A nadadora Ana Rodrigues é a atleta mais jovem da Missão Olímpica Portuguesa e parte hoje para Londres, onde, satisfeita «por ver o espetáculo na primeira fila», disputará no domingo os 100 metros bruços com uma postura «cautelosa».
Aos 18 anos, a atleta que nasceu em Paredes e vive em São João da Madeira já ganhou uma medalha de bronze nos Jogos Olímpicos da Juventude, realizados em Singapura em 2010, mas reconhece que a participação nos Jogos Olímpicos Londres2012 é o «ponto alto» da sua ainda breve carreira.
«Sou muito nova e esta vai ser uma competição totalmente diferente daquelas a que estou habituada. Participar é um sonho realizado e só o facto de estar lá a ver os Jogos na primeira fila já é espetacular», confessou, em declarações à agência Lusa.
É com essa postura destinada a «evitar deslumbramentos» que a nadadora pretende competir em Londres.
«Acho que nunca devemos estar demasiado confiantes, nem demasiado pessimistas. Mas a concorrência é muito forte, a principal candidata da minha prova é a norte-americana Rebecca Soni - que é fantástica em todos os aspetos - e é por isso que eu prefiro ser mais cautelosa e concentrar-me em melhorar os meus tempos», referiu.
Nas últimas semanas, Ana Rodrigues repartiu a sua agenda entre os exames nacionais de acesso à Universidade - candidatou-se a Psicologia Clínica no Porto - e os treinos no Complexo Desportivo Paulo Pinto, onde no inverno nada na piscina coberta, aquecida, e no verão ocupa uma pista na de água fria, ao ar livre.
«Na piscina quente às vezes o ar é muito abafado e dificulta-me a respiração», conta a atleta, que começou a nadar aos três anos, por recomendação médica relacionada com as suas frequentes constipações.
«Na piscina exterior também há muito barulho e gente a saltar mesmo ao nosso lado, mas a verdade é que as contrariedades e os obstáculos ajudam sempre a tornarmo-nos mais resistentes», garantiu.
Na competição propriamente dita, Ana Rodrigues iniciou-se aos seis anos, na mesma Associação Estamos Juntos que representa atualmente, mas «o bichinho a sério só apareceu mais tarde», quando a atleta bateu um recorde nacional em Juniores e percebeu que a sensação das vitórias «era diferente».
A partir daí, a sua rotina alterou-se: «O habitual na fase das competições é fazer o primeiro treino às 06h30, depois ir para as aulas às 08h30 e voltar à piscina às 18h30 para mais duas horas a nadar. Três vezes por semana ainda vou ao ginásio trabalhar em máquinas que melhorem a minha força ou resistência e não sei o que fazer da vida quando estou de férias e parece que não tenho nada com que me ocupar».
Apesar desse quotidiano preenchido, a benjamim da Missão Olímpica Portugal de 2012 garante que sempre conseguiu «conciliar tudo muito bem e fazer os estudos direitinho», e acrescenta que ainda lhe «sobra tempo ao sábado à tarde e ao domingo» para o que é típico quer da idade, quer do género.
«Não sou daquelas atletas que não ligam nenhuma às coisas de mulheres e sei separar as coisas», reconhece a jovem. «Gosto de ser feminina, uso sempre hidratante no corpo para evitar os efeitos do cloro e, quando saio com os amigos, gosto de me pôr mais bonitinha, embora muito natural, sem nada de maquilhagens».
Para a nadadora que acompanhou todas as transmissões televisivas das provas de natação em Pequim2008 e que acordava a mãe às quatro da manhã para lhe contar os resultados, o que estava a faltar era mesmo a participação nos Jogos.
«Adorei o ambiente dos Jogos e foi nessa altura que comecei a querer representar a nossa seleção. Quando o meu treinador me disse que estava bem classificada no ‘ranking’ e que só faltava a confirmação, fiquei logo toda feliz. Quando tivemos a certeza de que eu ia, fiquei radiante todo o dia e o sorriso não me desaparecia da cara», confessou.
Calma e tranquila, «pelo menos até chegar o dia da prova», Ana Rodrigues diz-se algo supersticiosa, mas revela que os seus únicos rituais de preparação são «uns aquecimentos próprios, muito específicos», que a deixam mais segura antes de começar a nadar.
Conselhos e dicas agradeceria os do treinador que a acompanha há 12 anos, mas o facto de Luís Ferreira não integrar a comitiva oficial portuguesa não a perturba.
«Ele é a pessoa que mais sabe o que eu precisaria de ouvir nesta ou naquela circunstância, mas também me ensinou sempre a ser independente, para eu nunca ficar sem saber o que fazer», referiu.
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