O presidente da Liga de Clubes, Pedro Proença, revelou esta sexta-feira em entrevista ao jornal A Bola que pretende integrar o Conselho de Presidentes nos estatutos do órgão a que preside, e que já vê algumas mudanças de mentalidade na nova geração de dirigentes, nomeadamente no planeamento estratégico para o futuro.

Questionado sobre a poluição comunicacional de alguns clubes portugueses, Pedro Proença lamentou a extinção do Conselho de Presidentes, mas mostrou-se confiante no futuro com a integração da cimeira dos presidentes nos estatutos da Liga .

"[Qual a estratégia para acabar com o ambiente comunicacional, a poluição sonoro que se vive no futebol português?] Estas questões só se ultrapassam com sentido de responsabilidade. Está em cima da mesa neste momento, em discussão, uma alteração do modelo de governação da Liga. A última alteração do modelo de governação da Liga. A última alteração, em 2015, retirou uma figura que para nós era absolutamento essencial que era o conselho de presidentes. Um fórum onde os presidentes tinham a palavra e podiam discutir entre eles todos os temas estratégicos do futebol. Desapareceu. Conseguimos há dois anos recuperar a cimeira de presidentes, algo que não existe formalmente mas que queremos recuperar de forma estatutária. Está a faltar um local, um espaço onde os presidentes possam, olhos nos olhos, assumir as responsabilidades que têm de assumir e fundamentalmente definirem o futuro. É uma das grandes alterações que pretendemos. Tenho dito sempre nas assembleias gerais que o futebol será sempre que aquilo que os clubes quiserem que ele seja, e como qualquer indústria tem de ser tratada muito singular. Também utilizo uma máxima de que apenas os 90 minutos devem separar as SAD ou os presidentes, em tudo o resto devemos estar unidos porque é de uma indústria que falamos. Se conseguirmos manter esta máxima, tenho a certeza absoluta de que no final deste mandato teremos um futebol completamente diferente, muito mais responsável, em que os atos de comunicação terão consequência na vida dos próprios clubes".

[Para grandes males, grandes remédios. Não pode atacar-se mais o problema do lado da regulamentação?] "Esse trabalho tem sido feito. O Regulamento Disciplinar alterou o quadro sancionatário, em algumas das penas, em 400 por cento. Aliás, basta analisar a evolução dos últimos quatro anos em termos de receitas associativas para a própria Liga. Tivemos rubricas a quadruplicar os valores, o que significa que houve uma sanção clara de determinados comportamentos que quisemos erradicar do futebol profissional. E continuaremos a trilhar esse caminho, embora consideremos que o sentido da prevenção e a responsabilização é muito mais eficaz no combate a este excesso de ruído comunicacional que em nada ajuda a indústria do futebol".

[Visto de fora, dá a sensação que cada um dos clubes olha demasiado para o seu umbigo, para o seu interesse estratégico em cada momento. Como se conjuga isto?] "Cada clube olha demasiado para o seu umbigo? Esse é o papel fundamental da Liga enquanto organização, não apenas do seu presidente: criar as pontes e sentido de corpo. O passado da Liga foi muito egocêntrico, os clubes pensavam numa realidade muito singular e muito própria. Penso que isto acabou por acontecer porque verdadeiramente nunca houve aquilo que é um chavão, uma política estratégica comum que fizesse a demonstração aos clubes que eles enquanto marcas valeriam sempre muito mais negociando em conjunto do que de forma singular. Esta mudança geracional e de mentalidade começa a acontecer, os clubes percebem que quando negociam e se envolvem de forma coletiva na discussão de qualquer problema têm muito mais força. É o que temos feito na elaboração dos regulamentos, no processo de inclusão dos grupos de trabalho. Temos tido grandes resultados. Tínhamos a clara perceção de que isto não se mudaria de um momento para o outro, mas hoje, nas nossas conversas internas, a discussão do coletivo sobrepõe-se, em muitos dos casos, à discussão individual".