Minuto 94. Um livre ligeiramente descaído sobre o lado esquerdo da grande área do Braga. Tanaka está de frente para a bola. Arranca, confiante e concentrado. O pé esquerdo do japonês levanta a bola sobre a barreira e leva esta até ao ângulo da baliza arsenalista. Golo. Tudo muda nesse instante: já não há garra no Braga, já só se vê uma imensa festa verde. E o apito final do árbitro Hugo Miguel, reduzindo a expressão de mais de uma hora e meia de futebol a um momento de sublime inspiração.
É em Tanaka que acaba este jogo da 16ª jornada da Liga e começa a análise do que Braga e Sporting fizeram na ‘Pedreira’. O triunfo final por 0-1 para os leões não foi só a sexta vitória consecutiva da equipa. Nem marcou ‘apenas’ a ascensão do clube de Alvalade ao terceiro lugar do campeonato. Foi mais do que isso: foi a confirmação de que o momento conturbado que o Sporting viveu recentemente passou ao lado de uma equipa segura, serena e com a liderança de excelência de Marco Silva.
Se é certo que Tanaka foi o ‘joker’ que ninguém esperava, esta foi uma vitória bafejada pela sorte e pelo dedo do treinador leonino, que montou uma estratégia capaz de conter um Braga perigoso, pressionante e audaz. Os leões souberam ser pacientes sob o ‘pressing’ bracarense, atrevidos no momento de atacar e colocar em causa o aparente domínio territorial minhoto e, por fim, ambiciosos, ao não deixarem de acreditar que o golo podia aparecer. Nem que fosse já em tempo extra.
Pelo meio assistiu-se a um jogo competitivo, muito intenso, “rasgadinho” até em certas ocasiões e com oportunidades de golo para os dois lados da barricada. Aliás, este desafio parecia condenado a partir de certa altura a um dececionante nulo, que ficava muito aquém do esforço e da qualidade da atuação de Braga e Sporting. Um encontro onde sobressaíam Nani, entre os leões, e Pardo, pelos arsenalistas.
Até que surgiu o herói improvável chamado Tanaka. Com efeito, se não houvesse CAN e Slimani estivesse disponível para este jogo, muito provavelmente o avançado japonês nem teria entrado em campo este domingo. Os ‘ses’ no futebol não valem pontos e assim foi a vez de um japonês dar a vitória ao Sporting. Em pouco mais de 10 minutos em campo, Tanaka não só sofreu a falta, como assumiu, destemido, a sua conversão. E a crença do nipónico fez mesmo a diferença, enganando o voo de Matheus na baliza minhota.
Um campeonato pode fazer-se de grandes vitórias e figuras maiores do que as próprias equipas, mas é também feito de imprevistos, surpresas e heróis improváveis. Tanaka foi isso tudo na noite do Sporting em Braga: o aparente “erro de casting” que valeu uma vitória. E assim o Sporting regressou ao pódio da Liga, com quatro pontos de desvantagem para o FC Porto e 10 para o líder Benfica.
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