"Consegui fazer um arranque super tranquilo, consegui ganhar a frente da prova e, no momento, em que estava a ganhar ainda mais avanço sobre os adversários entrei numa zona que tinha algumas folhas das árvores, algumas plantas e infelizmente algumas agarraram-se à frente do barco. Aí perdi alguma velocidade para tentar libertar essa folha da frente e, a partir daí, foi sempre a perder velocidade", começou por explicar.
Depois, o canoísta português perdeu o controlo da embarcação, porque, na sua opinião, alguma folha deve ter ficado presa ao leme.
"A partir daí, foi sofrer para tentar minimizar os estragos. Infelizmente não consegui chegar ao pódio, porque a folha colou muito de início. Claro que para mim é frustrante, quatro anos da minha vida, depois de passar por imensa dificuldades, imensos obstáculos e desafios e chegar aqui e não ver a recompensa, a merecida recompensa. Magoa-me muito, porque são coisas que não sou eu que vou controlar", lamentou.
Desolado, o campeão Europeu de K1 1.000 metros confessou ainda não acreditar no azar que teve.
"Todos os fatores que podia controlar, controlei e controlei muito bem. Os sacrifícios que eu tinha a fazer, fiz. Aquilo de que tinha de abdicar, abdiquei - dos amigos, da família, até de dizer sim às sobremesas. Fiz muitos sacrifícios em termos alimentares para estar aqui na melhor forma de sempre e aconteceu o que aconteceu. É muito estranho. Acho que não vou conseguir cair na real, estava-me a sentir ainda melhor do que no Europeu. Os indicadores que o meu treinador tem apontavam a que eu ia estar mais forte do que no Europeu", assegurou.
Fernando Pimenta sabia que havia a probabilidade de encontrar obstáculos externos nas águas da Lagoa Rodrigues de Freitas, uma vez que, em setembro passado, no evento-teste, andou 15 minutos a apanhar algas antes da sua prova.
"Desta vez eram folhas que estavam soltas, não eram folhas presas ao fundo da Lagoa. Houve uma altura em que andei a fazer um bocado de ‘slalom’, nas filmagens dará para ver isso, perfeitamente. Quando comecei a perder velocidade não é que tivesse, como se costuma dizer, ‘rebentado’, ou deixado de ter energia, porque estou com as ‘baterias’ completamente cheias. Se fosse necessário fazer uma, duas ou três provas agora fazia, porque preparei-me muito bem", garantiu.
O medalha de prata de Londres2012 em K2 1.000 metros (ao lado de Emanuel Silva) voltou a frisar que se sentiu bem fisicamente durante toda a prova olímpica,
"Como já referi, os indicadores que tínhamos eram os melhores de sempre. Bati os recordes todos que tinha dos treinos. E tinha tudo para chegar aqui e correr lindamente. Depois, lá está, os fatores externos acabam sempre por influenciar as modalidades ‘outdoor’ e agora tenho de levantar a cabeça. Daqui a dois dias entro em competição no K4, esta já passou. Agora é respirar e tentar descontrair o máximo possível. É muito duro, muito duro", disse.
Fernando Pimenta desvalorizou ainda a má prestação do dinamarquês René Poulsen, campeão mundial em 2015, e do alemão Max Hoff, bronze em Londres2012, que ficaram atrás de si, indicando que não é o mal dos outros que lhe vai dar ânimo.
"Ficava feliz era se tivesse ficado em 1º e eles em 2º ou 3º. Agora isto são os Jogos Olímpicos, tudo isto é feito numa única prova, provavelmente que fizéssemos agora outra vez, à melhor de três, as coisas seriam bem diferentes. Infelizmente não é, tudo é jogado numa única prova. Dei o meu melhor, dei o meu máximo, estou de consciência tranquila, agora estou muito triste por não sair daqui com o resultado que eu merecia. Tenho a certeza que merecia muito mais. As pessoas que me acompanham nos momentos mais difíceis também mereciam isso", concluiu, antes de começar a chorar.
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