Ao fim de 30 anos na presidência do FC Porto, Pinto da Costa engrossou o rol de conquistas do clube, colocando-o, sobretudo o seu futebol, num patamar de gestão desportiva tida por exemplar.

O foco da direção do clube esteve apontado, na última das três décadas, para uma reestruturação de género empresarial, fazendo hoje sentido falar-se em “Grupo FC Porto”, tal a forma como as funcionalidades transversais se tornaram relevantes nos objetivos de todos os sectores do clube, da SAD do futebol às modalidades.

No capítulo desportivo, além de tornar o FC Porto o clube português com mais títulos, ultrapassou o recorde do espanhol Santiago Bernabéu, mítico presidente do Real Madrid, que venceu 16 campeonatos nacionais em 35 anos de regência, menos dois que os conquistados de Pinto da Costa em menos cinco anos.

Não se pode, no entanto, dizer que o alinhar do modelo empresarial do FC Porto, mais moderno e adaptado às novas realidades da gestão desportiva, seja o último trabalho de um homem que muito cedo se encantou com o emblema “azul e branco”.

Eleito pela primeira vez a 17 de Abril de 1982 e efetivamente mandatado nove dias depois, Jorge Nuno Pinto da Costa, de 74 anos, cedo começou a interessar-se pelo clube, até se tornar no seu 33.º presidente.

Com o mandato mais longo do futebol português e recheado de êxitos, Pinto da Costa, que só uma vez teve um adversário em atos eleitorais (Martins Soares), é o principal mentor da elevação internacional do clube, conseguindo rapidamente fazer esquecer o histórico Américo de Sá, líder durante a década anterior.

Divorciado e pai de dois filhos (Alexandre e Joana), Pinto da Costa não conseguiu, à custa da sua exposição pública, manter a sua vida pessoal longe dos media, sobretudo da “imprensa cor de rosa”, que apontou “objetivas” aos seus relacionamento pessoais e amorosos.

Um foi mesmo motivo de polémicas à custa de uma edição em livro, que conta, na primeira pessoa, a versão da ex-companheira Carolina Salgado (“Eu Carolina”), e cujo conteúdo motivou uma investigação judicial por alegada falta de transparência no futebol e alegados contactos promíscuos com árbitros e outros dirigentes.

Saiu incólume dos vários processos da Justiça civil em que se viu envolvido, de 2004 a 2006, entre os quais o muito mediático “Apito Dourado”.
Hábil nas relações com os outros “grandes” e eficaz gestor no (e do) palco mediático, o atual presidente portista semeou ódios e amores durante três décadas, e comprou e vendeu “guerras”. Ganhou quase sempre.

A Pinto da Costa se deve a criação do troféu “Dragões de Ouro”, que consagra desportistas e personalidades ligadas ao FC Porto, e o empenho na implantação das Lojas Azuis e da Revista “Dragões”.

Em pleno momento de viragem no paradigma do “negócio” futebol, a 5 de Agosto de 1997, o clube torna-se o principal acionista da sociedade desportiva “FC Porto, Futebol SAD”, passo fundamental para os novos trilhos de gestão financeira e económica.

Pelo caminho, inaugurou várias “casas” do clube em Portugal e no estrangeiro, e publicou em 2005 a sua autobiografia, com prefácio de Lennart Johansson, na altura presidente da UEFA.

O título, “Largos dias têm cem anos”, recorda a expressão utilizada em 1976 numa conversa entre amigos e que o lançou para o mandato mais longo da história do futebol português.