A Itália acaba de anular o 'Decreto Crescita' para o desporto, uma lei que dava benefícios fiscais aos clubes nas contratações de jogadores estrangeiros. A decisão foi tomada no último conselho de Ministros de 2023, entrou em vigor no dia 1 de janeiro, e está a deixar preocupado o futebol italiano.

A anulação dos benefícios fiscais, que permitia aos clubes um corte de 50 por cento nos impostos pagos nos salários de futebolistas contratados no estrangeiro, vai deixar a Série A ainda mais em dificuldades no mercado de transferências. Foi esse benefício fiscal que permitiu ao AC Milan contratar o inglês David Beckham, por exemplo.

A medida era aplicada apenas aos jogadores estrangeiros que estavam dois anos ou mais com residência fiscal em Itália, ou seja, que assinavam por duas épocas ou mais.

Sem o 'Decreto Crescita', um jogador estrangeiro que receba seis milhões de euros limpos por ano, terá um custo total de 11,1 milhões de euros para o clube. Com a antiga lei, os seis milhões de euros limpos, tinham um custo de 7,9 milhões de euros.

Furlani, CEO del Milan, já veio a terreno criticar a decisão do Governo italiano.

"Só em Itália se pode mudar uma lei como o 'Decreto Crescita' da noite para o dia sem que tenha havido uma reunião ou discussão com os que são diretamente afetados, como os clubes", criticou o dirigente. Uma semana antes tinha dito que a eliminação do 'Decreto Crescita' seria "a destruição do futebol italiano".

Também o Inter Milão, rival do AC Milan, mostrou-se preocupado com a esta decisão do Governo de Meloni.

"Isto não se aplica apenas aos jogadores, mas também aos treinadores, como Mourinho. Se hoje queremos trazer de volta o De Zerbi [treinador do Brighton], sem o 'Decreto Crescita' não será possível, tendo em conta o que ganham na Premier League. Para mim é um golo na própria baliza. Claro que vai mudar a estratégia dos clubes no mercado de transferências, haverá uma quebra na qualidade dos jogadores contratados", defende Marotta, CEO do Inter.

Um dos exemplos dos benefícios desta lei foi a contratação de Cristiano Ronaldo por parte da Juventus. O português recebia 50 milhões de euros brutos por ano na Vecchia Signora.

Mas há quem esteja, no futebol italiano, satisfeito com a decisão do Governo, que pretende que se aposta mais nas camadas jovens e no talento italiano. A Associação de Futebolistas de Itália apoia a decisão e frisa que o 'Decreto Crescita' era uma "discriminação" ao jogador italiano.

A medida não tem por objetivo impedir o regresso de jogadores italianos à Série A. A verdade é que a anterior lei levou os clubes a contratarem mais no estrangeiro que no mercado italiano, já que ficava mais barato a longo prazo. A medida permitiu aos clubes italianos pouparem 140 milhões de euros em impostos.