A 25 de janeiro de 1942, Maputo via nascer um menino, Eusébio da Silva Ferreira. Naquele momento, ninguém imaginava que seria um dos melhores futebolistas do Mundo e o melhor que Portugal já viu.

Em dezembro de 1960, a entrar na idade adulta, Eusébio chegava à metrópole, vindo de Moçambique. Ia ingressar no Benfica. Mas a contratação não foi fácil, sendo digna de um filme de espionagem. Eusébio chegou envolto num secretismo, porque o seu destino era para ser ‘verde e branco’. Por isso, quem chegou foi ‘Rute’, o nome de código do Pantera Negra.

O clube de Alvalade sentia-se em vantagem sobre o arquirrival. Afinal, o menino moçambicano atuava na sua filial em Maputo, no Sporting de Lourenço Marques (atual Maputo). 

«O Benfica estava à frente porque falou com a minha mãe e o meu irmão. O Sporting fala em rapto, mas eu nunca poderia aceitar ter sido raptado», explicou Eusébio numa entrevista à Lusa, em 2010, por altura da celebração dos 50 anos da sua chegada a Lisboa, lembrando as acusações de que foi alvo por parte do Sporting, inconformado por ter deixado escapar aquela ‘pérola’.

E assim foi. O menino moçambicano tornou-se a figura de proa do Benfica e o maior símbolo do futebol português, nas épocas de 1960 e 1970.

Para a história, ficam as suas arrancadas demolidoras, o pontapé-canhão, que era o terror dos guarda-redes. Estivesse onde estivesse no campo, Eusébio sentia o apelo do golo e a bola, como que telecomandada, sabia o que fazer.

«O remate é uma questão de concentração. Os melhores pontapés [de bola parada] aconteceram em estádios cheios e com toda a gente a assobiar», recordou.

Até aos dias de hoje, Eusébio não tem rival no panorama nacional. Sete vezes melhor marcador do campeonato nacional, duas vezes melhor marcador europeu e eleito melhor futebolistas europeu uma vez. Apenas Cristiano Ronaldo poderá bater o ‘King’. No entanto, os tempos são outros e o futebol evoluiu, o mercado está diferente e Eusébio nunca jogou nos grandes clubes europeus. Em 1975, depois de deixar o Benfica, rumou aos Estados Unidos e Canadá, onde atuou nos Boston Minute Men, no Toronto Metros, no Las Vegas Quick Silvers e no New Jersey. Quando regressou, passou pelo

Beira-Mar e União de Tomar, antes de ser treinador das camadas jovens.

Quase um ano depois de chegar a Portugal, Eusébio envergava a camisola das quinas. A estreia data de 8 de outubro de 1961, frente ao Luxemburgo. Portugal saiu derrotado por 4-2. Mas o momento mais ‘triste’ da carreira do futebolista pode muito bem ser o Mundial de 66. Pela primeira vez, Portugal chegava a uma meia-final. O adversário foi a Inglaterra, que impos uma derrota por 2-1 e deitou por terra o sonho de ser campeão Mundial. Eusébio chorou e isso ficou famoso. Nem o facto de ter sido o melhor marcador consolou.

Esse Mundial ficou ainda marcado pela reviravolta que Eusébio conseguiu frente à Coreia do Norte e que permitiu a chegada às meias-finais. Com um resultado negativo de 3-0, o ‘King’ apontou sozinho quatro dos 5-3 com que Portugal bateu os coreanos. 

Como eram outros tempos e o futebol outra coisa, Eusébio não deixou o Benfica para ingressar no Inter de Milão, onde iria jogar ao lado de Bobby Charlton. O clube encarnado na altura aceitou a proposta (três milhões de dólares o equivalente na altura a 90 mil contos), mas há duas versões para o negócio nunca se ter consomado: a primeira de que a Itália fechou as suas fronteiras a jogadores estrangeiros, a segunda de que teria sido António de Oliveira Salazar a proibir a saída do jogador. O ditador considerou Eusébio «património nacional».

«Assinei um contrato-promessa com o Inter de Milão e estive 22 dias em Itália. Ninguém soube disto, só os dirigentes do Benfica, mas estive lá e cheguei a escolher uma vivenda com piscina. Tive azar porque entretanto os italianos fecharam as fronteiras aos jogadores estrangeiros», lembrou.

Eusébio é daquelas figuras imortais. Pelo legado que deixa no futebol nacional e Mundial, pela estátua erguida em pleno estádio da Luz.

«Ainda me lembro que, em miúdo, nunca pensei chegar onde estou, mas tudo sucedeu porque sempre tive os dois pés assentes no chão e caminhei com a cabecinha. Valeu-me muito a minha maneira de ser, pois sou muito simples e pouco falador. Como aprendi com a minha família», dizia.

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