Quando a 08 de julho de 1497, Vasco da Gama zarpou de Belém à procura de uma nova rota para a India, levava consigo apenas a esperança e espírito aventureiro do português. Sem mapas ou refinados instrumentos, o navegador português conseguiu chegar ao destino, contornando África pelo Campo da Boa Esperança, naquela que foi a primeira grande viagem oceânica.
524 anos depois, munido do mesmo espírito aventureiro, Francisco Lufinha sonha escrever o seu nome na história da navegação, atravessando o Atlântico em solidário num barco puxado por abas de kite. O objetivo é bater o recorde mundial, ligando Portugal continental às Caraíbas em menos de 39 dias, numa aventura que mistura vela e kitesurf, as suas paixões. A partida está marcada para o mês de novembro, num percurso de 6.700 quilómetros sem paragens e sem barco de apoio.
Batizada de EDP Atlantic Mission, a travessia será feita apenas com energias verdes: a solar, a eólica e a hídrica, ou seja, sem recurso a combustíveis fósseis. A missão pretende também chamar a atenção para a preservação dos oceanos.
Fotos: Momentos da carreira de Francisco Lufinha
Paixão pelo mar para fazer o que ainda não foi feito
Quando Francisco Lufinha bateu o seu próprio recorde mundial da maior viagem de kitesurf sem paragens (passou de 564 para 874 quilómetros), ao ligar Lisboa e a Madeira em 47 horas e 37 minutos em julho de 2015, sabia que a proeza iria abrir-lhe novos horizontes.
Alcançado o recorde, era hora de pensar em novos desafios. Em 2017, Francisco Lufinha juntou-se a alemã Anke Brandt para mais uma aventura digna de registo: recorde mundial de travessa de kitesurf em dupla. Conseguiu alcança-lo, ao percorrer 1.646 quilómetros entre Ponta Delgada e Oeiras.
Mas não chegava. A procura de ir além, de testar os limites, deixou este engenheiro industrial a pensar em novas formas de inspirar outros.
"Depois do desafio dos Açores para Lisboa, comecei a ir para as escolas e empresas, a falar com miúdos entre o 5.º e 12.º para lhes contar esta história de superação e ao mesmo tempo sensibiliza-los para o tema dos oceanos, do lixo que produzimos e vai parar ao mar, o que podem fazer para mudar isto e para mudarem os seus hábitos e comportamentos", conta, em entrevista exclusiva ao SAPO Desporto.
Além dos mais de 23 mil alunos que já ouviram as suas aventuras e peripécias, outros também vão conhecendo as histórias de superação deste aventureiro de 38 anos. A pandemia veio travar outra das facetas deste lisboeta de Cascais, mas, com o regresso à normalidade, em breve Lufinha voltará a vestir a pele de orador em empresas, onde partilha com outros a forma como se prepara para as suas aventuras, as soluções aos problemas que vai encontrando pelo caminho.
Completado mais uma aventura, Lufinha começou a matutar na próxima, depois de já ter conseguido tudo o que era possível em Portugal. Foi aí que surgiu a ideia de atravessar o Atlântico em solitário, com ajuda de um kite, na mais arrojada aventura alguma vez tentada pelo campeão nacional de kitesurf de 2005.
A ele juntou-se a empresa energética EDP, num desafio batizado de EDP Atlantic Mission, um dos quatro projetos da multinacional que pretende tornar-se 100% verde já em 2030, produzindo energia apenas a partir da água, do sol e do vento.
Movido apenas a energias verdes, Lufinha vai ligar Portugal às Caraíbas num pequeno barco de três cascos, puxado por um kite.
"A missão também tem um forte sentido de sustentabilidade, um dos meus focos de há três anos. O barco partiu por reutilizar o casco de um barco a vela bastante rápido. Tirei o mastro, em cima construímos uma cabina pequena e o mais leve possível para poder sobreviver no mar. Dentro tem vários equipamentos para controlar o barco e o kite, como os tambores com 80 metros de linha, de quatro linhas, que comando através de um comando eletrónico. Só há energias verdes a bordo, a energia solar, o vento e a hídrica porque tenho uma hélice atrás que com a velocidade do barco, carrega as baterias a noite. Quase tudo é alimentado com painéis solares, também levo no barco cerca 700 watts de painéis, e um hidrogerador”, conta.
Nos últimos três anos, Francisco Lufinha e a sua equipa meteram mãos a obra para levar a cabo esta gigantesca tarefa. De lá para cá, quase que nem tem tempo para nada. Depois de testar e treinar vários sistemas diferentes, conseguiram chegar a um equilíbrio que Lufinha entende ser suficiente para atravessar o Atlântico.
O feeling de andar à noite no mar, com o reflexo da lua cheia, é espetacular. Sentia-me um Vasco da Gama
"Quase que 80 por cento da minha vida agora é estaleiro, em terra a reparar as coisas que inventamos e não funcionavam. O barco tinha alguma entrada de água e temos de encontrar essa água. Reforçamos a aposta em bombas manuais e elétricas para retirar água, assim como todo o sistema elétrico para subir e recolher o kite, sensores, para saber a noite onde está o kite, tentar controla-lo com algum automatismo, tudo isso tem vindo a ser reforçado. Todos os aparelhos também têm sido reforçados, os equipamentos eletrónicos, etc.
"Assim que houver uma janela de vento norte em novembro", Francisco Lufinha partirá de Lisboa rumo ao maior desafio da sua vida. O kitesurfer assume que "adorava cumprir em três semanas ou menos" esta missão, mas sabe que nem tudo depende dele.
Os perigos: embater contra um contentor em pleno mar alto ou ficar preso... no lixo
Esta é uma missão que comporta vários perigos e, por isso, tudo tem sido testado e preparado ao pormenor. Recentemente, Francisco Lufinha testou a embarcação e os equipamentos numa viagem até a Madeira, que devia durar dois dias, mas levou quatro.
"O problema de um barco puxado por um kite, se não houver nada automático, é que tenho de estar sempre a olhar para o kite, não posso tirar os olhos. A tensão é tanta que ele é muito rápido a virar. E como o barco é pesado, se me distraio, o kite cai para a água ou vira para o lado errado", conta-nos.
E retirar o kite da água pode levar 30 minutos ou mesmo duas horas, se as linhas estiverem entrelaçadas.
Infelizmente tenho visto cada vez mais lixo, é material que flutua, mas que é duro porque são boias, peças de ferros, armações de redes, contentores que caem de navios
Tudo irá girar em volta do vento, a "maior incógnita" da viagem.
"A parte mais difícil será a viagem daqui de Portugal até a zona sul das Canárias porque é inverno. Mas como também é a semana que estou mais fresco, posso escolher a data em função do vento. Será um grande desafio conseguir chegar até ao Sul das Canárias, dali para a frente já começam a entrar os ventos alísios que vêm do deserto do Sahara e vão até as Caraíbas, vento favoráveis e bastantes estáveis”, explica.
Com apenas sete metros, o trimarã terá de aguentar com ondas gigantes para chegar a bom porto. Mas os perigos vêm de todos os lados.
"Infelizmente tenho visto cada vez mais lixo, é material que flutua, mas que é duro porque são boias, peças de ferros, armações de redes, contentores que caem de navios. Bater no lixo à deriva é um dos meus receios", confessa.
Nos últimos tempos, Lufinha tem estado a testar um piloto automático para controlar o kite, o que lhe permitiria dormir, por exemplo. Se não funcionar, há sempre um plano B.…E até um plano C. Está quase tudo estudado e preparado.
Um dos planos passa por levar um kite extra que não esteja tão longe do barco. Em vez de ir a 80 metros de altura, irá a 20. Estando mais baixo, é possível estabiliza-lo, embora haja o perigo de cair à água se o barco bater numa onda mais forte. Com o kite mais baixo, o velejador vai navegando devagarinho, o que lhe permite, por exemplo, dormir alguns minutos, principalmente a noite.
"Numa situação de muito mau tempo ou que esteja completamente de rastos, aí é ir à deriva, apontar o barco a favor do vento e dormir algum tempo e acordar para ver se está tudo bem e voltar a dormir, vendo sempre se há algum perigo", garante.
Na memória de Lufinha está um episódio que aconteceu na viagem para a Madeira, quando bateu o recorde Mundial de travessia em kite. A falta de sono trouxe alucinações.
"Na travessia para a Madeira estive 14 horas a navegar, sempre de pé a olhar para o kite e chegaram momentos em que tive de dormir de pé, no controle. E quando era mais noite, começava a ver barcos iguais ao meu em que eu ia bater neles, que tinha de desviar, começava a ver todas as formas de coisas que iam na cabeça. Mas ali era o sonho a pregar-me partidas, tenho de gerir bem o sono na viagem", recorda, entre risos.
À bordo, Lufinha leva apenas o essencial. A comunicação é peça importante da viagem, que será acompanhada em direto, no site da EDP mas também nas páginas das redes sociais deste kitesurfer. Usando uma antena na cabine, Lufinha poderá comunicar com a sua equipa e com a Marinha, através de chamadas, mas também de vídeos. Leva também um telefone satélite, e outro que permite enviar algumas mensagens e dados e ainda outro meio que permite enviar algumas mensagens e que não depende da energia à bordo.
A alimentação, essencial numa odisseia como esta, será feita à base de comida desidratada, que apenas precisam de água produzida a bordo.
Se nas travessias para a Madeira e Açores a parte física tinha papel muito importante, aqui é o lado emocional que poderá pregar partidas.
"Ao contrário dos outros desafios, o psicológico terá um papel mais predominante porque tenho de seguir à risca todas as regras, os métodos que tenho vindo a desenvolver, testar e corrigir. A nível físico tenho de me alimentar bem, beber água suficiente e não posso magoar-me. É também muito exigente a nível de sono, tenho de aguentar o máximo de horas acordado, porque vou dormindo aos bocadinhos, cada vez que durmo estou a andar muito devagarinho", recorda.
As proezas do Lufinha: de campeão nacional de Kitesurf aos recordes do Guiness
O mar sempre fez parte da vida de Francisco Lufinha. Campeão nacional de kitesurf em 2005 e vice-campeão em 2006, este engenheiro industrial de 38 anos começou a competir em provas de vela aos 11 anos, após experimentar windsurf, wakeboard e outros desportos náuticos.
Depois de abandonar as provas de kitesurf, Francisco Lufinha começou a pensar em como manter a paixão pela modalidade. Foi daí que surgiu a ideia de ligar todo o mar português de kitesurf, numa aventura a que chamou 'Portugal é mar'.
"Quando comecei em 2013 tinha vindo de seis meses a trabalhar no deserto do Sahara num resort de windsurf e kitesurf que correu bastante mal. Eu precisava de subir o meu ego e de fazer um projeto que estava há algum tempo na gaveta e que me puxasse a moral e me desse gozo", recorda, numa entrevista ao SAPO Desporto em junho de 2018.
Assim, em meados de setembro de 2013, Lufada como é conhecido pelos amigos, bateu o recorde do Mundo de distância em kitesurf sem paragens, ao ligar os 564 km entre Gaia e Sines, na costa alentejana, em 29 horas, superando assim a anterior marca mundial de 199,6 milhas náuticas (369,7 cerca de quilómetros), estabelecida pelo norte-americano Phillip McCoy Midler em maio de 2010, no Texas (Estados Unidos).
Bater no lixo à deriva é um dos meus receios
Um ano depois, em dezembro de 2014, alcançou nova proeza: a primeira travessia de sempre de kitesurf entre as Ilhas Selvagens e o Funchal, no arquipélago da Madeira, ao percorrer os cerca de 300 quilómetros em 12 horas. Foi a primeira odisseia em mar aberto, complicada pelo vento e ondas e um percalço à bordo.
"Passadas duas horas, o arnês, que me prende ao kite, começou a prender o pulmão esquerdo nas costelas e estive 12 horas a lutar sempre por [conseguir aguentar] mais uma hora", lembrou.
A 06 de julho de 2015, voltou a bater o seu próprio recorde mundial de maior viagem de kitesurf sem paragens, ao colocar a fasquia nos 874 quilómetros, na ligação entre Lisboa e Madeira. Desistiria antes de chegar a Machico, vencido pelo cansaço extremo e pelos ventos, após 47:37.00 horas de viagem em cima da prancha.
"Gerir a dor é sempre o principal. Por muita preparação, por muito teste, quando se entra em exercícios de mais de 8-10 horas há sempre uma dor. Neste caso foram os joelhos, primeiro o esquerdo e depois o direito, assim como os tornozelos e as palmas dos pés. Depois é o vento. Saber se entra e como entra também é uma das maiores dificuldades", disse, na altura, à agência Lusa.
Para estas provas, Lufinha fez uma preparação extrema. Por exemplo, esteve em cima de uma prancha de pouco vento (a maior) e com todo o equipamento utilizado em alto mar, durante 24 horas seguidas, numa piscina.
Sempre à procura de testar os seus limites, Lufinha embarcou em nova aventura, agora em dupla, para voltar a inscrever, mais uma vez, o seu nome no livro Guiness dos recordes. Era a última etapa do projeto 'Portugal é Mar'.
Com a também recordista alemã Anke Brandt, estabeleceu um novo registo mundial de travessa de kitesurf em dupla, ao percorrer 1.646 quilómetros entre Ponta Delgada e Oeiras em nove dias. Durante a travessia Lufinha e Anke dividiram o desafio em turnos de oito horas.
Foi nesta última odisseia que o kitesurfer luso começou a dar mais atenção aos problemas do ambiente. Um dos objetivos da maior travessia do 'Portugal é Mar' era internacionalizar" o país e poder observar a "vida marinha" que o arquipélago dos Açores possui.
"Espero ver e ter as baleias a acompanhar-me, encontrar muita vida marinha e chegar ao fim inteiro e sem mazelas. Quero conseguir partilhar este nosso mar e todo este meu sonho que é ligar Portugal. Conseguir mostrar ainda aos portugueses e internacionalizar lá fora. Somos um país pequenino, mas em território marítimo estamos no top-10 do mundo", confessou, na altura.
No final da prova, no meio de tanta felicidade, Lufinha recordou a grande quantidade de lixo e plástico encontrados na água, que identificou como um "problema sério". Estavam lançadas as bases para os seus próximos projetos.
Uma viagem em prol dos oceanos
A odisseia de atravessar o Atlântico num barco puxado por abas de kite é também uma forma de chamar a atenção para a preservação dos oceanos, uma área em que Lufinha tem vindo a envolver-se cada vez mais. O plástico que este aventureiro nascido há 38 anos viu nas suas travessias é uma ínfima parte do que circula nos oceanos, colocando em perigo a vida marinha.
Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) publicado em 2020, indica que 11 milhões de toneladas de plástico são despejadas todos os anos nos oceanos, o que equivale a um camião de lixo a cada minuto.
A subida do nível do mar, por exemplo, a um ritmo alarmante de 3,1 milímetros por ano, devido ao aquecimento global e ao derretimento do gelo na Terra, é uma das principais preocupações dos cientistas, de acordo com um estudo dos Serviço de Monitorização do Meio Marinho do programa Copernicus.
No estudo que teve a colaboração de mais de 150 cientistas, de cerca de 30 instituições europeias, concluiu-se que o oceano está a passar por “mudanças sem precedentes”, o que terá “um enorme impacto” no bem-estar humano e nos ambientes marinhos.
Entre 1979 e 2020 por exemplo, a extensão do gelo marinho do Ártico perdeu o equivalente a seis vezes o tamanho da Alemanha. A perda contínua do gelo marinho do Ártico pode contribuir para o aquecimento regional, a erosão das costas árticas e as mudanças nos padrões climáticos globais.
O impacto do homem nos ecossistemas é visível e mesmo a Europa, onde há regras mais apertadas e há mais supervisão, não escapa. No final de 2020, 93% do mar europeu tinha sido afetado pela atividade humana, com poluição, perda de habitats e degradação dos ecossistemas, entre outros problemas, de acordo com um relatório da Agência Europeia do Ambiente. Os efeitos mais intensos se fazem sentir nas zonas costeiras do Mar do Norte, no Báltico, no Adriático e no Mediterrâneo ocidental.
Entre os problemas identificados estão a extração recursos vivos e não só, poluição das águas com nutrientes, produtos químicos, ruído e lixo subaquático, perturbações dos leitos marinhos, introdução de espécies estranhas, aquecimento, acidificação e perda de oxigénio da água, que têm efeitos combinados.
E este é um problema que tem vindo a ser cada vez mais discutido e que começa a ser combatido de forma mais assertiva. Recentemente, no início de outubro, a OSPAR aprovou a criação de uma nova Área Marinha Protegida (AMP), em águas internacionais e que abrange quase 600 mil quilómetros quadrados. A OSPAR é um mecanismo de cooperação que junta Alemanha, Bélgica, Dinamarca, Espanha, Finlândia, França, Irlanda, Islândia, Luxemburgo, Noruega, Países Baixos, Portugal, Reino Unido, Suécia, Suíça e União Europeia e resulta de duas convenções, de Oslo e de Paris, concebida para proteger o meio marinho do atlântico nordeste.
Os países comprometeram-se até 2030 em travar a perda de biodiversidade e a destruição de ecossistemas, pretendendo classificar como protegida 30% da área marítima da OSPAR, até 2030. Na poluição, incluindo por plástico, pretende reduzi-la em 50% até 2025 e em 75% até 2030, combatendo também “a disseminação de granulados de plásticos de origem industrial no ambiente marinho através de normas de prevenção e esquemas de certificação para toda a cadeia de abastecimento de plástico”, pode-se ler no comunicado final da reunião.
A indústria pesqueira, mas também de cruzeiros tem tido um papel crucial na degradação do meio ambiente marinho. Sobre o último, um estudo recente publicado em setembro de 2021 na revista especializada 'Marine Pollution Bulletin' mostrou que a indústria dos cruzeiros tem um impacto crescente contínuo tanto no ambiente como na saúde e bem-estar humanos.
No estudo, os investigadores salientam que um grande navio de cruzeiro pode ter uma pegada de carbono superior a 12.000 automóveis, e que os passageiros de um cruzeiro na Antártida podem produzir tantas emissões de dióxido de carbono (CO2) como a média europeia num ano inteiro. Dentro do Mediterrâneo, dizem, estima-se que as emissões de CO2 dos navios de cruzeiro e 'ferryboats' sejam até 10% de todas as emissões de navios. Um navio de cruzeiro que transporte 2.700 passageiros, pode produzir uma tonelada de resíduos por dia.
A pandemia de COVID-19 veio demonstrar que era possível cumprir metas do Acordo de Paris (estabelecidas 2015), em não deixar que o aquecimento global fosse além dos dois graus celsius (2ºC) em relação à época pré-industrial. Com o mundo confinado em casa, houve uma redução de emissões de gases com efeito de estufa (GEE), mas também um aumento exponencial na produção de materiais descartáveis.
As emissões de gases com efeito de estufa (GEE) podem ter diminuído 7% em 2020, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial, apesar de se ter registado um aumento da concentração de dióxido de carbono na atmosfera. Em abril de 2020, em confinamento, estudos indicavam que Portugal estava a emitir menos 52 mil toneladas de dióxido de carbono (CO2) por dia.
E depois? Ligar o mundo que fala português é uma hipótese
O que alguns poderão considerar uma loucura, para Francisco Lufinha o ir mais além é também uma forma de testar as suas capacidades. A sua ligação ao mar começou logo no primeiro mês de vida.
"Esta paixão pelo mar começou com os meus pais. Nasci em agosto e nesse mesmo mês fiz férias com os meus pais e irmãs mais velhas de barco e, nos anos todos que se seguiram, continuamos a ir. Fiquei com equilíbrio e muito à vontade em barcos graças aos meus pais", confidenciou.
No mar, sente-se como 'peixe na água'. E já não consegue viver sem essa paixão pelo mar.
"O feeling de andar à noite no mar, com o reflexo da lua cheia, é espetacular. Sentia-me um Vasco da Gama. É uma sensação sem preço e é por isso que eu faço isto, por esta paixão pelo mar", confidenciou, após a viagem para a Madeira.
"Navegar a noite é muito mágico, é uma das coisas que mais gosto, dá para pensar mais na vida, pensar como o Vasco da Gama, há muitos anos, sem tecnologia que se conhece hoje em dia... nem sabiam para onde iam no início, era preciso coragem e espírito e mente bastante abertos para arrancar nestas aventuras. Que é o que tenho um bocadinho, sei que há terra daquele lado, mas até lá chegar, não será fácil", completa.
Das travessias, coleciona momentos bons e outros menos bons. Como quando ligou Lisboa a Madeira em kitesurf.
"Houve uma delas em que perdi uma prancha a noite, não conseguia encontra-la, o barco não viu que eu tinha caído da prancha e seguiu viagem. Estive meia hora dentro de água, sem luz porque não havia lua, então tive de ativar um facho de mão, dos vermelhos luminosos, para que eles pudessem ver-me. Pararam e vieram resgatar-me, com outra prancha", conta.
"Houve outra em que uma das pessoas do meu barco de apoio teve de ser evacuada, conseguimos combinar com um navio da Transinsular que fazia viagem entre Açores e Lisboa e esse navio conseguiu vir ter connosco e em andamento pusemos um membro da nossa equipa no barco, a subir pelas escadas laterais do navio, sempre em andamento", recorda ainda.
Terminada esta odisseia marítima, restará pouco a este 'lobo do mar'. Esta ligação umbilical terá de ser mantida e o desejo de ir mais além, de testar os limites, tal como fizeram os portugueses na era dos descobrimentos, levará Francisco Lufinha a experimentar novos desafios, mais cedo ou mais tarde. Uma delas poderá passar por ligar Portugal aos países de língua portuguesa.
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