No futebol são onze contra onze e no final ganham onze. Nunca um. Messi podia ter feito um "póquer" contra nenhum golo português e a vitória seria da Argentina. Ronaldo podia ter atirado um "míssil" do meio-campo para dar a vitória e esta seria portuguesa. Nunca de Messi, nunca de Ronaldo. Nem sequer apenas de Guerreiro, herói por um dia.

Naturalmente que, estando os dois melhores do Mundo em campo num estádio como Old Trafford, seria difícil olhar para outro lado, mas se o fizéssemos veríamos, no banco de suplentes português, um "miúdo" do pequeno Lorient que dificilmente se esquecerá desta noite. Era um jogo "a feijões", como se diz na boa gíria futebolística, mas quem imaginará a sensação de, aos 90+1 minutos de jogo, marcar um golo que dá à sua seleção uma vitória sobre a vice-campeã mundial Argentina? No mínimo estão já garantidos mais de 15 minutos de fama.

Era "a feijões", não valia nada, era para testes (e para um belo encaixe financeiro). Sim, claro, mas os testes têm de se fazer (e os encaixes também). Fernando Santos aproveitou a ocasião para lançar um novo onze, com um sistema tático pouco usual na seleção. Moutinho apareceu pela esquerda do meio-campo, com Nani na direita e a dupla André Gomes-Tiago no meio-campo. Ronaldo e Danny ficaram na frente. Não funcionou, é verdade, e a Argentina tomou conta da partida na primeira meia-hora. Mas se havia altura para experimentar era esta, contra um adversário com uma lista quase interminável de jogadores talentosos e num duelo particular.

Di María e Messi, claramente a dupla mais perigosa do plantel argentino, ameaçaram uma e outra vez. O primeiro atirou ao lado, o segundo acertou mesmo no poste. Não entrou porque não calhou, mesmo tendo em conta a segurança transmitida por Beto, que ocupou o lugar que costuma ser de Rui Patrício.

Com uma fraca ligação entre o meio-campo e o ataque, dada a necessidade de Moutinho e Nani fazeram compensações defensivas nas alas, Ronaldo e Danny não conseguiam ameaçar. Com a mudança para o bem português 4-3-3, ainda a meio do primeiro tempo, lá surgiram ocasiões, embora poucas. Uma em particular, com Cristiano Ronaldo a receber na área para ensaiar um número de dança sobre Biglia no palco do Teatro dos Sonhos, antes de um remate pouco inspirado de pé esquerdo.

Pouco mais se veria dos dois melhores do Mundo, que acabariam por deixar a partida ao intervalo. Aquilo que para muitos foi uma surpresa, da parte de Tata Martino e Fernando Santos pareceu uma mensagem: viemos para jogar futebol, não para agradar aos adeptos que, depois de terem pago uma quantia mais do que considerável pelo bilhete, decidiram abandonar a partida a meio.

Não houve muito bom futebol, verdade seja dita. Houve um Gaitán em bom plano no segundo tempo, com dois cabeceamentos perigosos e uma oportunidade soberana após arrancada de Higuaín. Do lado português, houve a entrada das figuras da noite: Ricardo Quaresma e Raphaël Guerreiro. O primeiro foi, mais uma vez, essencial. O segundo, pelas razões óbvias, também.

Primeiro, o "Harry Potter" fez um grande passe rasteiro a oferecer o golo a Éder que, de forma atabalhoada (começa a ser demasiado frequente) não soube aproveitar. Não funcionou à primeira mas funcionou à segunda, já depois da marca dos 90', com um cruzamento certeiro para o cabeceamento que deu o único golo da noite. É verdade que ainda não houve muitos golos portugueses na era Fernando Santos, mas quase todos valeram vitórias e todos tiveram participação direta de Quaresma. Notável.

No geral, o jogo foi fraco. Para muitos não terá valido o preço do bilhete, mas não pelo escasso tempo de Ronaldo e Messi em campo. Valeu, no entanto, pela alegria do jovem Raphaël Guerreiro. É verdade que o miúdo não fala bem português, mas certamente que já conhecerá as palavras "muito orgulhoso".