Em Novembro, o presidente da Câmara de Matosinhos Guilherme Pinto (PS) anunciou a intenção do executivo de municipalizar os dois estádios penhorados por dívidas fiscais.

Só o estádio do Leixões, penhorado pelas Finanças por uma dívida total de 209.700 euros de IRC e de IRS, foi colocado à venda em hasta pública por 3,02 milhões de euros, enquanto o Leça deve mais de cinco milhões de euros às Finanças, à Segurança Social e a outros credores. O principal é o BPN, que detém a penhora do estádio.

“Há fome em Matosinhos e esta decisão é uma afronta a quem vive mal, aos desempregados, e um insulto aos novos pobres. Isto não cabe na cabeça de ninguém. É imoral e chocante”, considerou Narciso Miranda.

Apesar de deter apenas uma maioria relativa na Câmara de Matosinhos, bastará ao PS o voto do social-democrata Guilherme Aguiar, actual vereador do Desporto e administrador da empresa municipal Matosinhos Sport, para que a decisão da municipalização dos dois estádios seja aprovada.

Narciso Miranda exige que a ideia seja debatida por toda a vereação.

“Está criada a ideia de que há uma decisão, de que há debate, mas isso é rigorosamente mentira. Ainda não se perdeu um segundo a discutir este assunto”, criticou, lembrando que o movimento “Matosinhos sempre” representa 33 por cento do eleitorado, com quatro vereadores em 11 vereadores.

Narciso Miranda fala de uma “questão com dimensão nacional” e lançou o desafio a José Sócrates e Pedro Passos Coelho, para que se manifestem a propósito desta decisão, que garante resultar de “interesses e promiscuidades”.

“A compra dos estádios não obedece a nenhuma estratégia, não resulta de nenhuma política de desporto, apenas a uma decisão avulsa sustentada em interesses e promiscuidade nas relações entre política, futebol, construção civil e relações familiares”, sustentou.

O vereador matosinhense alertou ainda para o facto de o “crime compensar” e de se “privilegiar quem não é sério, quem contraiu dívidas e quem praticou gestão danosa”.

Ao argumento da autarquia que suporta a sua decisão na intenção de não deixar cair os estádios nas mãos de terceiros, Narciso Miranda questiona.

“Pergunto: Quem nos últimos 50 anos comprou um estádio de futebol? Refugiam-se na ideia de que os estádios podem cair em outras mãos e estão a passar um atestado de menoridade à inteligência dos matosinhenses. Ninguém compra um estádio de futebol”, frisou.

O líder do movimento “Matosinhos sempre” equacionou ainda viabilidade da compra dos dois estádios numa altura de crise e em que a situação das contas da autarquia não é a mais favorável.

“A ir para a frente esta ideia, não sei como farão isso, porque a Câmara está em pré-falência técnica e o concelho de Matosinhos está na gestão negra das autarquias”, concluiu.