Uma testemunha de acusação no julgamento, em que é acusado Vale e Azevedo de peculato ao Benfica, confirmou esta terça-feira, em tribunal, que organizou a conta-corrente do então presidente do clube, sem saber se os movimentos financeiros eram do Benfica.

Na nona sessão do julgamento, a decorrer na 3.ª Vara Criminal de Lisboa, o economista António Catalão disse que Vale e Azevedo, presidente do Benfica de 1997 a 2000, lhe pediu para elaborar a conta-corrente, mas sem que fosse confrontado com «os documentos de suporte».

«A única coisa que ele me disse foi que tinha aqueles ficheiros desorganizados e que os queria organizar de um modo mais sistematizado. Não faço ideia qual era o objetivo de Vale e Azevedo. A preocupação não era certificar-me se os débitos eram ou não do Benfica», referiu António Catalão.

Quando interrogado pelo advogado do Benfica, José António Marchueta, a testemunha lembrou que «alguns movimentos não tinham descrição», mas que Vale e Azevedo lhe tinha dito «que eram todos relacionados» com o clube, devido às contas bancárias terem sido congeladas durante algum tempo.

Vale e Azevedo é acusado de se ter apropriado de mais de quatro milhões de euros de transferências de futebolistas do Benfica, de branqueamento de capitais, abuso de poder e falsificação de documento.

O antigo presidente do Benfica tem estado ausente das sessões, uma vez que não pode ser julgado em processo anterior à extradição para Portugal, ocorrida a 12 de novembro.

A aguardar liberdade condicional no Estabelecimento Prisional da Carregueira (Sintra), Vale e Azevedo pediu a escusa do presidente do coletivo de juízes, José Manuel Barata, em requerimento enviado ao Tribunal da Relação.

O julgamento prossegue na manhã de 12 de março, com a inquirição Vasco Pinto Leite e de Ribeiro e Castro, ex-dirigentes do Benfica, podendo serem ouvidas também as testemunhas Botelho da Costa, vice-presidente da direção de Vale e Azevedo, e António Leitão, caso sejam notificados.

A viver em Moçambique, António Leitão, diretor financeiro do Benfica no consulado de Vale e Azevedo, era para ser inquirido hoje como testemunha, mas não foi possível a notificação.