Responsáveis financeiros dos principais emblemas do futebol português, Sporting, Benfica, FC Porto e Sporting de Braga, demonstraram hoje concordância na necessidade em aliviar a carga fiscal dos clubes sob pena de perda de competitividade das equipas no contexto europeu.

No dia de encerramento da cimeira Thinking Football, no Porto, os custos de contexto "elevados e muito acima da média" foram analisados sob a perspetiva das várias sociedades desportivas, com o alerta de que o modelo de negócio dos clubes portugueses, assente na formação e valorização de ativos, é "replicável".

"Fazemos omeletes com poucos ovos. Hoje ainda temos um modelo de negócio bem definido, mas replicável. Estamos a falar de mercados com os quais somos comparativamente pequenos. Temos mercados como a Turquia, a Bélgica, a Holanda, que trabalham pouco a formação, mas, no dia em que começarem a trabalhar esse aspeto, vão ultrapassar-nos", salientou Francisco Salgado Zenha, vice-presidente do Sporting com o pelouro da área financeira.

Já José Pereira da Costa, o escolhido de André Villas-Boas para administrador financeiro da SAD portista, lembrou a descida de Portugal no ranking da UEFA e as perdas de receita que daí advêm, nomeadamente nas limitações ao acesso às competições europeias.

"O facto de termos passado de sexto para sétimo e termos perdido mais uma equipa na Liga dos Campeões representa perda para Portugal à volta de 40 milhões de euros (ME). Se não atuarmos depressa, pode ser pior", previu, replicando a tese corroborada por todos os intervenientes.

Tendo em linha de conta a taxa de 23% de IVA que incide sobre a bilhética, bem como a carga em sede de IRS e custos associados aos seguros de acidentes de trabalho, o dirigente estima que os 'dragões' percam mais "sete ou oito" ME relativamente a uma situação em que os custos de contexto estivessem "alinhados com a média europeia".

"Ter os custos de contexto alinhados com a média europeia, quer ao nível do IRS, IVA e de seguros, poderia representar uma redução potencial entre 4 e 5% de margem sobre as receitas operacionais, excluindo receitas com vendas de jogadores. Para um clube como o FC Porto, com receitas totais na ordem dos 160 ME, poderíamos reduzir custos na ordem dos sete ou oito ME. É um valor muito significativo", explicou.

Já Nuno Catarino, recém-entrado na SAD 'encarnada', à semelhança do que fez Pereira da Costa, também realçou a necessidade de garantir receitas de diferentes formas para fazer face ao contexto adverso.

"O Benfica tem uma lista de espera de 14 mil pessoas para ter lugar anual. É uma coisa que impressiona. Se formos ao estádio do Bayern Munique, em jogos do campeonato, têm assistência de mais 10% do que nos jogos europeus. A nossa economia é a 19.ª da Europa, a nossa realidade vai levar-nos para esse lugar do ranking. O risco é real", augurou.

Para além de Catarino, que descreveu a situação do IVA como sendo "quase uma questão de preconceito, olhando ao que se pratica noutros espetáculos", também Cláudio Couto, administrador executivo do Sporting de Braga, mostrou-se preocupado com a legislação vigente.

"O IVA passou a 23% com expectativa de que fosse momentâneo, mas, em 2017, todos os espetáculos viram a taxa voltar a 6%, menos o futebol. Também pagamos faturas altíssimas em seguros de acidentes de trabalho. Assistimos a casos tão simples como um atleta que num lance tenha um pequeno corte no sobrolho, seja assistido, não saia do jogo, não é acionado seguro e, passado uns anos, o atleta vem reivindicar uma questão estética", concluiu.