As ucranianas Maryna Bekh-Romanchuk e Anna Ryzhykova discordam da autorização dada pelo Comité Olímpico Internacional (COI) à participação de atletas russos e bielorrussos nos Jogos Paris2024 sob bandeira neutra, por ser contrária aos valores olímpicos.

A saltadora e a barreirista estão a treinar em Monte Gordo, no concelho de Vila Real de Santo António, e assumiram, em entrevista à agência Lusa, a incompreensão com a decisão do COI, considerando que o argumento de não punir o trabalho dos atletas russos e bielorrussos devido à operação militar da Rússia na Ucrânia não faz sentido, porque o conflito também tem efeitos no desporto ucraniano.

“Não faz sentido a participação com bandeira russa ou neutra. Toda a gente sabe de onde esses atletas são, porque só um país terá essa bandeira neutra”, afirmou Anna Ryzhykova, defendendo que esses atletas, para poderem participar nas competições e nos Jogos Olímpicos deviam primeiro condenar a guerra.

Anna Ryzhykova lamentou que não haja “um sistema que permita distinguir os atletas que apoiam ou não apoiam a guerra” e disse que “há um número elevado de atletas russos e bielorrussos que apoiam” o conflito armado na Ucrânia.

“Os Jogos Olímpicos representam a paz, os valores olímpicos, mas se eles não respeitam esses valores olímpicos, não deviam poder participar”, posicionou-se a barreirista ucraniana.

A medalha de bronze na estafeta 4x400 metros em Londres2012 elogiou a posição da World Athletics, presidida por Sebastian Coe, que manteve a proibição de russos e bielorrussos competirem no atletismo, mesmo sob bandeira neutra.

“Temos [na World Athletics] um presidente forte, com uma opinião corajosa, que nos apoia e está do nosso lado, porque sabe o que está a acontecer e não deixa que ninguém o pressione”, afirmou, opinando que a decisão COI foi tomada com base “no dinheiro”.

A atleta considerou que o afastamento de russos e bielorrussos nas competições internacionais “obrigaria a refletirem na razão pela proibição”, em vez de “dizerem que os ucranianos têm de morrer e irem aos Jogos Olímpicos”.

Maryna Bekh-Romanchuk também considerou que “não é normal” o COI ter aprovado a participação sob bandeira neutra, “porque muitos atletas russos apoiam e não dizem nada para condenar a guerra”.

“No entanto, na Ucrânia não é possível viver em liberdade, com normalidade”, contrapôs, argumentando que “muitas crianças ucranianas tiveram de deixar o país, muitas das infraestruturas desportivas estão destruídas”, referiu a duas vezes vice-campeã do mundo do triplo salto, em Oregon2022 e Budapeste2023.

A saltadora deu o exemplo do marido, o nadador Mykhailo Romanchuk, que se viu impossibilitado de treinar no seu país, porque “muitas piscinas foram destruídas”, e teve de rumar à Alemanha.

“Mas houve uma altura em que ele disse que devia voltar para casa e não queria estar na Alemanha, porque tinha a cabeça cansada”, acrescentou, salientando que os atletas russos e bielorrussos “dormem bem e trabalham no seu país”, enquanto os ucranianos se deparam com a dificuldade de treinar fora de casa e com a incerteza sobre o futuro.

Bekh-Romanchuk também agradeceu a posição da World Athletics de impedir a participação de russos e bielorrussos nas suas competições

“Agradeço ao Sebastian Coe, porque ele apoiou a Ucrânia, teve uma posição que não se alterou, e para nós isso é muito importante e eu agradeço”, afirmou, reconhecendo que a mera presença de um rival russo ou bielorrusso “afeta logo a condição mental” e condiciona também a prestação dos atletas ucranianos.