Fechar lojas, tirar férias ou pedir dispensas de aulas foram as soluções encontradas pelos adeptos do Caldas que hoje encheram 17 autocarros, rumo a Vila das Aves, para a primeira mão das meias-finais da Taça de Portugal de futebol.

A comitiva caldense, com cerca de 1.500 adeptos, partiu às 14:00 da cidade do distrito de Leiria, cujo clube do Campeonato de Portugal vai disputar hoje pela primeira vez um jogo desta fase da prova ‘rainha’ do futebol português.

Américo Barros, de 82 anos, ostenta emblemas do Caldas nos sapatos, nas calças, no casaco e no boné. Quem o viu entrar para o autocarro pensaria que já estava vestido a rigor para assistir à visita ao emblema da I Liga, mas não.

Na bagageira do autocarro, Américo Barros tem arrumado “o fato completo” com que vai assistir à partida e ao desempenho do neto, André Simões, um dos pupilos de José Vala.

É “a rigor”, vestido de alvinegro, e equipado com o cachecol do clube que se assume “preparado, mas um bocadinho nervoso”, para “gritar pelo Caldas”, para que o clube “venha com uma vitória e chegue ao Jamor”.

“Rumo ao Jamor”, “Unidos venceremos”, “Força Caldas”, são algumas das frases escritas nos autocarros financiados pelo município local, que ostentam as fotografias dos jogadores do clube, juntamente com outras expressões como “Mata encantada”, “Cara de uma cidade” e “101 anos de história”.

O presidente da Câmara Municipal das Caldas da Rainha, Fernando Tinta Ferreira, tem lugar marcado no primeiro autocarro da caravana, acompanhado de vereadores, presidentes de juntas de freguesia e representantes de vários organismos da cidade.

“Uma grande festa, ‘fair-play’ e uma mostra de desportivismo para todo o país” são os desejos que leva para a Vila das Aves, de onde gostaria de ver a equipa voltar “com um resultado que lhe permitisse aguentar esperança para na segunda volta poder vencer e alcançar o que muitos cantam por aí”.

“Queremos o Caldas no Jamor” era o cântico mais entoado nos autocarros que se iam enchendo de adeptos vindos de todos os pontos do concelho.

Da Serra de Bouro, viajou uma comitiva de 50 pessoas, liderada por Saul Afonso, de 66 anos, reformado que “não deixava de apoiar o Caldas por nada”.

Luís Silva, de 69 anos, um torriense com um estabelecimento comercial na cidade, fechou “a loja por dois para ir acompanhar o clube” de que se fez sócio para acompanhar a comitiva em que desta família “só vão as mulheres”.

Já no autocarro da claque, que nas últimas semanas se legalizou em tempo recorde para poder entrar no estádio com as bandeiras do Caldas, seguem 53 jovens que hoje e quinta–feira “pediram dispensa das aulas ou meteram férias dos trabalhos”, contou à Lusa Miguel Lacerda, o líder do grupo.

Tambores e “uma surpresa para o início do jogo” são algumas das promessas para “animar a festa”, que acreditam que vai ocorrer “qualquer que seja o resultado”.

“Mesmo perdendo o jogo teremos sempre a vitória no nosso coração”, frisou Miguel Lacerda.

Pedro Marques, vice-presidente do Caldas e secretário na Assembleia Municipal, partiu também de coração “cheio” por ver “uma equipa amadora a fazer história” e na grande convicção de que “a hipótese que o Caldas tem para ganhar é estarem todos mais motivados do que eles [Desportivo das Aves]”.

“Um apoio e uma motivação que nunca se viram”, contou. Tanto mais que, até à partida dos autocarros, às 14:00, continuavam a ser vendidos alguns dos 500 bilhetes que o clube comprou online para vender.

À saída da cidade, aos 17 autocarros juntava-se uma caravana de dezenas de veículos particulares, com cerca de 500 apoiantes que previam chegar à Vila das Aves cerca das 17:00, para uma festa a começar e terminar com porco assado no espeto para todos os adeptos.

Em terra, ficou apenas Joaquim dos Santos, vendedor de capas plásticas, que rumou de Torres Vedras a Caldas da Rainha na esperança de que “a festa dos adeptos fosse boa para o negócio”.

Mas afinal, “só se venderam seis ou sete capas”, porque nem a chuva torrencial que caiu poucos minutos antes da partida “mete medo a esta gente”.