Leonardo Jardim obteve a segunda melhor classificação de sempre do Sporting de Braga no campeonato, um terceiro lugar, mas o avolumar de "choques" com o presidente, António Salvador, ditaram-lhe a porta de saída, hoje consumada.

Apresentado a 08 de junho de 2011, tendo então assinado um contrato por três temporadas, o mais longo já oferecido pelo dirigente a um técnico, Jardim não completou sequer um ano à frente dos destinos do Sporting de Braga.

O treinador escolhido para suceder a Domingos Paciência, que lhe deixou pesada "herança" - um segundo lugar, melhor classificação de sempre, e presença na final da Liga Europa, diante do FC Porto -, não teve um início fácil, tendo desde logo que refazer o setor defensivo, que saiu praticamente todo no defeso, deparando-se depois com várias lesões graves nos novos defesas contratados.

O técnico madeirense chegou mesmo a ser alvo de contestação por uma franja de adeptos após alguns resultados menos positivos, tendo ganho a sua confiança e admiração sobretudo graças aos 13 jogos consecutivos a vencer no campeonato - um recorde interno - e ao futebol atrativo que chegou a ser considerado por alguns analistas como o melhor praticado em Portugal.

Consequência dessa caminhada triunfal, que está na base da chamada inédita de três jogadores seus à seleção nacional (Miguel Lopes, Custódio e Hugo Viana) para disputar o Europeu2012, os bracarenses chegaram à 24.ª jornada, antes dos embates decisivos com Benfica e FC Porto, em primeiro lugar na Liga, mas as derrotas averbadas nesses jogos acabaram com o sonho do título.

«Não fomos inferiores, perdemos pelos pormenores, não fomos eficazes e a equipa ficou abalada porque todos acreditávamos que podíamos fazer mais que o terceiro lugar e lutar pelo título até ao fim», afirmaria mais tarde Leonardo Jardim.

Para explicar o inesperado desenlace, alguns falam num «choque de personalidades», um «mais frio e racional», Jardim, outro «mais impulsivo e ambicioso», Salvador, que se tornou evidente pouco depois da chegada do técnico ao clube.

Apesar disso, e das eliminações da Liga Europa e das taças de Portugal e da Liga, a performance no campeonato foi atenuando as diferenças, mas declarações de Leonardo Jardim há pouco mais de uma semana transformaram-se num "rastilho" que acabou em "explosão".

Instado pelo jornal "O Jogo" a descrever a experiência de lidar com António Salvador, respondeu: «Tem sido uma experiência normal, como aconteceu com os anteriores presidentes com quem lidei. É um relacionamento essencialmente profissional. É nesse registo que converso com António Salvador, como acontecia com Mano Nunes [ex-presidente do Beira-Mar] e outros presidentes. Noutro tipo de situações, as relações são poucas».

A desvalorização do cargo de "manager", desempenhado por Fernando Couto até sensivelmente meio da temporada, também terá irritado Salvador, que não deixou escapar a "deixa" para consumar a rutura.

Quem parece não perceber a demissão do técnico são os adeptos que, no seu principal fórum na Internet (www.superbraga.com), pedem ao clube mais explicações que não apenas o lacónico comunicado colocado no sítio oficial.

«Pode ser que chegue aos ouvidos do presidente que os adeptos, ou a grande maioria, exigem saber o que realmente aconteceu para o desfecho de uma das situações mais bizarras que já assisti em torno do nosso clube», pode ler-se entre outras, em menor número, de apoio à decisão de Salvador.