Mais de três décadas depois, o Nápoles celebra o terceiro título de campeão italiano de futebol, e primeiro sem ‘D10s’, graças a uma regularidade assinalável que lhe permitiu construir desde cedo uma liderança que foi frustrando a concorrência.

A formação comandada por Luciano Spalletti confirmou hoje o 'scudetto', à 33.ª jornada, ainda com cinco rondas por realizar, graças a um empate 1-1 na visita à Udinese, que lhe confere uma vantagem de 16 pontos sobre a Lazio, segundo classificado.

Campeão pela terceira vez, depois de 1986/87 e 1989/90, o Nápoles igualou o registo da Roma, mas mantém-se muito longe da recordista Juventus (36 títulos) e dos milaneses AC Milan (19) e Inter Milão (19). À frente dos napolitanos, surgem ainda Génova (nove), Torino (sete), Bolonha (sete) e Pro Vercelli (sete).

Até hoje, o emblema napolitano tinha arrecadado os únicos ‘scudetti’ do seu historial sob a ‘batuta’ de um ‘deus’ argentino que, rapidamente, se tornou no jogador mais importante da história dos ‘partenopei’: Diego Armando Maradona, o homem que, desde a sua morte, em 2020, passou a dar nome ao estádio do clube, anteriormente denominado San Paolo.

De resto, quando ‘El Pibe’ ergueu o troféu da Serie A pela última vez, em 1990, enquanto capitão de equipa, nenhum dos novos campeões transalpinos era sequer nascido, entre eles o internacional português Mário Rui, de 31 anos.

Desde então, nunca mais o Nápoles havia conquistado um campeonato, sendo que, pelo meio, ainda caiu em desgraça e abriu falência, em 2004. Foi ‘resgatado’ pelo atual presidente, o produtor cinematográfico Aurelio de Laurentiis, atuou em divisões inferiores e foi escalando de volta ao topo do futebol italiano, ainda que o ‘scudetto’ continuasse a escapar.

Nas décadas pós-Maradona, que, além de dois campeonatos, ainda conduziu o clube do sul de Itália à conquista de uma Taça UEFA (1988/89), os adeptos napolitanos desesperaram por um herdeiro de Diego que os conduzisse novamente ao Olimpo, mas nem Ezequiel Lavezzi, Marek Hamsik ou Edinson Cavani conseguiram esse desiderato.

Trinta e três anos volvidos, o emblema napolitano fez-se valer sobretudo da qualidade coletiva e não tanto de uma individualidade como o ‘Pelusa’ para atingir o topo de Itália.

Sem qualquer ‘estrela’, o sucesso do firmamento napolitano começa na fiabilidade de defesas como Di Lorenzo, Kim Min-Jae ou Rrahmani, passa pela alta rotação dos médios Anguissa, Zielinski e Lobotka, e conclui-se no instinto matador do nigeriano Osimhen, melhor marcador da Serie A (22 golos) e na imprevisibilidade do georgiano Kvaratskhelia – autor de 12 golos e 10 assistências e já apelidado de ‘Kvaradona’ .

Num plantel com 17 nacionalidades, o ‘melting pot’ do Nápoles integra representação lusa, nomeadamente o lateral esquerdo Mário Rui, que cumpre a sexta temporada no clube e continua a ser uma peça regular no ‘onze’ de Luciano Spalletti, um técnico, que, aos 64 anos, alcança o seu primeiro título de campeão italiano, o que não tinha conseguido na Roma nem no Inter Milão.

A três anos de completar o centenário, o Nápoles começou cedo a desenhar o caminho para o título, cedendo apenas dois empates nas primeiras 15 jornadas, em que venceu Lazio (2-1), AC Milan (2-1), Roma (1-0) e Atalanta (2-1), todos fora de casa, conseguindo, nessa altura, uma vantagem de oito pontos para o segundo colocado, os ‘rossoneri’.

A invencibilidade napolitana chegaria ao fim à 16.ª ronda, no reduto do Inter (1-0), já em 2023, após o Mundial do Qatar2022, mas logo se seguiram oito triunfos seguidos, entre os quais um autêntico ‘atropelo’ à Juventus (5-1), no Estádio Diego Armando Maradona, e nova vitória sobre a Roma (1-0), de José Mourinho.

Quando terminou a 24.ª jornada, eram já 15 os pontos que separavam o Nápoles da segunda posição, ocupada pelo Inter, e começava a reinar o otimismo entre os adeptos, cientes de que só uma hecatombe iria impedi-los de festejar e, muito provavelmente, até de forma antecipada, tendo em conta os desempenhos dos concorrentes.

Apesar dos desaires caseiros com Lazio (0-1) e AC Milan (0-4), a diferença pontual no topo continuou a aumentar, num percurso em que os napolitanos venceram oito dos 11 encontros diante das seis formações que os ‘perseguem’ na tabela.

Ou seja, arrecadou 24 pontos em 33 possíveis frente a Lazio, Juventus, AC Milan, Roma, Inter e Atalanta, sendo que, neste período, bateu por duas vezes a ‘vecchia signora’, os ‘giallorossi’ e a formação de Bérgamo, superou ‘laziali’ e ‘rossoneri’ por uma vez, e ainda procura triunfar frente aos ‘nerazzurri’: há duelo marcado para 36.ª ronda, no Estádio Diego Armando Maradona.