A conferência servia para antever o jogo desta sexta-feira, às 20h45, com o Chaves. De facto, falou-se do adversário transmontano, mas pouco. A poucos dias do mercado, Sérgio Conceição queria evitar o tema, mas acabou por não conseguir fugir dele.

Falou do mercado, com Taremi, Veron e David Carmo no olho do furacão, mas também houve tempo para uma espécie de aula sobre o estado do futebol, nomeadamente acerca do equilíbrio da liga e da quantidade de empresários que rodeiam o jogador. Muita informação? Ora espreite.

Jogo com o Chaves: "Bons números será 1-0, já ficaria feliz com a vitória, porque é o mais importante. Mas queremos associar coisas que não temos feito. Não é por receber o Chaves, mas porque faz parte do trabalho diário, evoluir o jogador nas suas tarefas e com isso a equipa ganha e fica mais forte. Fico sempre desconfiado com as equipas em dificuldades. Lembro-me de receber o Farense e o Estoril em dificuldades e volto a dizer em relação ao Chaves, que é uma equipa muito bem apetrechada, que noutras épocas conseguiu quase um Chaves europeu. Não acredito em maus momentos. Cada jogo tem a sua vida e vamos ter um jogo difícil. Queremos acabar este ano com um vitória para a nossa caminhada, que é o campeonato."

Ausência de Taremi (Taça Asiática): "Nem tudo foi bom, mas há muita coisa positiva. É para isso que olho. Para um Taremi que é importante na equipa e para uma ausência que vamos ter que ter, a dele e a do Zaidu. Cabe-me encontrar soluções, nuances, variações. Já as trabalhámos e fazemos, mas depende da estratégia para o jogo. Amanhã contra o Chaves poderão encontrar algo diferente já, faz parte do nosso trabalho. Vamos ficar sem dois jogadores que têm tido muitos minutos este ano."

Mercado de janeiro: "O meu sentimento é de que quando se mexe é pior. O mercado de janeiro devia servir para as equipa realizarem ajustes, por causa de lesões como as do Marcano, que acontecem no futebol. Entrarem quatro ou saírem quatro... Ou são jogadores de qualidade inequívoca, em que não existam dúvidas para entrar de cara, ou o tempo de adaptação vai coincidir com as férias. Uns conseguem-na mais rápido, mas não temos arcaboiço para ir buscar as grandes estrelas, mais vale confiar no grupo de trabalho que tenho. Depois, poderá haver um ou outro ajuste. Vamos entrar um período que está aberto por demasiado tempo. Os ajustes que poderão existir é uma conversa que tenho com o presidente para depois definirmos o que é melhor para o FC Porto."

Saídas ao longo dos anos e a falta de 'superstars': "Ano após ano, dia após dia, há um recomeçar constante. Lesões, uma ou outra saída... Não estou a lamentar a saída de jogadores. Otávio, Uribe eram jogadores experientes, Pepe é experiente, Marcano também mas está fora... Têm ou tinham um peso grande. Vamos dando coisas diferentes à equipa, mas começa-se uma época e depois até nos particulares que fazemos há logo aquela exigência dos adeptos, da comunicação social. Não temos 'superstars', temos atletas que se dedicam muito à causa, que encaixam nos pilares que o presidente defende, e é isto. Não temos a varinha mágica, mas tentamos com muito trabalho e dedicação lutar pelos objetivos todos os anos."

Empréstimo de Veron: "É um jogador de qualidade, por isso é que o FC Porto o contratou. Mas não fez, nesses 26 jogos, um jogo completo. Esteve sistematicamente lesionado. Temos um departamento médico, preparadores físicos, que trabalham muito bem a recuperação dos jogadores, e depois também lhes cabe a eles. Controlamos o jogador duas ou três horas, mas depois há um treino invisível, têm de se tratar mais, têm de ser mais profissionais. A nossa concentração é às 9h15, às 7h50 tenho jogadores a chegar aqui. Cada vez o futebol é mais rápido, mais intenso, há mais jogos por época. Por uma razão ou outra, o Veron teve a infelicidade de se magoar muitas vezes. Quando recuperava, magoava-se depois de um treino com mais intensidade, um jogo de 5 ou 10 minutos magoava-se. Cabe a ele, com este novo passo na carreira, preparar-se bem e justificar toda a qualidade e o investimento que o FC Porto fez nele."

Excesso de empresários: "Lembro-me de que, há uns anos, existia o senhor Manuel Barbosa como empresário. Hoje em dia, um jogador tem cinco. O principal, o que trabalha a imagem, a comunicação... Não tenho nada contra isso, até porque joguei fora durante muitos anos e muitas vezes o meu empresário não me via durante anos. Acho que empresários fazem bem ao futebol para aquilo que é o bem do jogador, encontram soluções. Mas que também traz coisas negativas traz. É muito difícil eu, treinador, controlar ou bloquear determinadas situações dentro do Olival. As pessoas falam com muita gente. As pessoas que trabalham, os jogadores, os diferentes departamentos. É o que acontece hoje. Vamos juntar também isto ao que disse há bocado e tudo isto faz com que o futebol seja diferente."

O futebol moderno e o equilíbrio: "Sou de uma equipa do FC Porto em que a base era toda da formação. Hoje em dia, os jogadores bons, os menos bons, os mais ou menos, é muito mais fácil. É muito mais fácil um jogador de Rio Ave, Famalicão ou Arouca estar no FC Porto do que antigamente. É muito difícil guardar os melhores durante três ou quatro anos. Se conseguíssemos, estaríamos a ombrear com os grandes tubarões da Europa. Assim é muito mais difícil. Hoje em dia um miúdo chegar à primeira equipa é fácil. Eu andei três anos emprestado na 2.ª divisão, e disseram-me que só vinha fazer pré-época."

Aniversário de Pinto da Costa: "Desejo muita saúde e muitas felicidade, não só desportivas como pessoais. É admirável uma pessoa que, com tantos títulos ganhos, pensa no próximo como se fosse o primeiro, isso por si só fala da sua personalidade. Tem sido, ao longo dos anos, um incrível trajeto de conquistar sempre baseado nos quatro pilares que salienta tanto, rigor, competência, ambição e paixão. Com ele isso é inegociável. Espero que tenha um dia muito feliz."

Questionado sobre se David Carmo poderia voltar a jogar na equipa principal, Sérgio Conceição respondeu de forma concisa: "Está a treinar e poderá competir". O técnico portista acredita que a luta pelo campeonato será feita a quatro até ao fim, com FC Porto, Benfica, Sporting e SC Braga a ombrearem entre si pelo mesmo objetivo.