Rui Vitória foi o convidado da sessão de encerramento do Fórum de Treinadores de futebol/futsal, que decorreu em Braga, onde falou da sua experiência como técnico no painel “Os caminhos para chegar a campeão nacional”.
O treinador do Benfica abordou a questão do tempo útil de jogo na Liga portuguesa, afirmando que é necessário “um esforço para melhorar o nosso futebol.”
“Temos de caprichar. Somos a liga com menos tempo útil de jogo das principais ligas europeias. Este ano, em termos genéricos, temos 49 minutos e tal de tempo útil. Na Champions, a média é de 60 minutos. São quase mais 12' de tempo útil, que dá mais 20 minutos de tempo total de jogo. Uma das formas de competir lá fora é isto tudo aumentar. Somos a liga que tem mais tempo o jogo parado. Tem de haver o esforço a toda a gente, pensarmos todos nisto, porque se não vamos sentir cada vez mais dificuldades a nível externo”, afirmou o técnico dos encarnados.
A importância das subidas de divisão e luta pela permanência
O treinador dos encarnados salientou ainda que as subidas de divisão em escalões inferiores são trabalhos mais importantes do que os títulos de campeão
“Às vezes temos trabalhos muito mais valiosos do que o título de campeão. Há permanência, subidas em escalões inferiores que são trabalhos extremamente importantes, mais até do que ser campeão com grandes jogadores em grandes clubes”, referiu Rui Vitória.
O técnico abordou ainda as dificuldades que cada treinador enfrenta durante a carreira: “Todos nós temos boas ideias, mas o mais difícil é por a funcionar e passar à prática. Estamos dependentes do contexto, dos jogadores, da ideia de jogo. A minha ideia de jogo foi influenciada por muitos treinadores que eu apanhei. Sou fruto daquilo que foram os meus treinadores e dou por mim a fazer muitas coisas que os meus treinadores faziam.”
Questionado sobre onde se vê dentro de cinco anos, Rui Vitória optou por não estabelecer quaisquer objetivos.
“Não consigo pôr a fasquia neste patamar. Há cinco anos não tinha o objetivo de chegar ao Benfica ou ali. Tenho uma paixão enorme pelo treino, por liderar jogadores. Não precisamos de estar a apregoar a ambição de estar aqui ou ali. Vivo muito o dia-a-dia, não estou nada preocupado com o que se vai passar daqui a cinco anos”, afirmou o treinador do Benfica.
“Todos os anos mudamos um bocadinho, acrescentamos qualquer coisa. Tenho que estar sempre pró-ativo. Quando trabalhei nos clubes mais pequenos, fiz folhas de convocatórias, planos de viagens, vídeos… Já passei por essa fase toda. A este nível temos quem faça e podemos ter a tendência de que já não precisamos de ligar a isto. Tenho essa preocupação de estar sempre em cima dos acontecimentos. Podemos ter alguma tendência, não diria relaxar”, acrescentou.
Confiança é a chave do sucesso
Rui Vitória salientou ainda a importância da confiança num jogador para que este alcance o sucesso.
“Um jogador com confiança é meio caminho andado e coerência, apesar de nunca conseguirmos ser justos para toda a gente. São determinantes. Dizer algo que passados alguns dias vai acontecer, defender determinada posição. Os jogadores gostam disso. Todos nos temos uma família, os jogadores não são máquinas, por mais dinheiro que ganhem. Têm filhos, mulheres, pais. Ser o mais possível ser humano, conhecer a personalidade de cada um. Ter o maior conhecimento possível para saber como podemos intervir naquele jogador. O jogador sentindo-se bem de cabeça o resto é mais fácil”, disse o treinador do Benfica.
Vitória referiu ainda que cada jogador deve o máximo durante os treinos: “Os jogadores têm de sentir prazer do que estão a fazer. Saber até onde vai a arte e onde vai o trabalho. Temos de criar condições para nesta parte da arte esteja presente nos momentos do treino. A preocupação é o bem-estar no treino, de agradar no treino. Ter também noção disto: isto agora é só arte e no treino vamos dar bola. Não, o jogador tem de sentir a dureza do treino. Sem sofrimento ninguém ganha. Jogador também tem de gostar de suar. Sessões curtas, intensas, baliza quando entra já não sai.”
Rui Vitória que é conhecido por apostar muito em jogadores jovens - já lançou vários atletas no Benfica - falou ainda do que é fundamental para que um jovem consiga chegar ao topo.
"Para se ser um jogador de primeira linha não é preciso ser um super homem em miúdo. Tem que haver qualidade, como é evidente. Ninguém pode fazer de uma vassoura um jogador. Não tenho qualquer problema em acreditar, não é lançar, é em acreditar. Independentemente de ser treinador e trabalhar num clube da dimensão do Benfica, qualquer treinador deve ter uma margem para incluir um miúdo. Abrir espaço para que estes jogadores possam aparecer. Quase sem dar se por isso. O mais importante é a abertura da porta, os jogadores sentirem que lá em cima há um espaço para eles, depois têm que dar à perna", salientou o treinador do Benfica.
"Os jogadores estão a aparecer cada vez melhores preparadores. Dantes via mais atrevimento, mais malandrice, hoje interessam-se menos pelo futebol, é mais comando na mão. Vê menos futebol, nós jogávamos na rua. Hoje o jovem já não tem esse conhecimento. Falta-lhes aquela malandrice, que um jovem tem que ter", acrescentou.
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