A Liga Holandesa tornou-se na primeira a distribuir receitas da UEFA para os restantes emblemas que não participam nas provas europeias, como forma de os ajudar a desenvolver as suas infraestruturas e apostar mais na formação. Esta ideia será aplicada a partir da época 2019/2020 e insere-se num projeto que visa "desenvolver e melhorar a qualidade das divisões profissionais do futebol holandês", pode-se ler no site da prova.
Uma medida ímpar, saudada por esta Europa fora e que poderá ser uma realidade em Portugal, embora com contornos diferentes. Diz o jornal Record na sua edição desta terça-feira que Fernando Gomes, presidente da Federação Portuguesa de Futebol, discutiu esta possibilidade na última reunião com os clubes profissionais.
A proposta ainda está numa fase embrionária mas, no fundo, seria uma espécie de mecanismo de solidariedade para ajudar os outros emblemas do futebol português, enquanto as 'equipas europeias' teriam mais facilidades em agendar encontros, como contrapartida. Uma ideia que agrada a todos e que poderá entrar em vigor já na próxima época caso seja aprovado e regulamentado pelos clubes.
Diz o Record que esta medida é muito mais realizável que a centralização dos direitos de televisão, ainda muito longe de uma solução, uma vez que a maior parte dos clubes vendeu os mesmos direitos, de forma individual, por longos períodos.
Proposta holandesa premeia formação e melhoria de infraestruturas
A proposta holandesa é ligeiramente diferente da portuguesa. Todos os clubes envolvidos nas provas da UEFA terão de ceder cinco por cento das receitas arrecadadas na fase de grupos das provas de clubes do 'velho continente' e 3,75 por cento do que for ganho nas eliminatórias seguintes. Desta receita total (os cinco por cento da fase de grupos mais os 3,75 por cento da fase de grupos), 85 por cento será distribuído pelos clubes da primeira divisão holandesa que não participam nas provas da UEFA. Os restantes 15 por cento destinam-se aos clubes da Segunda Divisão.
Em contrapartida, todos os clubes beneficiários terão a obrigação de ter um programa de formação de jovens jogadores bem definido e ainda melhorar as suas infraestruturas. Os clubes "serão encorajados a mudar o relvado sintético para natural e/ou híbrido".
Os emblemas holandesas também concordaram em ajudar, a nível de calendário, os clubes envolvidos nas provas da UEFA, adiando, sempre que possível, os jogos, de modo a permitir aos emblemas que participam na Champions e Liga Europa uma melhor preparação.
E se a medida holandesa fosse replicada em Portugal?
O SAPO Desporto fez as contas, de acordo com os valores arrecadados pelos clubes portugueses esta época na UEFA: FC Porto, Benfica e Sporting. Nestas contas não entram os montantes que dizem respeito a bilheteira nem o dinheiro que cada clube irá receber pela distribuição dos direitos televisivos da Liga dos Campeões e Liga Europa.
Os 'dragões' arrecadaram 78,44 milhões de euros na Champions (15,23 ME pela presença na prova, 28,81 ME pelo ‘ranking’ da UEFA nos últimos 10 anos, 14,4 ME pelas vitórias e empates na fase de grupos, 9,5 ME pela passagem aos oitavos’ e 10,5 ME pelos 'quartos').
Os 'encarnados' ganharam 49,23 ME na prova milionária (15,23 ME pela presença, mais 27,7 pelo oitavo posto no ‘ranking’ da UEFA dos últimos 10 anos, e 6,3 pelos resultados obtidos na fase de grupos) e cinco milhões na Liga Europa, fruto de três vitórias (570 mil euros cada) e um empate (190 mil euros) e ainda 500 mil euros pela presença nos 16-avos-de-final, 1,1 milhões pela presença nos 'oitavos' e 1,5 milhões por estar nos 'quartos').
Já o Sporting amealhou seis milhões na Liga Europa (2,2 pelas quatro vitórias, mais 190 mil euros pelos empates com Arsenal Villarreal, 500 mil euros pela presença nos 16-avos-de-final, a que se juntam os 2,92 milhões por ter estado na fase de grupos da prova).
Assim, o FC Porto cederia cinco por cento dos 58, 45 milhões de euros na fase de grupos, ou seja, algo como de 2,9 milhões de euros, a que se juntam os 3,75 por cento dos 20 milhões ganhos nas fases seguintes, qualquer coisa como 750 mil euros. No total, o FC Porto iria contribuir com 3,65 milhões de euros.
Já o Benfica iria ajudar com 2,64 milhões de euros: 2,46 milhões seriam os cinco por cento dos 49,23 ME da Liga dos Campeões e 187 mil euros seriam os 3,75 por cento dos cinco milhões ganhos na Liga Europa.
O Sporting contribuiria com 294 mil euros, sendo que 269 são os cinco por cento da fase de grupos da Liga Europa e os restantes 25 mil euros são os 3,75 por cento do arrecadado nos oitavos-de-final da prova (onde foi eliminado pelo Villarreal).
Ao todo, os 'três grandes' iriam distribuir 6,59 milhões de euros aos restantes 15 emblemas da Primeira Liga e aos 16 da Segunda Liga.
Assim, seguindo o modelo holandês, 85 por cento dessa verba seria distribuído para os 15 emblemas da Primeira Liga. Ou seja, 5,6 milhões, o que daria 373 mil euros a cada clube da Primeira Liga, se a distribuição fosse igual para todos. Os restantes 990 mil euros seriam destinados aos 16 clubes da Segunda Liga (excluindo aqui as equipas secundárias de Benfica e FC Porto) e cada um arrecadaria 61 mil euros.
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