Fernando Santos deu uma entrevista à Sport TV onde abordou o momento da Seleção Nacional de futebol e as opções para o Mundial2022 que está prestes a começar.

O técnico falou dos possíveis convocados para o Mundial2022, do possível regresso de Rafa e da chamada de António Silva, falou das situações de Cristiano Ronaldo e João Félix e ainda abordou as críticas à forma de jogar da Seleção.

Ainda dúvidas sobre os 26 eleitos? "São mais as certezas que as dúvidas, não seria natural haver muitas dúvidas. Mas há coisas como imprevisibilidade. Temos tido ocorrências inoportunas, que têm a ver com lesões. Ainda faltam três jogos até entrar em estágio, faltam dois até ao dia da convocatória. Os jogadores estão sujeitos a este novo conceito, está a refletir-se jogarem sempre domingo e quarta. Antes o desgaste era menor. Já temos Jota e Pedro Neto, que não poderão estar. Há outros casos a monitorizar quase ao minuto. O do Pepe e dois quase resolvidos, Danilo e Nuno Mendes. Vai ser tudo feito ao minuto e em cima do acontecimento para tomar as decisões certas. Esperamos não ter nenhuma surpresa desagradável."

Situação de Pepe: "Pepe é de grande importância na Seleção Nacional e estamos a seguir o caso com muita atenção. É o departamento clínico do FC Porto que está a avaliar dia a dia a situação do jogador e depois reporta à Seleção. É nesse ponto que estamos. Tenho todo o interesse em que todos estejam disponíveis, vamos tentar resolver esta questão."

Sem Pepe, António Silva pode ser chamado? "Não tem a ver com a ausência do Pepe, à partida iremos ter quatro centrais. Há três que estão mais perto e há sempre uma outra vaga. Visualizamos jogos, temos ido a muitos jogos para saber os jogadores que entendemos que deverão vir à Seleção e será sempre por mérito, não por ser do empresário A ou B ou do clube A ou B. Seria mau ir atrás de coisas politicamente corretas. Em 2016 diziam que a base era toda Sporting e é a verdade, eram os que naquela altura melhor correspondiam. Empresário nunca tive, por isso não tem nada a ver com isso, nunca isso me guiou."

O que Portugal pode fazer no Mundial2022? "As ambições são sempre as mesmas, desde há muitos anos, não só com Fernando Santos: é ir disputar as provas para vencer. Não pode depender deste ou aquele jogador. Não podemos acreditar que temos potencial e ficar desesperados se um jogador cai."

Rafa é dossiê fechado? "Dossiê fechado não existe, nunca existiu comigo. Sempre disse que comigo a Seleção estaria aberta a todos os jogadores. Havia casos como os do Tiago e Ricardo Carvalho, tinham enviado cartas a pedir recusa, depois houve conversa e resolveram ao contrário. Depois existe uma questão legal. O jogador solicita não ser convocado. Mas há a questão legal da obrigatoriedade se forem convocados. Se o telefone agora toca e o Rafa ou alguém me dizia que podia ter uma conversa comigo, eu pergunto a que horas. Conversa seguramente, depois eu comunicaria à Federação e ele teria que colocar a questão formalmente. Comigo ele vem desde 2016, tinha vindo em 2014 com Paulo Bento. Foi selecionado da última vez, como no Europeu de 2021 e depois disso. É um ciclo normal. Em outubro e novembro foi convocado, não fez parte por lesão."

Este Rafa hoje seria convocado? "As portas da seleção nunca se fecharam a ninguém. Se Rafa seria titular na Seleção? Este Rafa e o Rafa de sempre. Se o convoquei sempre… Em 2016, 2019, 2020, 2021, 2022... Tem a ver com o que os jogadores me dizem em campo. Eles no campo é que me dizem se querem jogar. Antes havia sempre potenciais jogadores a ser utilizados e havia três que ficavam de fora. Não é o caso agora, um pouco por culpa minha, do Deschamp, do Luís Enrique… dissemos que todos os 26 poderiam ser utilizados. Todos são potenciais titulares. E com cinco substituições a probabilidade é ainda maior. Não há hoje jogadores em que seja eles e mais dez."

Situação de Cristiano Ronaldo  no seu clube: "Não me meto no trabalho dos meus colegas.  Se me falasse há dois meses que Ronaldo não estava a ser utilizado com regularidade, era diferente, colocava-se a questão dos ritmos de jogo. Mas hoje, quando nos últimos jogos foi titular… Vamos esperar com calma. É um tema sobre o qual já não se ouve falar nem em Inglaterra. Falou com o treinador e jogou, não só na Liga Europa como no campeonato. Muitos vão ficar de fora… Todos acham que devem ser titulares absolutos, mas já não é de hoje, já em 2016 era assim. O Quaresma foi fundamental e nem sempre era titular. Quem o conhece sabe que não estava satisfeito."

Está preocupado com a situação de Ronaldo? "Ele está a treinar com a equipa. Houve um momento com Cristiano em que fiquei preocupado, quando se ouviu falar que não iria treinar com a equipa, isso sim. Se estivesse a treinar sozinho seria muito difícil. Aí tens o ritmo competitivo do treino, mesmo sem a adrenalina do jogo. Antes podia-se colocar a questão do ritmo de jogo [de Ronaldo], ou seja, de pouca utilização, mas neste momento essa questão coloca-se cada vez menos"

João Félix com pouco tempo de jogo no Atl. Madrid: "A questão é que muitas vezes  o jogador rende numa posição, de determinada forma, e em alguns casos o plantel tem muitos que jogam nessa posição. É diferente. Na questão do João no Atlético, brilhou em alto nível no Benfica ou a ponta de lança ou atrás do Seferovic, como 10, como o Rafa no Benfica. Temos o Bernardo, o Bruno Fernandes… No clube é questão de adaptação, de conseguir. Veja o João Mário que saiu para o Inter Milão e não se conseguiu adaptar. O treinador não achava que ia montar a equipa em torno do João Mário. O Félix é muito novo para reverter tudo isto, como os outros estão a reverter."

É um treinador resultadista? "Ser resultadista é ganhar, não há nenhum treinador que não queira ganhar. E ganhar é jogar bem, é preciso marcar, não há nada de resultadista. Acho um contrassenso. O PSG, equipa de topo, jogadores de grande qualidade, joga com três centrais. Portugal joga a dois, porque é que eu é que sou resultadista? E jogo com laterais para subir bem, como o Cancelo, Nuno Mendes, o Raphael Guerreiro, qualquer um que jogue."

Críticas à qualidade de jogo: "Não tem que ver com a questão de jogarem mais médios ou não. No Euro2016, jogámos com Cristiano Ronaldo e Nani por trás. Como joga o Benfica agora? Não tem a ver com os jogadores. O Benfica, com trabalho excelente de Roger Schmidt a potenciar os jogadores, joga assim. Mas joga com João Mário, Aursnes, Enzo, Florentino, o Rafa e um avançado.  Depois tem a ver com dinâmica de jogo. Jogamos com um trinco, mesmo que Rúben Neves não seja bem trinco. É uma retórica que foi criando raízes [esta de se jogar para o resultado]. Mas algum treinador não quer sempre jogar bem e ganhar? O Guardiola joga com quê? Com três centrais não é? Para libertar outros que façam coisas diferentes. Compete-me encontrar a fórmula certa para praticar bom futebol. Porque se vamos fazer coisas bonitas e não jogar bem, ninguém vai ganhar."

Críticas à organização do Mundial2022: "A organização do Catar é uma coisa, está a funcionar bem. Em relação à questão da pergunta [violação de direitos humanos], eu tenho as minhas convicções. Sempre fui um defensor até pela minha convicção religiosa. Se a política pode tirar brilho à competição? Não tem a ver comigo e não tem a ver com rever-me ou não com isso. Poderia dizer a minha opinião há dez anos atrás. Tenho de me centrar em Portugal no Mundial. Depois cada um revê-se nos seus valores."

Seu futuro na Seleção: "A primeira conversa que tive com Fernando Gomes foi que era um contrato de dois anos e que tinha uma cláusula relacionado com os oito jogos de castigo, em que tinha de resolver a situação até janeiro. Foi a única vez que havia uma premissa clara para rescisão. Desde aí, nós é que decidimos. Há um acordo moral entre nós e é isso que vai acontecer."

Espera sair do Qatar Campeão do Mundo? "Espero e desejo. Não há nenhum português que não espera estar no aeroporto. É a ambição natural. Mal seria se depois das conquistas que tivemos, não houvesse essa ambição. Tem a ver com a confiança que temos na qualidade dos jogadores e em mim próprio."