O treinador Sérgio Conceição cumpriu hoje o destino de regressar a Itália, ao suceder ao compatriota Paulo Fonseca no AC Milan, duas décadas depois de terminar um período marcante como futebolista por Lazio, Parma e Inter Milão.
Inativo desde junho, quando saiu de forma polémica do FC Porto ao fim de sete épocas, em rutura com o ex-adjunto Vítor Bruno, que seria promovido a técnico principal ‘azul e branco’, o antigo internacional português assinou por ano e meio, até junho de 2026, com os ‘rossoneri’, cujo plantel inclui o extremo esquerdo português Rafael Leão.
Aos 50 anos, Sérgio Conceição procura revigorar o momento do AC Milan, terceiro clube com mais conquistas na Liga italiana (19), a última das quais em 2021/22, bem atrás da recordista Juventus (36), seguindo-se o rival citadino Inter Milão (20), detentor do troféu.
Com 17 jornadas disputadas, os ‘rossoneri’ estão no oitavo lugar, com 27 pontos, 14 abaixo dos líderes Atalanta e Nápoles (ambos com mais um jogo), vivendo o pior início desde 2019/20, temporada a partir da qual passaram a ser orientados por Stefano Pioli.
O atual técnico do vice-campeão saudita Al Nassr, de Cristiano Ronaldo e Otávio, deixou San Siro no último verão, abrindo a porta à entrada de Paulo Fonseca, sem que o antigo treinador dos franceses do Lille conseguisse solucionar diversos problemas de balneário.
No domingo, o empate na receção à Roma (1-1), da 18.ª jornada, findou esse turbulento trajeto no AC Milan, que está ainda nos quartos de final da Taça de Itália e no 12.º lugar da fase de liga da Liga dos Campeões, em posição de acesso ao play-off da principal prova europeia de clubes, na qual ostenta sete conquistas (1962/63, 1968/69, 1988/89, 1989/90, 1993/94, 2002/03 e 2006/07), só atrás das 15 dos espanhóis do Real Madrid.
Sérgio Conceição será o segundo treinador português na história rossoneri’ e estreia-se na sexta-feira, ao ter pela frente a Juventus, curiosamente do filho e extremo Francisco Conceição, nas meias-finais da Supertaça italiana, em Riade, capital da Arábia Saudita.
O antigo treinador do FC Porto vai reencontrar-se com uma realidade vivida na viragem do milénio, altura em que viveu as primeiras experiências no estrangeiro como futebolista de Lazio (1998-2000 e 2003/04), Parma (2000/01) e Inter Milão (2001-2003).
Para trás ficaram 204 jogos, pontuados por 20 golos e nove assistências, além de uma vasta afinidade com os ‘laziale’, pelos quais se sagrou campeão italiano em 1999/00, na companhia do defesa central português Fernando Couto e sob orientação do malogrado sueco Sven-Göran Eriksson, que já tivera duas passagens bem-sucedidas pelo Benfica.
Essas memórias cresceram com as conquistas de uma Taça das Taças, uma Supertaça europeia, duas Taças de Itália e uma Supertaça transalpina, sentenciada no estádio da Juventus com um golo seu aos 90 minutos, por entre 12 tentos em 56 jogos pela seleção principal de Portugal, que representou nas fases finais do Euro2000 e do Mundial2002.
Sérgio Conceição vai treinar fora do país pela segunda vez na carreira, após ter passado pelos franceses do Nantes (2016/17), antes de viver com a efusividade de sempre 2.552 dias recheados de competitividade, polémicas sem fim e tiradas marcantes no FC Porto.
Campeão nacional em 2017/18, 2019/20 e 2021/22, tornou-se o técnico com mais jogos (379), vitórias (274) e troféus (11) da história ‘azul e branca’ e o mais laureado por um só clube português, numa altura de restrições financeiras no Dragão, que valeu reprimendas à SAD pela quebra gradual da qualidade dos plantéis, reivindicando ter feito muito com pouco, enquanto recuperava a mística portista com uma comunicação frontal e exigente.
Assumindo, sem hesitar, que não vinha para aprender, mas para ensinar, quando voltou ao FC Porto, no qual concluiu a sua formação como jogador e arrebatou cinco troféus em duas passagens pelo conjunto principal (1996-1998 e 2004), Conceição adaptou-se em função dos recursos ao dispor variando a tática entre os tradicionais ‘4-4-2’ e ‘4-3-3’.
A obsessão por chegar rápido à baliza adversária, sem grandes preocupações estéticas, encontra parecenças no modo como subiu a pulso no futebol e jamais virou a cara à luta, mesmo quando ficou órfão aos 15 anos, alimentando-se pelo desejo indómito de vencer.
Nascido em 15 de novembro de 1974, em Ribeira de Frades, nos arredores de Coimbra, Sérgio Paulo Marceneiro Conceição impôs-se como homem de família de temperamento impulsivo e atraído pelo choque.
Além das 25 expulsões como técnico do FC Porto, envolveu-se em diversas altercações, algumas em defesa dos cinco filhos futebolistas - já orientou Rodrigo e Francisco -, que nasceram da paixão de infância, a sua esposa Liliana, ao lado de quem moldou uma personalidade raras vezes consensual desde os tempos como atleta, entre 1993 e 2009.
Sérgio Conceição deixou os relvados em representação do PAOK Salónica, então do ex-selecionador luso Fernando Santos, e subiu a diretor desportivo dos gregos, em 2009/10, antes de voltar a Liège, onde tinha sido eleito melhor jogador da Liga belga, em 2005/06, para se aventurar nos bancos como adjunto do amigo Dominique D’Onofrio no Standard.
A estreia como técnico principal deu-se na Olhanense, em janeiro de 2012, seguindo-se Académica, Sporting de Braga, Vitória de Guimarães e Nantes até rumar ao FC Porto e personificar as máximas erguidas nos anos 70 por Pinto da Costa e José Maria Pedroto.
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