O guarda-redes do AVS Ochoa revelou que começou no futebol como avançado até à lesão de um colega, lamentou o namoro falhado com o Ajax e garantiu que ainda sonha marcar um golo antes de terminar a carreira.

“Comecei a jogar aos 10 anos no Club América, no México, como avançado, até que o único guarda-redes da equipa se lesionou num lance de penálti. O treinador perguntou quem queria ir para a baliza, fui eu, defendi o penálti, e assim terminou a minha carreira no ataque”, contou Ochoa à agência Lusa.

‘Memo’, diminutivo de Guillermo e uma das alcunhas de Ochoa, achava que estaria na baliza apenas até ao regresso do colega, dois meses depois, mas o treinador nunca mais o deixou descalçar as luvas.

Ochoa foi chamado à seleção ainda a pensar que integraria as opções para o ataque, mas a participação num torneio internacional nos Países Baixos e o interesse demonstrado pelo Ajax convenceram-no do contrário.

“O América não me deixou sair, alegando que ainda tinha aspetos a melhorar. Aos 12 anos, passei a treinar diariamente e, aos 15, assinei o meu primeiro contrato profissional. Jogava no meu escalão, mas treinava com a equipa principal, que contava com Djalminha e Zamorano, entre outros”, recordou.

Taffarel, Pagliuca, Jorge Campos, van der Sar, Preud´homme ou Barthez foram as referências no crescimento de Ochoa como guarda-redes, já ‘contaminado’ por aquela “sensação fantástica de evitar golos” e “as reações do público às defesas”.

Rapidamente, Ochoa tornou-se um dos principais destaques do América, clube que o revelou, mas só em 2011, aos 26 anos, deixou o México para um périplo europeu por França, Espanha, Bélgica e, mais recentemente, Itália. Faltaram-lhe apenas clubes à altura do seu talento.

“Acredito nisso, mas o maior problema foi não ter passaporte comunitário. Havia limites para estrangeiros, e os clubes costumavam reservar essas vagas para avançados. Podia ter sido o PSG, mas um teste positivo impediu a minha inscrição, só levantada após o fecho do mercado. O meu grande sonho era jogar no Ajax”, confessou.

Ochoa admite que os seus 1,84 metros o limitam nos cruzamentos contra jogadores mais altos, mas compensa com “reação”, além de qualidades como “segurança, tranquilidade, leitura de jogo e liderança”, que lhe têm garantido a titularidade sobre os colegas.

“Não é fácil para os outros, mas não depende de mim. Tento ajudar, mas isso também me obriga a trabalhar mais e ser um exemplo”, comentou. Timidamente, admitiu que “é frequente dar autógrafos ou assinar camisolas no balneário”.

A quatro meses de completar 40 anos e cada vez mais perto do fim da carreira, o internacional mexicano ainda persegue o sonho de marcar um golo, lamentando as três oportunidades perdidas no México, todas nos instantes finais das partidas.

“Marcar um golo é mesmo o que me falta no futebol. Será no AVS? Quem sabe. Se a permanência estiver garantida e o Nenê ou o Zé (Luís) me deixarem bater um penálti, pode acontecer”, admitiu, sorridente, Ochoa, admirador confesso de quem se mantém ao mais alto nível ano após ano.

Depois de pendurar as chuteiras, Ochoa quer ser “embaixador” ou “diretor”, colaborar na arbitragem, com clubes, até secundários, ou liderar o projeto que iniciou no México para captar talentos não profissionais, consciente do “muito trabalho que há ainda a fazer”.