“Não há festa como a Taça”. Ano após ano, o adágio repete-se e confirma-se nas matas do Jamor, onde milhares de pessoas acorrem para o melhor ‘spot’ para estender as toalhas e mesas para o farnel. E para aqueles que não cuidaram da “logística” a tempo e horas, não faltam barraquinhas de bifanas, couratos, entremeadas e outros petiscos milagrosos até à hora do jogo. Este ano, a Taça de Portugal discute-se a partir das 17h15 entre Sporting e Braga, mas a verdadeira festa começa antes de qualquer equipa ganhar.

A Taça também é um negócio

Logo bem cedo chegou o senhor Fernando, um verdadeiro ancião no ‘métier’ da venda de cachecóis e bandeiras, que veio na manhã do dia anterior só para guardar o lugar. “Ando há mais de 40 anos nisto. Até tenho aqui os meus filhos que são formados a ajudar ao negócio. Rende sempre qualquer coisa”, conta ao SAPO Desporto o veterano de jogos sem fim. A sua banca está pintada de verde, aproveitando o local de concentração dos adeptos do Sporting.

Estrategicamente colocada logo à entrada, bem perto do Estádio Nacional, vê passar por ela milhares de pessoas. Algumas param, perguntam o preço do cachecol ou dos chapéus, aceitam sem hesitar ou tentam regatear. Vale tudo pelo negócio, mesmo quando não são adeptos. É o caso de um agente da PSP que, sem revelar o nome por estar em serviço, revelou a razão para comprar um dos cachecóis do senhor Fernando. “Eu nem sou do Sporting, sou do outro clube da 2ª Circular. A minha mulher ofereceu-me um cachecol do bicampeonato e agora é a minha vez de levar um para ela”.

Mais adiante, por entre adeptos que tiram ‘selfies’ e outros que nos pedem para lhes tirar fotos, julgando-nos entendidos no ofício por nos verem com câmara de filmar e tripé, começam a concentrar-se as incontáveis ‘roulottes’ de comida. Porque é hora de almoço e a fome aperta, as filas começam a crescer e nem os agentes da PSP escapam à pressão do estômago. Como o negócio da festa dura pouco, o empregado avisa logo que nem pode parar para falar. Dito e feito. Voltamo-nos para os clientes e neles encontramos quem nem sequer vem em busca do jogo.

Depois de 400 quilómetros feitos desde Braga até ao Jamor, o senhor Adelino encosta para descansar. Motorista de profissão na empresa Arriba de Portugal, refere que nem sequer tem grande preferência pela vitória do Braga. “Para cá vieram calmos no autocarro, pelo menos. Agora, se ganharem vão mais animados de certeza, mas se perderem é da maneira que até vamos mais rápido. Antes das 20h não saio daqui”, diz, deixando logo um prenúncio em jeito de lamento: “Saí de Braga às 6h30 e conto chegar só lá para as duas da manhã a casa”. Como ele vieram mais 149 motoristas e 149 autocarros, transportando cerca de sete mil adeptos, sem contar com aqueles que vieram por sua conta e risco.

Hora do farnel

Continuamos a mergulhar por entre a multidão vestida de verde e branco. Depois de todos os negócios à volta da Taça, é tempo de parar para quem gosta simplesmente de a viver. Abrigados na sombra de duas árvores de copa frondosa, meia dúzia de adeptos do Sporting e um ‘intruso’ do FC Porto desfrutam do farnel. Não falta um grelhador, mesa e cadeiras, geleiras com cervejas e sacos atestados de pão para envolver as bifanas e enchidos. É a parte mais festiva do núcleo do Sporting de Castro Daire, numa comitiva organizada pelo senhor “Nini”.

Ao centro da mesa senta-se o amigo e dinamizador do grupo, o senhor José, porta-voz do núcleo e animador do farnel. “Está a ser um convívio muito agradável, porque a família sportinguista é agradável. Esta festa do Jamor é única. Conheço o estrangeiro e não conheço outro local com esta envolvente para fazer a festa. É uma tradição vir aqui. Se o Sporting cá estiver e for o vencedor, melhor”, sublinha. O convívio e espírito de partilha é tal que chega aos repórteres. “Tomem lá uma cerveja e uma bifana! Comem aqui connosco”, atiram logo antes sequer de se iniciar a reportagem. Aceite-se, pois então, que “não há festa como esta” e dia de Taça não é todos os dias.