As entidades desportivas pediram hoje ao Governo soluções urgentes de forma a salvar o desporto em Portugal, manifestando preocupação pela falta de apoios ao setor, fortemente prejudicado pela pandemia de covid-19.

Em audição pública na Assembleia da República, solicitada pelo Partido Comunista Português (PCP), diversas entidades intervieram no sentido de exporem a situação atual do desporto, que, ao nível da formação, tem sido muito afetado, com as competições paradas desde março de 2020.

“No futuro, vamos pagar caro se não encontrarmos soluções a curto prazo. Será uma fatura enorme para o país nas décadas vindouras. Para que o desporto continue a ser o que norteia muitos jovens, é fundamental encontrar meios, um fundo, para que, a curto prazo, possa auxiliar e, quando a pandemia o permitir, encontrar soluções”, alertou o presidente da Confederação do Desporto de Portugal (CDP), Carlos Paula Cardoso.

Num panorama “assustador” de duas épocas perdidas nos escalões jovens, algumas entidades afirmam que a pandemia apenas veio acentuar os problemas já existentes no tecido desportivo.

“A pandemia veio agravar uma situação que, em muitas coletividades e pequenos ou médios clubes, já era grave. Será possível reverter a tendência? Acreditamos que sim, mas terá de haver respostas para algumas questões”, apontou o presidente da Confederação Portuguesa das Coletividades de Cultura, Recreio e Desporto (CPCCRD), Augusto Flor.

O secretário-geral do Comité Olímpico de Portugal (COP), José Manuel Araújo, reiterou o “desalento e desilusão” por não ter sido dada nenhuma resposta política de apoio ao desporto na aprovação do Orçamento do Estado para 2021, mas sublinhou o “sinal muito positivo” da aprovação de duas resoluções, “embora tardiamente”, ligadas a um fundo de apoio e à retoma da atividade desportiva.

“O que solicitamos é que a fiscalização política se acentue e se pressione o Governo a apresentar rapidamente um apoio extraordinário, que já vem tarde e não sabemos nunca se terá o pacote financeiro necessário para resolver o drama de muitos clubes. Tem de ser rapidamente resolvido e esperamos que o parlamento possa, uma vez mais, insistir com o Secretário de Estado da Juventude e do Desporto [SEJD], para dar um sinal efetivo sob o ponto de vista político”, requereu.

Para o Comité Paralímpico de Portugal (CPP), outra solução passa por incluir os atletas com deficiência nos grupos prioritários de vacinação, para que preparem a participação em Tóquio2020 com a maior segurança possível, corroborado pelo presidente da Federação Portuguesa de Desporto para Pessoas com Deficiência (FPDD), Fausto Pereira, e pelo presidente da Federação Académica do Desporto Universitário (FADU), André Reis, que englobou todos os atletas que representem Portugal em provas internacionais.

André Reis levou também a discussão para a temática da saúde mental, que tem afetado muitos jovens, impossibilitados de fazer desporto devido ao confinamento, e apelou a uma “especial atenção a este problema”.

O presidente da Federação Portuguesa de Futebol (FPF), Fernando Gomes, em representação também das federações de andebol, basquetebol, patinagem e voleibol, considera que “a inatividade do movimento desportivo, aliada à insustentabilidade da receita, empurraram o desporto para um cenário mais negro”.

“Ao nível da formação destas federações, que têm cerca de 250 mil atletas, somente 14 mil (cerca de 6%), estão neste momento a praticar atividade desportiva”, explicou, esperando “uma clara identificação de fundos de apoio ao desporto para salvar milhares de clubes, entidades e associações desportivas que, de outra forma, muito rapidamente desaparecem”.

A audiência contou igualmente com a participação da Confederação de Treinadores (CT) e das federações de aeronáutica, ciclismo, natação, xadrez, taekwondo e ténis de mesa, bem como de representantes de partidos com assento parlamentar – Partido Socialista (PS), Partido Social Democrata (PSD), Bloco de Esquerda (BE) e Partido Comunista Português (PCP).