Ainda não é oficial, mas já nada impede a oficialização de Sérgio Conceição como sucessor de Nuno Espírito Santo. Aos 42 anos, o técnico português chega ao FC Porto, clube que representou também como jogador, para tentar resgatar os ‘dragões’ de uma travessia no deserto que já dura há quatro anos.

Da sua ainda curta carreira como treinador – inicada em janeiro 2012 quando substituiu Daúto Faquirá no Olhanense – constam ainda passagens por Académica, SC Braga e Vitória de Guimarães, em Portugal, e Nantes, em França, clube com o qual rescindiu para poder regressar à Invicta.

Foi na Briosa que Rafael Lopes travou conhecimento com Sérgio Conceição, que o orientou durante a segunda metade da época 2013/2014. Na altura, o avançado apanhava o comboio a meio, juntando-se a uma equipa com rotinas adquiridas. O técnico, no entanto, sempre procurou incentivar ao máximo o jogador.

“Sempre fui muito bem tratado por ele. Claro que no primeiro dia de trabalho há sempre aquela adaptação, não conhecia ninguém... Mas ele tem essa capacidade de pôr os jogadores à vontade, é a maneira de ser dele. O facto de ele ter sido jogador também ajuda”, conta Rafael Lopes, em entrevista ao SAPO Desporto.

Sendo o balneário um dos espaços mais sagrados para o técnico, Conceição sempre atribuiu bastante importância ao jogador e às dinâmicas de grupo, não se esquivando de ajudar nas questões pessoais que possam preocupar os atletas e condicionar o seu rendimento.

“Houve uma fase em que tive golos anulados em dois ou três jogos e andava um bocadinho em baixo por causa disso. Ele disse-me assim: ‘Ó Rafa, se tu continuares a trabalhar da maneira que trabalhas e a dar tudo em campo como tens feito, comigo vais jogar sempre’. Nunca mais me esqueci disso. Ele quer que os jogadores dêem sempre tudo em campo”, partilhou.

Os convívios de grupo também eram uma prática comum na Académica, tudo com o objetivo de ajudar o plantel a descomprimir da pressão dos jogos. “Ele tem por hábito fazer isso. Acho que é positivo porque estamos ali durante a semana sempre a treinar, e de vez em quando sabe bem descomprimir e fazer um almoço de equipa ou algumas coisas pós-treino a meio da semana para relaxar”, considerou o avançado.

“Cada treinador tem os seus métodos e ele tem os métodos dele, é por isso que teve o sucesso que teve. É um treinador que incute muita luta, muita raça e muito querer nos seus jogadores. Além disso, como foi jogador, sabe como é importante que o balneário esteja bem e que esteja unido para depois render em campo. Talvez seja por isso que as pessoas dizem que ele é um treinador diferente, mas também é por isso que chegou onde chegou”, observou.

Tudo para dar certo no Dragão

Sérgio Conceição tem sido apontado por muitos como uma aposta de risco. Por um lado, há um ‘dragão’ sedento de títulos, por outro a necessidade de travar a corrida de um Benfica embalado para o ‘penta’. Rafael Lopes, contudo, não partilha dessa opinião.

“Acho que tem tudo para dar certo. O FC Porto precisa de mística, de cerrar os dentes e lutar, mesmo que para isso tenha de deixar de jogar ‘bonito’, e acho que o Sérgio Conceição vai incutir tudo isso na equipa. Vai ser um FC Porto com garra, com raça, e com vontade de vencer, não tenho dúvidas. Acho que foi precisamente isso que faltou ao clube nestas últimas épocas, em que ficou sem títulos. Tenho a certeza de que o Sérgio vai conquistar títulos e que o FC Porto fez a escolha certa”, defende o avançado do Chaves.

Há ainda o lado temperamental do futuro treinador dos ‘dragões’, que o acompanha desde os tempos de jogador. O antigo pupilo, no entanto, considera que Sérgio Conceição está mais contido desde a passagem pela Briosa, mas que também não deve perder a identidade.

“Sei que o Sérgio vive muito o jogo e que tem aquelas emoções todas à flor da pele, mas acho que ele melhorou bastante desde os tempos da Académica, em que era muitas vezes expulso do banco. Ainda agora esteve em França e conseguiu ter o sucesso que teve. Nota-se que está a melhorar nesse aspecto. Também não acho que seja bom ele perder esse lado na totalidade e ficar ‘calminho’, acho que tem de continuar da maneira que está”, defendeu.

Rafael Lopes também não tem dúvidas que o antigo treinador vai estar atento às jovens promessas dos ‘dragões’ e que vai atacar o regresso aos títulos com um plantel competitivo, que é como quem diz, ‘à Porto’.

“Se houver algum jogador dos juniores, por exemplo, que ele perceba que tem qualidade e que pode acrescentar algo à equipa, não tenho dúvidas de que vai apostar nele. Ele é assim mesmo. Não sei como é que ele irá fazer a gestão do plantel, mas com a estrutura do FC Porto e sendo o Sérgio o bom treinador que é, acho que vão montar uma equipa muito competitiva”, rematou.

Futuro ainda por definir

Com 35 jogos cumpridos e cinco golos apontados esta temporada, Rafael Lopes faz um balanço positivo da época de estreia no Chaves, marcada também por uma ‘dança’ de treinadores.

“Foi uma grande época para o Chaves. Era importante cimentar o clube na Primeira Liga e ganhar aquele estatuto de equipa do primeiro escalão e conseguimos isso. A nível individual, fiz boas exibições, consegui fazer alguns golos a ajudar a equipa, que era o principal objetivo. Claro que podia ser melhor, uma pessoa quer sempre mais. Agora é esperar e ver o que é que irá acontecer para a próxima época”, começou por dizer o avançado.

Recorde-se que em dezembro do ano passado, Jorge Simão deixou o comando técnico dos flavienses para orientar o SC Braga. Ricardo Soares, que na altura treinava o Vizela, foi o sucessor.

“Foi uma situação diferente, porque estávamos habituados à mudança de treinador pelo insucesso e neste caso foi uma mudança pelo sucesso. E aconteceu assim tudo muito de repente. Eram dois treinadores de estilos completamente diferentes, mas acabou por ser positivo. O Ricardo Soares fez um belíssimo trabalho e só veio acrescentar ao trabalho que o Jorge Simão vinha a fazer até à sua chegada. Ajudou-nos imenso a crescer”, observou.

Com a ida de Ricardo Soares para o Aves, clube que garantiu recentemente a subida ao primeiro escalão do futebol português, o mesmo destino tem vindo a ser apontado a Rafael Lopes. O atacante confirma o interesse do emblema de Santo Tirso, mas revela que ainda está a analisar várias possibilidades, nomeadamente além-fronteiras.

“Fala-se no Aves até porque o diretor desportivo deles esteve no Chaves, eles já me conhecem, já sabem o que podem esperar de mim e do meu trabalho. Há interesse da parte deles, mas ainda não está nada definido, porque ainda estou a avaliar todas as possibilidades, algumas de Portugal, outras do estrangeiro... Nas próximas semanas já devo ter alguma coisa decidida”, finalizou.