Das ruas estreitas às varandas, a cidade de Nápoles se cobre de azul, a cor da equipa de futebol, que está perto do seu terceiro título de campeão italiano, o tão esperado 'Scudetto', 33 anos depois do último.
Faltando sete rondas para o final, os napolitanos têm uma sólida vantagem de 17 pontos sobre o segundo colocado, a Lazio, batido na ronda 31 em casa pelo Torino. O título, que pode chegar já na ronda 32, seria histórico para o clube, já que não é conquistado desde 1990 quando era liderado em campo pelo lendário argentino Diego Maradona, um Deus na cidade de Nápoles.
No Bairro Espanhol (Quartieri Spagnoli), um labirinto de ruas estreias no centro da cidade onde bate o coração do povo napolitano, a devoção é maior pela equipa comandada no ataque pelo nigeriano Victor Osimhen.
Em Spaccanapoli, a rua que literalmente corta a cidade em dois, e na Via Toledo, artéria comercial, as cores do Nápoles nas camisolas e pequenas bandeiras ocupam todo o campo de visão.
No último andar de um prédio, um morador decorou as suas quatro varandas com fotos de jogadores do Nápoles.
Os comerciantes não ficam atrás e também já aderiram à onda 'azzurra'. É o caso de Antonio Coppola, padeiro no centro histórico, que fabrica e vende pães azuis decorados com um 'N' do Nápoles a cada jogo do clube.
"Eu vivo para o Nápoles, é minha paixão, então tive a ideia de criar um pão em sua homenagem (…) para os meus clientes", explica o homem de 37 anos, que conseguiu encontrar entre os seus fornecedores um corante alimentar que resiste perfeitamente a cozedura.
E a sua iniciativa causou sensação entre os seus clientes: "Tudo o que é feito sobre o clube funciona bem em Nápoles hoje em dia".
- Maradona e San Gennaro -
Salvatore Russo, que gere um estúdio de tatuagem na Via Toledo, também contribuiu com o seu grão de areia com um escudo comemorativo do terceiro 'Scudetto' do clube. "No dia 30 de janeiro, decidi deixar a superstição de lado e tatuá-lo", disse à AFP no seu salão, diante de um poster de Diego Maradona coroado por um crucifixo.
"Os jogadores têm-no costurado na camisola, eu costurei Maradona na minha pele", dispara este napolitano que nasceu a cerca de vinte metros do imenso mural que representa Maradona no coração dos bairros espanhóis. Salvatore Russo conta que já fez cerca de trinta dessas tatuagens.
Quem tampouco deixa espaço para pessimismo é Antonio Cardone, cliente de Salvatore. O terceiro título "já quase o conquistamos. O quarto, espero que venha logo porque já estou com 56 anos", brinca.
Além do escudo do Nápoles, Salvatore Russo grava na pele de Antonio as datas dos três títulos, que também fala da importância de Maradona: "Para nós é um ídolo: primeiro San Gennaro e logo depois Maradona", diz, referindo-se ao padroeiro de Nápoles, objeto de grande veneração.
Nesta cidade onde a miséria e o desemprego convivem com a máfia, a paixão pelo futebol transcende gerações e classes sociais: o advogado Eugenio Salzano, recém-saído dos tribunais, não hesita em abrir a camisa para mostrar as suas tatuagens inspiradas no Nápoles.
No dia do título, "vocês vão perceber o que é festejar em Nápoles (…) É uma loucura!", promete o homem de 40 anos, que acompanha todos os jogos como sócio.
O Vesúvio, cuja majestosa silhueta domina a baía de Nápoles, também é onipresente: "Se entrar em erupção, esperamos que cuspa lava tricolor" nas cores da bandeira italiana, acrescenta, entre risos.
Nem mesmo a eliminação na terça-feira nos quartos de final da Liga dos Campeões contra o AC Milan esfriou o ânimo dos adeptos napolitanos.
"A eliminação não muda nada (…). Vamos olhar em frente para vencer o 'Sudetto'", afirma Vincenzo Celentano, de 47 anos, outro fiel assíduo do estádio Diego Maradona. "Nápoles é sempre Nápoles (…) está cada vez mais bonita, mesmo em momentos menos afortunados".
Essa análise é compartilhada por um taxista, termômetro infalível do sentimento popular: "Temos uma vantagem de 22 pontos sobre o Milan no campeonato, isso é o que conta. É o que mostra que somos os mais fortes", proclama Giuseppe de Bernardo, de 47 anos.
No domingo, um golo de Giacomo Raspadori, aos 90+3 minutos, valeu ao Nápoles um muito festejado triunfo na visita à Juventus, numa 31.ª jornada na qual ampliou a liderança no campeonato para os 17 pontos. Num jogo muito emotivo, o jovem avançado concluiu, com um remate de primeira, na área, um cruzamento da direita, que valeu três pontos que praticamente sentenciam o campeonato, que pode ser assegurado já na próxima jornada.
Os festejos, efusivos, dos futebolistas e equipa técnica com os adeptos que se deslocaram a Turim já teve odor a festa do título, alcançado somente em 1987 e 1990, ambos sob a batuta de Diego Armando Maradona, o ídolo da cidade.
O Nápoles soma agora 78 pontos, mais 17 do que a Lázio, que sábado perdeu, em casa, 1-0 com o Torino, enquanto a Juventus fecha o pódio, com menos dois, ao totalizar 59 após a sua terceira derrota consecutiva no campeonato. A Roma de José Mourinho tem 56 pontos e pode colar à ‘vecchia signora’ caso segunda-feira vença na visita à Atalanta.
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