a sua ideia de jogo.

"Não, quando queres colocar uma ideia em marcha para que cresça atravessa por um processo. Pela própria ideia e pela aparição de tantos jogadores novos. Essa ideia vai amadurecendo e adaptando-se à realidade do clube e dos jogadores, Mas a ideia de jogo de qualquer treinador é aspirar à vitória, logo cada um crê que é mais fácil de determinada maneira. Como treinador, o que humildemente quero é ser capaz de dominar todos os aspectos do jogo. Esse é o trabalho do treinador, ser capaz de dar resposta ao jogo da equipa em qualquer momento e que os próprios jogadores cresçam. Dando essa resposta, sim, acredito que ter uma identidade que seja levar a iniciativa, ter a bola muitas vezes em campo contrário para atacar as equipas intensamente retraídas", atirou Julen Lopetegui.

Na entrevista, Lopetegui foi questionado sobre o perfil de José Mourinho enquanto adjunto de Robson e Van Gaal no Barcelona, e a resposta do técnico basco sobre o português é coerente com o que é dito sobre o 'special one'.

"Está claro que já era algo mais do que treinador adjunto, percebia-se que era um homem muito inteligente, muito preparado e com uma capacidade de liderança tremenda. Isso é algo inato e já na altura se via que tinha uma personalidade e uma paixão pela sua profissão muito grande", recordou Lopetegui.