O ex-futebolista Pedro Silva nunca esquecerá o penálti inexistente a favor do Benfica na final da edição 2008/09 da Taça da Liga, perdida pelo Sporting no desempate dos 11 metros, mas perdoa o erro arbitral de Lucílio Batista.
“Temos de perdoar sempre o erro do ser humano, até porque sabemos que ele não quis cometê-lo. Certamente, se houvesse videoárbitro (VAR) naquele momento, o lance seria revertido, mas não foi. Paciência, já passou. Acredito que o Lucílio Batista reconheceu o erro. Espero que esteja bem e que possa assistir à final de sábado e torça pelo Sporting”, disse hoje à agência Lusa o antigo lateral direito brasileiro dos ‘leões’, entre 2007 e 2011.
Em 21 de março de 2009, no Estádio Algarve, o Sporting adiantou-se na final da Taça da Liga com um golo de Bruno Pereirinha, aos 48 minutos, mas sofreu o empate do Benfica aos 75, quando o falecido espanhol José Antonio Reyes converteu o penálti assinalado a partir de uma falta inexistente de Pedro Silva, que foi expulso com duplo cartão amarelo.
Lucílio Batista entendeu que o defesa jogou a bola com o braço direito - quando resvalou no peito - num lance com o argentino Ángel Di María, do Benfica, à entrada da área do Sporting, gerando-se uma confusão no relvado, na qual o brasileiro encostou o peito ao árbitro setubalense e o treinador dos ‘leões’ Paulo Bento fez mesmo um gesto de ‘roubo’.
“Lembro-me de ter falado com o árbitro, dizendo-lhe que iria perceber depois do jogo que tinha cometido um erro gravíssimo, mas que ainda poderia corrigi-lo naquele momento. O erro pode tê-lo prejudicado, mas foi ainda mais prejudicial para nós. Ficámos chateados, tristes e guardámos um pouco de mágoa, principalmente pelos adeptos e pelo momento que estávamos a viver. O Benfica tinha uma equipa espetacular e grandes futebolistas naquela época, mas o Sporting também. Estava a ser um jogo muito bonito”, rememorou.
A final chegou empatada a uma bola aos 90 minutos e apenas foi decidida no desempate por grandes penalidades, com o guarda-redes ‘encarnado’ Quim a afastar três pontapés dos ‘leões’, que perderam por 2-3 e repetiam os moldes da derrota consentida frente ao Vitória de Setúbal na primeira edição da Taça da Liga, em 2007/08 (2-3, após um ‘nulo’).
“É uma tristeza grande, porque trabalhámos e dedicámo-nos a vida inteira para chegar a um momento desses e torcemos para que seja um jogo limpo, mas aconteceu um erro e perdeu-se um troféu. Passaram mil coisas pela cabeça e, às vezes, culpamo-nos por um erro que não fizemos. Já lá vão vários anos e não consigo esquecer esta derrota”, notou.
Pedro Silva cumpria a segunda de quatro épocas de ligação ao clube de Alvalade - seria emprestado ao Portimonense em 2010/11 - e nunca venceu a Taça da Liga, ao contrário da Taça de Portugal (2007/08) e da Supertaça Cândido de Oliveira (2007), que os ‘leões’ arrebataram igualmente em 2008, mas sem a presença do lateral direito na ficha de jogo.
O lateral regressou dos balneários no final da partida para receber a medalha destinada ao finalista vencido, mas recusou-se a guardá-la e arremessou-a mesmo para o relvado, reflexo do “momento mais marcante” na sua passagem “grata e respeitosa” por Alvalade.
O objeto foi recolhido por Paulinho, roupeiro do Sporting, que tentou em vão devolvê-lo a Pedro Silva, mas, desde então, “guardou-o no seu balneário” na academia de Alcochete.
“Não me lembro de quem me entregou a medalha, mas disse que, na verdade, tinha de ser uma de vencedor. Responderam-me que eu tinha de aceitar a derrota e que, quando um jogador perde, não reconhece a vitória do adversário. Foi nesse momento que fiquei chateado, assumi que aquela medalha jamais entraria na minha casa e atirei-a”, contou.
Pedro Silva ouviu Lucílio Batista a admitir o erro nas horas posteriores à final da Taça da Liga e garante ter recebido um pedido de desculpas do árbitro anos depois, aquando de um desafio entre Atlético e Portimonense, da II Liga, quando já era adjunto dos algarvios.
“Conversámos um pouco. Ele pediu-me desculpa e reconheceu que errou, afirmando ter sido um lance rápido, em que havia poucos segundos para decidir e optou por marcar a grande penalidade. Disse-lhe algumas coisas, mas enfim, acabei por perdoar-lhe. Demos um aperto de mão e seguiu cada um o seu caminho”, partilhou o ex-defesa, cuja primeira experiência no futebol português foi uma cedência do Palmeiras à Académica (2005/06).
A partir de Florianópolis, capital do estado brasileiro de Santa Catarina, onde coordena a escola de futebol Sporting Brasil, Pedro Silva, de 43 anos, torce no sábado por um êxito dos campeões portugueses em Leiria, na reedição das decisões de 2008/09 e 2021/22.
Se os ‘leões’ não mantêm qualquer futebolista do plantel de há 16 anos, o Benfica tem o extremo Ángel Di María, que foi suplente utilizado no Algarve e coincidiu alguns minutos em campo com o titular Ruben Amorim, que comanda os ingleses do Manchester United desde novembro de 2024, após deixar o clube de Alvalade com dois títulos de campeão.
“O Ángel Di María está entre os maiores e melhores do futebol mundial. A carreira dele é espetacular. É campeão do mundo e fez agora dois golos ao Sporting de Braga [na vitória por 3-0, para as meias-finais da Taça da Liga]. Sabemos que é o principal jogador do Benfica, mas o Sporting tem uma equipa sólida e forte. Não tive assim tanta sorte quando defrontei o Di María, mas espero que o Sporting consiga fazer um grande jogo”, afiançou.
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