António Fidalgo, ex-guarda-redes de Benfica e Sporting, foi o ‘responsável’ pelo início da carreira de treinador principal de futebol de Fernando Santos, que cumpre hoje o jogo 1.000, com um ‘ultimato’ à direção do Estoril Praia.

“Saio com uma condição, o Fernando fica. Ele agora já quer”, contou à agência Lusa o agora comentador António Fidalgo, explicando como Fernando Santos passou de seu adjunto para treinador principal do conjunto da Linha.

A história tem início num convite que Fidalgo recebeu, a meio da época 1987/88, para treinar o Salgueiros, que então militava na primeira divisão, numa altura em que comandava o Estoril, da Zona Sul da II Divisão, com Fernando Santos como adjunto.

“Foi na nossa segunda época no Estoril, que estava com muitos problemas financeiros. Recebi um convite do Salgueiros e disse que ia, mas o Estoril não me que queria deixar ir. Falei como a direção e disse que saía e ficava o Fernando. Chegámos a acordo e o Fernando aceitou”, contou.

Fidalgo lembra que, então, a equipa técnica do Estoril Praia eram apenas os dois. Trabalhavam juntos há ano e meio, desde o início da época 1986/87, depois de dois anos como futebolistas dos ‘canarinhos’ (1984/85 e 1985/86).

“Éramos amigos, pois já o conhecia do Benfica, embora ele jogasse um escalão abaixo. Acabámos os dois no mesmo ano e ele queria sair, mas eu obriguei-o a continuar no futebol”, garantiu à Lusa António Fidalgo, lembrando que, na altura, Fernando Santos tinha um cargo de diretor no conceituado Hotel Palácio.

Fidalgo conta que, quando arrancaram como técnicos, em 1986/87, foi Fernando Santos que o indicou à direção do Estoril Praia, algo que só soube mais tarde: “Ele indicou-me a mim e eu disse à direção que só ficava se ele ficasse comigo. Foi uma luta tremenda, mas lá o convenceram”.

“Vou ser o primeiro treinador-adjunto da história com menos presenças em treinos do que o treinador principal, disse-me ele, pois havia muitos treinos aos quais não podia ir”, prosseguiu António Fidalgo, lembrando que o Estoril formou, então, uma equipa “extremamente jovem”.

Na primeira época, Fernando Santos estava mesmo inscrito como jogador/treinador e, em Samora Correia, Fidalgo “não tinha uma lateral” e pediu ao atual selecionador para jogar”, o que ele acedeu, acabando por sair, depois de uma exibição que não ficou para a ‘lenda’, ao intervalo.

A despedida não podia, porém, acontecer ali, num pelado: “Semanas depois, fomos à Madeira e, na segunda parte, estávamos empatados e ele estava no banco, ao meu lado, como sempre, e disse-me: ‘mete-me, se queres empatar isto, mete-me a trinco”.

“Disse-lhe para ter juízo, mas ele insistiu, entrou e fez um grande jogo. Não passava nada por ele”, conta Fidalgo, prosseguindo: “Mais tarde, no balneário, tirou a camisola e disse que a ia guardar para sempre. Nunca mais me metes, porque eu não quero. Não podia acabar num pelado”.

Fernando Santos ficou, em definitivo, apenas como adjunto, para depois ascender a treinador principal, quando se separou de Fidalgo, com o qual nunca mais fez equipa depois, apesar de hipóteses “num ‘grande’ e na seleção”, que não se concretizaram, até para não afetar uma “amizade muito sólida”.

“Mantivemos sempre uma relação muito próxima e quando ele vinha ao Porto ficava em minha casa”, saublinou Fidalgo, confidenciando também que foi ele que ‘intermediou’ a mudança de Fernando Santos do Estrela da Amadora para o FC Porto, ao serviço do qual entrou para a história como o ‘engenheiro do penta’.

“O Reinaldo Teles [ex-dirigente do FC Porto, recentemente falecido] pediu-me o contacto dele. Ele tinha-o, mas veio falar comigo, perguntar-me o que achava. O Pinto da Costa gostava muito dele”, recorda Fidalgo.

Agora, o ex-guardião dos dois ‘grandes’ de Lisboa é comentador e cada um faz o seu trabalho: “Falamos muitas vezes, sempre com respeito e vibro muito com os jogos dele, como com o de todos os meus amigos próximos”.

Fernando Santos continua, por seu lado, a carreira de treinador principal, que, ‘culpa’ de Fidalgo, vai já em 1.000 jogos e mais de 33 anos.

“É extraordinário como líder, tem uma capacidade de liderança incrível, que é o que mais admiro nele. Os jogadores são solidários uns com os outros muito fruto dessa liderança, dos princípios e valores que ele passa”, finalizou Fidalgo.