Símbolo do Sporting, Manuel Fernandes recebeu um convite «irrecusável» do Benfica em 1980, um cheque com uma quantia que era «superior a tudo» o que auferiu em 12 anos em Alvalade e o deixou «todo a tremer».
«Quando fomos campeões em 1979/80 houve um dirigente do Benfica, já falecido, que me levou para um pinhal na Coina e me apresentou uma proposta que me deixou todo a tremer», recordou Manuel Fernandes, em entrevista à Agência Lusa, a pretexto da passagem de 25 anos sobre o célebre “derby” em que o Sporting derrotou o seu grande rival por 7-1.
Apesar do “choque” por causa dos números da proposta, manteve-se inflexível: «Tremi, mas não vacilei. Eu adorava tanto o Sporting que para mim era impensável jogar num rival que, como sportinguista, nunca gostei. Hoje, se calhar, tenho uma maneira diferente de ver as coisas. Mas na altura senti que nunca podia representar o Benfica».
Essa decisão levou Manuel Fernandes «a perder muito dinheiro», um cheque que receberia «na totalidade, de uma só vez», numa altura em que «nem se pagavam impostos».
«Disse logo a esse dirigente do Benfica que aquilo era dinheiro a mais. Não o ganhei nos 12 anos de contratos com o Sporting», referiu Manuel Fernandes, que estava consciente de que iria «prejudicar monetariamente a família» com essa decisão.
No entanto, confessa-se «orgulhoso» por integrar a atual estrutura do Sporting, o que «não seria possível» se, naquela altura, tivesse «ido para o Benfica», considerando que o seu «amor pelo clube» de Alvalade se «sobrepôs a tudo».
Na sua maneira de ver, «um jogador que tenha jogado no Sporting e no Benfica nunca pode ser figura de um desses clubes», razão pela qual defendeu esta perspetiva durante as últimas eleições em Alvalade.
«São dois clubes únicos e quem está num não pode estar noutro, tem de estar um contra o outro. Um bom sportinguista não pode jogar no seu principal rival», reforçou Manuel Fernandes, para quem se trata de «rivalidades únicas» que «devem ser saudáveis e não podem é ser doentias a ponto de gerarem agressividade e violência».
Admitiu que o seu ponto de vista traduz uma mentalidade «à antiga», mas garantiu que «não se importa», reafirmando que «um bom sportinguista não pode jogar num rival», apesar de reconhecer que no seu tempo «não havia empresários» e que nos dias de hoje são eles que «decidem a vida dos jogadores».
Diz «compreender» essa evolução, mas nem por isso deixa de defender a ideia de que «quando se gosta muito de uma causa não se pode atraiçoá-la».
De resto, invoca o facto de «sempre ter sido muito respeitado» pelos benfiquistas, «talvez pela sua maneira de ser e conduta desportiva», mas não nega que aquilo de que mais gostava como profissional «era ganhar ao Benfica».
«Quer se queira quer não, a rivalidade é entre Sporting e Benfica e não entre Sporting e FC Porto ou Benfica e FC Porto», observou Manuel Fernandes, recordando que o “derby” lisboeta «envolve tanta coisa, tanta pressão», que «o sentimento é sempre o mesmo: este é o jogo do ano, não se pode perder».
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