Desengane-se quem achar que o novo Sporting, agora comandado por Jorge Jesus, está pronto e à imagem do seu treinador. Sendo clara a maior intensidade de jogo que os 'leões' imprimem, e que já haviam demonstrado na Supertaça, há ainda trabalho pela frente em Alvalade. No arranque da Liga, Sporting foi superior ao Tondela, como era sua obrigação, mas viu-se obrigado a arrancar um triunfo 'a ferros' diante de uma equipa com argumentos completamente diferentes.
Faltou, em particular, capacidade de reação ao estranho golo do Tondela, que gelou o leão como um balde de água fria. Até então, o Sporting estava confortável no encontro, com uma vantagem de um golo que parecia poder ser dilatada em qualquer altura, mais oportunidade menos oportunidade. Mas as oportunidades foram passando, os avançados foram desperdiçando - Slimani esteve algo perdulário na finalização - e a equipa de Vítor Paneira conseguiu a igualdade num lance que deixa dúvidas, devido ao toque com o braço de Luís Alberto e ao posicionamento do mesmo jogador, mas que Carlos Xistra decidiu validar.
Sendo ou não de forma concludente, o Tondela fazia história com o seu primeiro golo na Primeira Liga: mais um momento de festa para um clube que há dez anos disputava as distritais e agora bate-se com os gigantes do futebol português. E o Sporting não estava à espera dessa festa. Perdeu clarividência, falhou mais nos passes, acusou a pressão até ao último suspiro. Esse suspiro, porém, promete também discussão nos próximos dias. Em cima do final do 94º minuto - Xistra deu 5 minutos de compensação - João Pereira beneficiou de um lançamento de linha lateral. Talvez impelido pelo desejo de chegar ao golo fugidio, lançou a bola em posição aparentemente irregular, lance esse que resultou numa grande penalidade em jeito de oportunidade de golo de ouro. Adrien Silva, o capitão, assumiu a responsabilidade e bateu Matt Jones para conquistar três pontos suados.
Vítor Paneira, que se estreou em jogos oficiais como treinador do Tondela, apontou o dedo à arbitragem de Xistra em alusão ao lançamento de João Pereira. "Tenho pena que aos 90'+4 ou 90'+5 minutos um lançamento lateral seja efetuado três metros dentro do campo que depois resulta em penálti", disse o técnico, que defendeu que a sua equipa foi "prejudicada por esse lance". Apesar da derrota, Paneira fez questão de elogiar os seus jogadores que, segundo ele, fizeram "uma segunda parte extraordinária", sem permitirem oportunidades ao Sporting, "um candidato ao título".
Do outro lado estava Jorge Jesus, que também teve direito a estreia: foi o seu primeiro jogo no campeonato ao serviço do Sporting, depois da polémica mudança da Luz para Alvalade. E na conferência de imprensa do técnico houve tempo para muito: para analisar o encontro - Jesus salientou o domínio do Sporting -, para elogiar os adeptos e Gelson Fernandes e para falar sobre a polémica das SMS. Ao contrário do que aconteceu na antevisão do encontro, Jesus negou categoricamente que tenha enviado mensagens desestabilizadoras aos seus antigos jogadores em vésperas de Supertaça e deixou um desafio: "Se essas mensagens existem, mostrem-nas!".
Voltando ao relvado do Municipal de Aveiro: o resultado não andou longe do esperado, com o Sporting a conquistar três pontos diante daquele que, na teoria apenas, seria um dos adversários mais modestos da temporada. Mas atenção a este Tondela, que chega ao primeiro escalão com vontade de provar que esta ascensão meteórica não foi um acaso.
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