A pandemia de covid-19 e os confinamentos não significaram quilos a mais para todos: José Antonio Martin e Nuno Neves aproveitaram para preparar uma prova de resistência e Rui Batista para caminhar “horas” e escrever um livro.
A declaração pela Organização Mundial de Saúde, a 11 de março, do estado de pandemia devido ao vírus SARS-CoV-2 não foi um caminho de sentido único para estes residentes na zona do Grande Porto, que reagiram aos efeitos do confinamento, nomeadamente psicológicos, para cumprir ou descobrir objetivos.
José Antonio Martin, de 40 anos, vive em Gondomar e, com a chegada do novo coronavírus, viu-se no desemprego e sem possibilidade de visitar a família em Madrid, Espanha, situação que “pesou muito psicologicamente”, até resolver cumprir o sonho, com anos, de “começar a treinar para o triatlo ironman [homem de ferro, em inglês]”
“Ter este objetivo ajuda-me a desligar do mundo exterior, a tentar esquecer todos os problemas, a dormir à noite. É complicado estar tanto tempo sem estar com a minha família”, relatou.
A ideia de começar a treinar para o ironman já vem de há muitos anos.
“Sabia que, para o poder fazer, precisava de ter tempo, muito tempo, o que por desgraça desta pandemia o acabei por ter da forma que não desejava”, disse.
Composta por uma prova de natação de 3,8 quilómetros, outra de ciclismo de 180 km e mais uma maratona a correr (42,195 km), a competição tem de ser percorrida em 17 horas, explicou José Antonio Martin.
Optando por sair diariamente da cama às 06:00, o espanhol a viver desde 2018 em Gondomar começou a treinar, afastando-se cada vez mais de casa com recurso à tecnologia e ao engenho para “descobrir todos os dias” novas rotas de treino de corrida e ciclismo.
“Resolvi o problema do desconhecimento dos trajetos recorrendo ao GPS e ao carro, conhecendo e memorizando na véspera os percursos que iria fazer no dia seguinte”, explicou o antigo paraquedista do exército espanhol.
Com “oito maratonas normais e três de 101 quilómetros” no currículo, José Antonio Martin tem no Challenge Madrid, prevista para junho de 2021, o objetivo de toda a dedicação.
“O objetivo é terminar de dia, ou seja, fazer menos de 13 horas. A prova vai decorrer entre as 08:00 e as 21:00”, disse à Lusa.
Nuno Neves, de 45 anos, de Valongo, conheceu o agora colega de treino na loja de bicicletas quando, já há uns meses, treinava “também para manter a mente ocupada” depois de a pandemia lhe ter “interrompido o negócio”.
“Desafiado pelo Antonio”, o que começou por ser “treinar para manter a cabeça ativa”, passou a um desafio quando perguntou a si próprio “e porque não criar aqui um objetivo e delinear algo com sentido como automotivação?”.
Detalhado sobre o Challenge de Madrid concordou em participar e, “a partir de janeiro”, começam a treinar juntos”, observou.
“Vai ser importante, pois ele vai ajudar-me na corrida e eu a ele no ciclismo, completando-nos”, disse Nuno Neves que, na prova em junho quer, sobretudo, “acabar satisfeito”.
E explicou: “Quero poder desfrutar do momento e não ir a sofrer do princípio ao fim, sendo que, no atletismo, irei ter alguma dificuldade. Não quero arranjar nenhum problema de saúde”.
Rui Batista, 50 anos, ‘blogger’ e vice-presidente do Cooperativa do Povo Portuense, uma instituição de solidariedade social, converteu as dificuldades sociais geradas pelo confinamento que lhe tirou “horas de sono” em caminhadas de “cerca de duas horas, todas as madrugadas”.
Juntando a isso o facto de viver sozinho e ter de cozinhar, o resultado “foram oito quilos perdidos num mês” e o início de “um projeto adiado há vários anos”, o de escrever um livro das suas “viagens a mais de 100 países” a que chamou ‘BORNFREEE O mundo é uma aventura’.
“Durante dois meses e meio produzi diariamente o livro, mantendo as caminhadas madrugadoras em que, muitas vezes, fui a única pessoa na rua. Escrever foi a melhor forma de esquecer os problemas da cooperativa e de não poder estar com os meus pais, que vivem em Guimarães, e com quem, desde março, estive apenas três vezes”, confessou à Lusa, onde é jornalista na redação do Desporto.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.703.500 mortos resultantes de mais de 77,2 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
Em Portugal, morreram 6.254 pessoas dos 378.656 casos de infeção confirmados, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.
A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.
Comentários