A troca de provocações entre Jorge Jesus e Rui Vitória tem servido como combustível para a guerra Benfica-Sporting e conheceu novos episódios ao longo da 17ª jornada da Liga, que ainda decorre.
O atual técnico do Benfica recordou que Jesus teve de passar por muitos clubes até chegar à Luz, acumulando triunfos e desilusões. Rui Vitória atirou ainda um "com a idade que eu tenho ele se calhar andava a lutar pela subida de divisão na 2ª Liga".
Em resposta, Jorge Jesus garantiu que nos escalões inferiores ajudou as suas equipas a atingirem os seus objetivos e atirou: "Há outros que começaram no Vilafranquense e ganhavam…bola".
O que fez então o atual treinador do Sporting até aos 45 anos, a idade do atual timoneiro do clube 'encarnado'?
Terminou a carreira como jogador no Almancilense e iniciou a carreira como treinador no Amora, em 1989/90, aos 34 anos. O clube do distrito de Setúbal havia descido à Terceira Divisão cinco anos antes e Jesus levou-o de volta à 2ª Divisão Nacional logo na primeira temporada. Dois anos depois, chegou à Segunda Divisão de Honra, vencendo a zona Sul com grande vantagem sobre o segundo classificado.
Em dezembro de 1993, com 39 anos, chegou ao Felgueiras, onde foi, por esta ordem, herói e vilão. No emblema nortenho fez por implementar o estilo de jogo do Barcelona de Johann Cruyff, que via como referência. As camisolas eram parecidas mas não foi à primeira que Jesus concretizou o objetivo de levar o Felgueiras ao primeiro escalão, mesmo com um grande investimento no plantel no mercado de inverno. À segunda tentativa, porém, Jorge Jesus levou mesmo a equipa à Primeira Liga, ajudando assim a escrever a página mais importante da história do clube.
A aventura no primeiro escalão durou apenas um ano para o Felgueiras (1995/96). Ainda com Jorge Jesus no leme, a equipa exibiu bom futebol na primeira volta e parecia lançada para a permanência, mas uma quebra na segunda volta significou a descida de divisão, apenas acima de Campomaiorense e Tirsense. E assim, Jorge Jesus passava a vilão: sempre polémico na imprensa da região e muitas vezes contestado pelos adeptos, acabaria por abandonar o clube cinco anos depois da chegada.
Seguiu-se uma muito curta e pouco relevante passagem pelo União da Madeira, da Segunda Divisão, antes de rumar ao Estrela da Amadora, clube onde havia começado a sua formação como futebolista. Foi no clube da Amadora, que tinha como único objetivo a manutenção, que conseguiu consolidar o seu espaço na Primeira Liga. Em ambas as temporadas que aqui passou, terminou no mesmo lugar e com a mesma pontuação: 8º lugar, com 45 pontos conquistados. Jesus tinha então a idade que Rui Vitória, treinador do Benfica, tem agora.
Já depois de passar a barreira dos 46 anos, Jorge Jesus acabaria por somar feitos como as qualificações para a final da Taça de Portugal e para as competições europeias pelo Belenenses, a qualificação para os oitavos-de-final da Taça UEFA pelo Sporting de Braga e a conquista da Taça Intertoto, também ao serviço do clube minhoto. No Benfica somou dez troféus e no Sporting soma até agora um troféu, a Supertaça conquistada contra o seu antigo clube.
E o que fez Rui Vitória até agora?
Na resposta ao treinador do Benfica, Jorge Jesus recordou a passagem de Vitória por clubes como Fanhões, Vilafranquense e Alcochetense. A verdade, porém, é que o técnico apenas passou como treinador pelo clube de Vila Franca de Xira. Nos emblemas de Fanhões e Alcochete atuou apenas enquanto jogador.
Ora foi precisamente no Vilafranquense que Rui Vitória iniciou a sua carreira como treinador, em 2002. No emblema de Vila Franca de Xira, de facto, não conseguiu somar feitos, tendo tido como momento mais mediático o encontro com o FC Porto de José Mourinho em 2003/04, para a Taça de Portugal. Acabou goleado por 4-0 frente à equipa que se sagraria campeã europeia ainda nessa temporada.
Saltou dois anos depois para os juniores do Benfica, onde esteve durante dois anos antes de rumar ao Fátima. Viajava todos os dias de Alverca até às instalações do clube, que levou logo no primeiro ano à subida de divisão, à Segunda Liga. Na segunda temporada acabou por descer, mas o clube manteve a aposta e não despediu o técnico, que garantiu nova promoção na época seguinte. O momento mais marcante a nível mediático da passagem de Rui Vitória pelo Fátima, porém, foi o facto de ter eliminado o FC Porto de Jesualdo Ferreira da Taça da Liga, em 2007/08: triunfo por 4-2 nas grandes penalidades após o 0-0 no tempo regulamentar. Acabaria eliminado pelo Sporting na fase seguinte, pela diferença de golos marcados fora.
Em 2010/11, com 39 anos, chegou à Primeira Liga, mais concretamente ao Paços de Ferreira. Conseguiu o feito de levar os 'castores' à final da Taça da Liga, que perdeu frente ao Benfica de Jorge Jesus, e terminou a Liga no sétimo lugar, às portas da qualificação europeia.
No final da temporada deu novo salto, agora para o Vitória de Guimarães, tendo substituído Manuel Machado. Terminou a sua primeira época (2011/12) no sexto posto, numa posição que teria sido de qualificação europeia caso a Académica, 13ª classificada, não tivesse vencido a Taça de Portugal, 'roubando' assim o lugar continental aos minhotos. Na sua segunda época no clube de Guimarães (2012/13) conquistou o único troféu da sua carreira até ao momento: venceu a Taça de Portugal, derrotando na final o Benfica. Foi a primeira e até hoje única Taça de Portugal conquistada pelo emblema do Minho. Terminou essa mesma época em nono lugar na Liga, mas conseguiu o apuramento para a Europa graças à conquista da Taça.
A época 2013/14 teve então uma passagem pela fase de grupos da Liga Europa, que o clube terminou no terceiro posto, atrás de Lyon e Bétis e acima dos croatas do Rijeka. No que toca ao campeonato, conquistado pelo Benfica que então era de Jorge Jesus, o V. Guimarães ficou no 10º lugar. Um ano depois, e antes do salto para o Benfica, Rui Vitória voltou a levar o V. Guimarães à Europa, terminando a Liga 2014/15 no quinto lugar.
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