Aí está a final da Taça da Liga que provavelmente ninguém esperava. O Estoril bateu o Benfica no desempate por grandes penalidades, após empate a um golo no final dos 90 minutos, e irá lutar com o SC Braga pela conquista da prova.

Ao contrário do que se poderia esperar, os canarinhos entraram dispostos a jogar olhos nos olhos com o atual campeão nacional, acabando por ser recompensado por tal ousada postura. Contudo, os estorilistas, para além de enorme entrega e solidariedade, contaram também com a ineficácia benfiquista.

À semelhança do que acontecera na outra meia-final, o principal candidato à vitória falhou um punhado de ocasiões, algumas flagrantes, que poderiam ter ditado outro resultado. Mérito para a capacidade de sofrimento do Estoril, que assim regressa a uma final de uma prova nacional, 80 anos depois.

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O jogo:

Entravam em campo duas equipas com histórico recente bem distinto. De um lado o Benfica com um registo de oito triunfos consecutivos, o melhor da época, e do outro um Estoril que somava quatro derrotas seguidas. Foi assim sem surpresa que, perante estes registos, Vasco Seabra tenha decidido mudar praticamente meia equipa, enquanto que Schmidt mudou apenas uma peça.

A forma recente das equipas indiciaria um jogo de sentido único em direção à baliza do Estoril, mas cedo se percebeu que os canarinhos estavam em Leiria para lutar pela final e não apenas servir de mero acessório a mais um triunfo das águias.

Agressivos nos duelos e a pressionar em zonas avançadas do terreno, o Estoril apanhou de surpresa um Benfica que deveria estar à espera de tomar as rédeas do jogo desde o início. Mas esse não era o plano do adversário que, aproveitando o bom entendimento entre Rodrigo Gomes e Heriberto na esquerda, ia acercando-se da área de Trubin.

E foi precisamente numa dessas investidas que os estorilistas chegaram ao golo. Dezasseis minutos e um cruzamento de Rodrigo Gomes na esquerda encontrou Guitane do lado contrário; o francês tirou Morato do caminho e atirou para o 0-1, fazendo um golo que só surpreendia quem não tinha acompanhado o primeiro quarto de hora do encontro.

Foi após se ver em desvantagem que o Benfica tomou finalmente o comando do jogo, empurrando o Estoril para o seu meio-campo. A maior velocidade e agressividade dos encarnados levou à criação de oportunidades flagrantes de golo, que acabaram por não ser aproveitadas.

Rafa abriu as hostilidades aos vinte minutos, falhando um penálti em andamento quando estava totalmente isolado na cara de Dani Figueira. Pouco depois um cabeceamento de António Silva após canto na direita passou a centímetros do poste. Mas a primeira parte não terminou sem que os encarnados voltassem a falhar um golo feito; aos 37 minutos Di María isolou-se mas, na cara de Dani Figueira, não foi capaz de finalizar. O intervalo chegava e o Benfica apenas podia culpar-se a si próprio por ir para os balneários em desvantagem.

Como seria expectável, a segunda parte começou tal e qual terminara a primeira. O Benfica empurrava cada vez mais o Estoril para o seu último terço, mas aparentava dificuldades na hora de penetrar o 'muro amarelo', composto por linhas bem compactas.

Todavia, os encarnados acabariam por chegar mesmo ao empate. Aos 59 minutos, João Mário encontrou Musa no coração da área, mas o croata fez uma simulação que deixou Otamendi completamente sozinho para fazer o empate, mostrando assim aos avançados como se faz.

Galvanizado pelo golo, e pelo apoio das dezenas de milhares de adeptos que encheram as bancadas do Dr.Magalhães Pessoa, o Benfica continuou a carregar em busca da reviravolta no marcador. Para tal, Roger Schmidt decide trocar Musa por Marcos Leonardo e Kokçu por Tiago Gouveia; já do lado do Estoril, Vasco Seabra vê a sua equipa a recuar muito no terreno e resolve refrescar a ala esquerda, com João Marques e Tiago Araújo, fazendo também entrar Alejandro Marqués para a frente de ataque.

No jogo das substituições, foram os canarinhos a tirar maior proveito. Com efeito, a equipa da Linha nunca se coibiu de procurar saídas rápidas para o ataque, explorando principalmente a velocidade dos avançados, ou a capacidade técnica de Guitane; já do lado encarnado, o domínio continuava, mas agora com menos capacidade de penetração.

À medida que os minutos iam passando, e como já é comum neste tipo de situações, o Estoril acreditava cada vez mais, enquanto que o Benfica ia mostrando cada vez menos discernimento. Contudo, as oportunidades de golo na segunda parte foram apenas e só do clube da Luz, tendo a mais flagrante chegado aos 82 minutos, altura em que o recém-entrado Marcos Leonardo falhou o que parecia um golo certo quando apenas tinha Dani Figueira pela frente.

Até final as duas equipas lutaram arduamente pelos respetivos objetivos, o Estoril já estava de olhos nas grandes penalidades, isto enquanto as águias queriam chegar à vitória ainda durante o tempo regulamentar. Tal esteve muito perto de acontecer praticamente no último pontapé do jogo; 95 minutos e Di María apanhou uma bola mal aliviada e, à meia-volta, preparou um remate fantástico que tinha selo de golo, mas, mais uma vez, Dani Figueira brilhou e negou um golo monumental ao argentino, levando a decisão para os penáltis.

Na marca dos onze metros, os canarinhos acabaram por ser mais competentes; Marcos Leonardo foi o primeiro a falhar para o Benfica, atirando para o centro da baliza. Contudo, e na quarta grande penalidade, João Marques permitiu a defesa de Trubin, empatando a série. No início da segunda ronda, Tomás Araújo atirou ao lado, permitindo assim a Bernardo Vital marcar o golo que colocou o Estoril na final de uma taça nacional, algo que não acontecia desde 1944.

O momento: Figueira negou um golo de bandeira

No último minuto de compensação, o Benfica, que procurava a todo o custo chegar à vitória, beneficiou de um canto na esquerda. Após um primeiro alívio da defesa do Estoril, a bola caiu à entrada da área onde surgiu Di María que, sem deixar cair o esférico, desferiu um fantástico remate à meia volta que levava selo de golo...olímpico. Acontece que do outro lado estava o guarda-redes Dani Figueira que, mais uma vez, negou o golo ao argentino, com uma defesa fantástica, que contou ainda com a ajuda do poste.

O melhor: Guitane, um virtuoso com os olhos postos na baliza

De entre uma exibição global extremamente positiva por parte da equipa do Estoril, Rafik Guitane surge em figura de destaque. Foi dos pés do extremo francês que surgiu o golo estorilista, após um excelente trabalho já dentro da área, e que catapultou a equipa da Linha para uma grande exibição. Para além do golo, o francês foi sempre um dos principais propulsores do ataque canarinho, sempre que este tinha condições para nascer. Quando tal não era possível, Guitane fazia-se valer do seu virtuosismo e capacidade técnica para segurar a bola e permitir à sua equipa respirar. Marcou, jogou e fez jogar.

O pior: Musa foi surpresa mas não surpreendeu

Musa foi a principal novidade no onze inicial de Roger Schmidt, substituindo Arthur Cabral. Apesar de não ser titular há cerca de dois meses, o avançado croata não conseguiu aproveitar a oportunidade dada pelo técnico alemão, mostrando-se muitas vezes desarticulado com o resto da equipa. Lançado de início para tentar segurar a linha defensiva estorilista, e até explorar a profundidade que por vezes esta oferece, Musa simplesmente não cumpriu o seu papel, sobrando-lhe apenas a boa simulação que permitiu a Otamendi fazer o golo do empate.

O que disseram os treinadores

Roger Schmidt, treinador do Benfica

Vasco Seabra, treinador do Estoril

Veja o resumo do jogo