Vasco Pinto Leite, presidente do conselho fiscal do Benfica de novembro de 1997 a maio de 1988, afirmou hoje em tribunal que Vale e Azevedo proibiu o acesso à contabilidade do Benfica a elementos daquele órgão.
Na qualidade de testemunha no processo em que Vale e Azevedo é indiciado de peculato de mais de quatro milhões de euros do Benfica, Pinto Leite lembrou que Manuel Botto, elemento do conselho fiscal e revisor oficial de contas, «pediu na contabilidade documentos contabílisticos para ver e foi-lhe negado».
«Botto quis aceder a documentos e Vale e Azevedo deu ordem direta à contabilidade, creio que por escrito, para não mostrar», referiu Pinto Leite, acrescentando que «o conselho fiscal foi impedido de fiscalizar».
Pinto Leite, que se demitiu seis meses depois de eleito, recordou que a solução de três elementos dos órgãos sociais em abrir uma conta bancária, por causa do congelamento das contas do Benfica, de 24 de abril a 13 de junho de 1998, «não foi aceite» porque «Vale e Azevedo decidiu utilizar duas contas» da sua empresa de advogados.
«Havia necessidade de encontrar uma solução. Era impossível o Benfica ficar sem poder movimentar contas bancárias. E houve pressão de Vale e Azevedo para utilizar contas dele. Foi posto de uma forma de cenário apocalítico: ou isto ou o caos», sublinhou Pinto Leite.
O presidente do conselho fiscal do Benfica nos primeiros seis meses de mandato de Vale e Azevedo, que terminou em finais de 2000, observou que «todos os movimentos - receitas de bilheteira e vendas de jogadores - passavam por essas contas».
Também José Ribeiro e Castro, eleito vice-presidente na direção de Vale e Azevedo, recordou a paralisação das contas bancárias do Benfica devido «à execução de duas livranças».
«Era um completo regabofe nos dinheiros da gestão do Benfica. Um absoluto escândalo, com movimentos completamente abusivos de dinheiro do Benfica, que, obviamente, proporcionava a apropriação», afirmou, acusando o antigo presidente do Benfica de «fazer manipulação emocional» e de «condicionar» os elementos dos órgãos sociais.
Ribeiro e Castro reconheceu que o clube vivia «uma situação muito díficil» a nível financeiro, mas, referindo-se a Vale e Azevedo, salientou que a gestão presidencialista «era a história do bombeiro-pirómano».
Para o deputado, «começou a haver atritos por causa da forma como Vale e Azevedo tomava decisões», numa altura em que «o passivo do clube era de três milhões de contos» e se preparava a adesão ao Totonegócio, para pagamento faseado das dívidas fiscais, que «o presidente não aceitou».
No julgamento Vale e Azevedo é acusado de apropriar-se de verbas resultantes de transferêncais dos futebolistas Scott Minto, El Klalej, Gary Charles.
Vale e Azevedo, a aguardar no Estabelecimento Prisional da Carregueira (Sintra) a decisão sobre liberdade condicional, é acusado também de abuso de poder, branqueamento de capitais e falsificação de documento.
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