O ex-futebolista internacional português Fernando Pascoal Neves, vulgarmente conhecido por Pavão, começou hoje a ser evocado numa exposição temporária no museu do FC Porto, 50 anos após ter morrido numa partida dos ‘dragões’.
“A história do FC Porto é feita de grandes homens, atletas, adeptos e dirigentes. O Pavão não está só na história do clube, mas também na memória de todos aqueles que lidaram com ele. Eu tive essa felicidade. Hoje, faz 50 anos desse dia trágico. Além de ter sido um grande jogador, é uma eterna saudade para todos”, apontou aos jornalistas o presidente dos ‘dragões’, Jorge Nuno Pinto da Costa, evocando um ex-atleta de “valor incalculável”.
Em 16 de dezembro de 1973, ao minuto 13 do duelo entre FC Porto e Vitória de Setúbal, para a 13.ª ronda da I Liga, Pavão caiu inanimado no relvado do já demolido Estádio das Antas e seguiu para o Hospital de São João, no Porto, onde viria a morrer com 26 anos.
Pinto da Costa, então seccionista, contou que estava a assistir ao jogo nos camarotes do recinto e soube do estado clínico de Pavão através do então presidente ‘azul e branco’ e seu antecessor nesse cargo, Américo de Sá, que lhe pediu para contactar o seu irmão e médico legista José Eduardo Pinto da Costa, que liderava o Instituto de Medicina Legal.
“Foi ele que fez a autópsia. Correram muitos rumores de que era uma indigestão, mas o Pavão não tinha absolutamente nada. Morreu porque tinha uma insuficiência no coração, que, na altura, não era detetável. Hoje, não teria morrido, mas também não teria jogado futebol. Saí do jogo para ir a casa do meu irmão, até porque ainda não havia telemóveis, era domingo, ele não estava a trabalhar e era necessário fazer logo a autópsia”, referiu.
Pavão, assim conhecido por fintar os adversários de braços abertos, ficou sepultado no mausoléu do FC Porto, situado no cemitério de Agramonte, e a sua morte foi acolhida com consternação pelos seus familiares e companheiros de equipa, entre os quais António Oliveira e Rodolfo Reis.
O ex-selecionador nacional, que passou pelo clube como jogador e treinador, soube da morte ao intervalo da receção ao Vitória de Setúbal e começou por “viver sozinho aquele drama”, antes de espalhar a notícia inicialmente difundida pelo médico Vitorino Santana.
“Foi um jogador exemplar. É pena que não haja tantas imagens quantas as necessárias para que as pessoas compreendam o que é ser Pavão e ser FC Porto. Ele foi sempre a minha referência, era interventivo e estava ao serviço do coletivo e em defesa da equipa. Foi um capitão extraordinário e não duvido de que jogaria em qualquer equipa”, partilhou António Oliveira, que tinha recebido um passe de Pavão antes da queda fatal do colega.
Rodolfo Reis também estava em campo e ficou com impressões “horríveis” da morte de Pavão, que “marcou uma era em que o FC Porto não era tão forte” e ajudou a projetar o clube, que continuaria em ‘jejum’ de títulos na I Liga até 1977/78, num total de 19 anos.
“Quando subi a sénior, os conselhos que me davam era sobre o Pavão. Havia lá outros jogadores com mais idade, mas ele chamava-nos, falava connosco e era um irmão mais velho para nós nessa altura. Foi um jogador fabuloso e um homem excecional”, resumiu.
O FC Porto, comandado pelo húngaro Béla Guttmann, ganhou ao Vitória de Setúbal, de José Maria Pedroto, referência da história ‘azul e branca’, nessa tarde fatídica de 16 de dezembro de 1973, fruto dos tentos de Abel Miglietti e do brasileiro Marco Aurélio (2-0).
Os ‘dragões’ finalizaram a edição 1973/74 da I Liga no quarto lugar, com 43 pontos, seis abaixo do campeão nacional Sporting, falhando a conquista de um título jamais vencido durante nove temporadas por Pavão, que conquistou apenas uma Taça de Portugal, em 1967/68.
Pavão continuará a ser homenageado no museu do clube até 31 de janeiro de 2024.
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