Antever o desenlace de uma situação com base nos índices visuais foi a necessidade mais apontada pelos árbitros da I Liga de futebol no âmbito do projeto "Olho em ação", cuja segunda fase será hoje apresentada em Braga.
António Baptista, líder da equipa de investigação da Universidade do Minho (UM), explicou à agência Lusa que o projeto "O olho em ação: da perceção ao treino de decisão", pretende "aprofundar o conhecimento da função visual nos árbitros, nomeadamente caracterizar as suas necessidades visuais, tendo em vista a sua otimização".
Depois da caracterização da função visual dos árbitros, hoje será apresentada no auditório da Associação de Futebol de Braga, de onde partiu a ideia, a segunda fase do projeto, sobre as necessidades que essa população específica tem.
Foi feito um inquérito à grande maioria dos árbitros principais e auxiliares da I Liga e o também diretor do mestrado em Optometria Avançada da UM explicou que as necessidades que os árbitros principais reportam são distintas das dos árbitros auxiliares, mas "antever o desenlace de uma situação com base nos índices visuais" foi a característica mais citada como a mais importante.
O especialista considera que não lhe parece possível melhorar a acuidade visual dos árbitros que é, na globalidade, "boa", e frisou que "a visão humana tem limitações" que são "impossíveis de eliminar, mas que podem ser contornadas".
Deu três exemplos dessas limitações, começando pela influência da rapidez na visão humana.
"A velocidade afeta a visão? Claro que afeta. Se determinado acontecimento for demasiado rápido, o cérebro não tem capacidade para processar toda a informação", disse.
Outra restrição é o efeito de ilusão "flash-lag", que explica que o cérebro perceciona de forma diferente corpos em movimento e que tende a determinar o que está mais avançado, o que pode explicar as dificuldades no ajuizamento de situações de fora-de-jogo.
A terceira tem que ver com o "estar a olhar e não estar a ver", isto é, quando a concentração em determinado lance não permite ver outras situações.
Para António Baptista, "a arbitragem é uma atividade fascinante", considerando que é uma boa preparação para a vida profissional, notando a grande adesão à arbitragem de jovens no concelho de Braga "muitos deles licenciados ou até doutorados".
"O árbitro está sujeito a uma grande tensão, num ambiente muito hostil e tem que decidir em poucos segundos, muitas vezes em frações de segundo. Ele é um líder e toma cerca de 200 decisões por jogo, a maior parte delas são visuais por isso a visão é crítica", defendeu.