Os adeptos do FC Porto anseiam por títulos. Um ano sem vencer já é muito, dois é demasiado tempo e três é uma eternidade. E o que dizer de um quarto ano seguido sem vencer a Liga? Há uns anos parecia algo impossível de acontecer no FC Porto mas hoje, olhando para os jogadores e para o futebol apresentado pela equipa azul-e-branca e ainda para os rivais, essa possibilidade ganha forma.
Nuno Espírito Santo foi o homem escolhido pela direção do FC Porto para colocar o clube na rota dos títulos. Depois das experiências falhadas com Paulo Fonseca, Julen Lopetegui e José Peseiro, a SAD azul-e-branca escolheu um homem com ADN Porto, que conhece os cantos à casa mas que vinha de uma experiência falhada em Espanha. Para já, as coisas não estão a correr bem.
Os mesmos erros de Lopetegui
Nuno já afirmou por diversas vezes que o FC Porto vai variar entre o 4x3x3 e o 4x4x2. Nos jogos já realizados, utilizou os dois esquemas táticos, ambos com resultados diferentes. E mudou quase sempre a equipa, exceto frente ao Leicester onde repetiu o mesmo onze que tinha vencido o Boavista. O problema é que a equipa ainda está a adaptar-se às ideias do treinador, pelo que seria sensato cimentar o 4x3x3, o esquema tático mais usado pelo FC Porto nos últimos anos. Além disso, pedia-se também um onze já consolidado mas NES tem cometido os mesmos erros de Lopetegui no seu primeiro ano de FC Porto: demasiadas experiências, muitas mudanças, principalmente no meio-campo e na frente de ataque.
Lopetegui começou bem com três vitórias na Liga e duas na Champions (play-off com o Lille) mas depois começou a fazer demasias experiências, mudando quase sempre o onze em mais do que uma peça. Resultado: quatro empates e uma derrota nos sete jogos seguintes fizeram o FC Porto perder o comboio da frente e ser eliminado pelo Sporting da Taça de Portugal. Os pontos perdidos no início foram cruciais para as contas finais da Liga, ganha pelo Benfica. Deu luta até a última jornada mas não chegou.
4x4x2 ou 4x3x3?
Quem vê os jogos do FC Porto percebe que tantas mudanças não têm sido benéficas. No 4-4-2 Nuno já experimentou diversas formas de jogar. Contra o Tondela entrou assim, com Depoitre e André Silva na frente, Otávio e Brahimi nas costas e Rúben Neves e André André no meio. A equipa perdeu robustez no meio já que os dois jogadores dessa área são mais de passe e passe e perdem muito na parte física. Otávio e Brahimi acabaram por cair nos mesmos espaços, sempre pelo meio e nunca pelas alas. Os avançados raramente foram servidos porque os laterais (que deviam subir e apoiar mais nesse esquema), estavam presos atrás, onde o Tondela tinha dois extremos muito velozes. NES mudou no segundo tempo, dando mais mobilidade ao ataque, passou ao 4-3-3, a equipa cresceu mas já era tarde. Dois pontos perdidos frente a um dos últimos. Das outras vezes que usou o 4x4x2 retirou Brahimi para colocar mais um médio, dando mais músculo a equipa na zona central.
Nesta altura, o FC Porto soma cinco vitórias, três empates e duas derrotas em jogos oficiais. No 4x3x3 venceu o Estoril, o Rio Ave e a AS Roma mas empatou com o Copenhaga, AS Roma e perdeu com o Sporting. No 4x4x2 venceu o V. Guimarães e o Boavista, empatou com o Tondela e perdeu com o Leicester. O problema do 4x4x2 prende-se mais com a forma como o FC Porto quer chegar à baliza contrária. A equipa não mostra rotinas deste esquema tático, os laterais que deviam apoiar muito o ataque estão muitas vezes sós nos flancos e é-lhes pedido que sejam muita coisa ao mesmo tempo: defesas e extremos. Para complicar ainda mais, há a destacar a falta de eficácia, onde o jovem André Silva tem-se destacado. O avançado leva cinco golos marcados em dez jogos (o que é uma boa assinalável para o seu primeiro ano titular na equipa A) mas já podia ter feito mais.
Estabilizar no 4x3x3 e num onze-base
Frente ao Leicester, Nuno Espírito Santo repetiu um onze pela primeira vez. Para um treinador que chegou esta época a um clube grande, um clube com fome de títulos e com uma maior pressão para vencer, pedia-se que NES fosse mais pragmático e que tentasse estabilizar num esquema tático e num onze, antes de se lançar em experiências.
O 4x3x3 é o esquema tático que permite tirar maior partido das caraterísticas dos jogadores, dos extremos como Corona, Brahimi, Diogo Jota. É também a forma que permite aos médios interiores dar equilíbrio defensivo e apoiar o ataque, sem nunca comprometer a equipa na zona defensiva, onde Danilo deverá estar mais perto dos centrais para cobrir a subida dos alas.
Os próximos jogos serão cruciais para Nuno Espírito Santo. O técnico terá de colocar a equipa a produzir muito mais do que já mostrou, com resultados consistentes, de forma a manter o FC Porto dentro dos objetivos: vencer a Liga portuguesa e passar aos oitavos-de-final da Liga dos Campeões. Para já está a três pontos do líder Benfica na Liga e na Champions depende de si para apurar-se. Mas será preciso vencer os próximos dois jogos com o Club Brugge e ir vencer Copenhaga fora, antes de fechar a fase de grupos em casa com o Leicester.
O tribunal do Dragão não perdoa e começa a perder a paciência. O FC Porto não aceita estar mais um ano sem títulos. A bola está agora do lado de Nuno e os jogadores.
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