A receção do FC Porto ao campeão nacional Sporting, esta sexta-feira, na 22.ª jornada da I Liga, será crucial na definição do título, assume o ex-futebolista Fernando Nélson, vendo os nortenhos a entrarem “em muito melhor posição”.

“Um triunfo do FC Porto ou um empate sentenciam o campeonato. Se o Sporting ganhar, não é garantia de que possa vencer o título, mas fica muito próximo, já que elevaria muito os seus índices de confiança e faria titubear um bocadinho as hostes do FC Porto”, analisou à agência Lusa o ex-defesa de ‘leões’ (1991-1996) e ‘dragões’ (1998-2002).

O FC Porto, líder isolado da I Liga, com 59 pontos, recebe o Sporting, segundo, com 53, esta sexta-feira, às 20h15, no Estádio do Dragão, no Porto, na partida de abertura da 22.ª jornada, que pode ter um peso relevante nas contas do primeiro lugar, quando ficarão a faltar 12 rondas para o fim.

“O FC Porto tem sido mais regular de há muito tempo a esta parte. Além disso, joga em casa, num campo muito difícil para os adversários. Nesse contexto, parte ligeiramente favorito sobre o Sporting. Obviamente, atendendo a que as características deste jogo são diferentes dos outros, diria ao mesmo tempo que é um tipo de jogo de tripla”, ressalvou.

Os dois rivais partilharam a liderança da 10.ª à 17.ª jornadas, mas os ‘dragões’ isolaram-se em janeiro, aproveitando uma derrota dos ‘leões’ que “estava fora das cogitações” na visita ao Santa Clara (2-3), antes de novo deslize, em casa, com o Sporting de Braga (1-2).

“No futebol, mais que as questões exibicionais, são os resultados que ditam o desenrolar dos acontecimentos. Nesta fase, o FC Porto aparece mais forte, o que não quer dizer que se vá refletir neste jogo. O perfil das equipas do Rúben Amorim ambiciona muitos títulos. Se o Sporting quiser vencer a I Liga este ano, terá forçosamente de passar por um triunfo no Dragão. Estou em crer que se balanceará ao ataque desde o primeiro minuto”, notou.

Fernando Nélson, que venceu uma Taça de Portugal (1994/95) e uma Supertaça (1995) pelos lisboetas, enaltece a “mudança de mentalidade” na abordagem aos jogos ‘grandes’ por parte do Sporting, visível nas vitórias frente ao Benfica para a I Liga (3-1) e na final da Taça da Liga (2-1).

“Acho que o Ruben Amorim veio também mexer um bocadinho com o ‘status quo’ dentro do próprio Sporting. Se o clube quer ganhar títulos, tem de manter uma postura coerente ao longo de toda a época com todos os adversários. No fundo, é aquilo que tem tentado transmitir aos seus atletas desde que entrou no Sporting há mais de ano e meio”, frisou.

O espanhol Pedro Porro vai falhar o ‘clássico’ por castigo e deve ser substituído no corredor direito por Ricardo Esgaio, que “cumpre na perfeição tudo o que é pretendido” para um embate que o ex-internacional luso prevê ser “muito intenso, mais do que bem jogado”.

“O jogo viverá de muita luta, essencialmente a meio-campo. A equipa que controlar esse aspeto ficará mais perto da vitória. Acho que será um jogo bastante interessante de se seguir pela intensidade, e até mesmo pelas características que os próprios treinadores incutem em termos de espírito aos seus atletas. O Sérgio Conceição e o Rúben Amorim são líderes natos, mas transmitem boa vontade e um querer muito grande”, considerou.

O ex-defesa, de 50 anos, que se sagrou campeão mundial de sub-20 em 1991 e também conquistou um campeonato (1998/99) e duas Taças de Portugal (1999/00 e 2000/01) ao serviço dos ‘dragões’, vê Sporting e FC Porto “muito igualados” na zona intermediária.

“Do lado do FC Porto, o Vítor Ferreira tem uma qualidade acima da média em termos de visão de jogo, passe e drible. É muito bom a nível técnico e, ao incorporá-lo nas suas fileiras, o clube ganhou muito em criatividade e poder ofensivo. Do lado do Sporting, o Matheus Nunes é também um jogador acima da média, com capacidade física e técnica individual. Há ainda o João Palhinha, que é fortíssimo a jogar naquela linha”, detalhou.

Sem ‘baixas’ clínicas, os ‘leões’ viram Pedro Gonçalves sair com queixas musculares no triunfo sobre o Famalicão (2-0), motivando uma gestão prudente até ao ‘clássico’ do ‘artilheiro’ da edição passada da I Liga, que conta apenas seis golos em 17 jornadas.

“Não digo que seja pelo desgaste. Era de desejar que desse continuidade à última época, mas acho que a lesão sofrida no início da época o condicionou. Como as expectativas estão um pouco abaixo do que seguramente espera, poderá estar a mexer com ele na parte mental. A qualidade e capacidade estão lá. É uma questão de tempo, porque os atletas às vezes atravessam períodos de maior fulgor ou de menor inspiração”, referiu.

Já o inglês Marcus Edwards e o argelino Islam Slimani, de volta a Alvalade e capaz de “ser importante em certas circunstâncias no Dragão”, foram recrutados em janeiro para munir o Sporting de “muitos jogadores de nível elevado” num “período muito exigente”.

Quatro dias depois da deslocação ao FC Porto, também opositor no duplo confronto das meias-finais da Taça de Portugal, os campeões nacionais vão medir forças em Alvalade com os ingleses do Manchester City, na primeira mão dos ‘oitavos’ da Liga dos Campeões.