Os Jogos Olímpicos Paris2024 foram uma recompensa pelo trabalho efetuado durante quatro anos, com Artur Lopes a admitir que houve deceções, mas a notar que o Comité Olímpico de Portugal “vai muito mais além dos resultados”.

“Fizemos uma avaliação mais sumária e agora mais pormenorizada federação a federação, modalidade a modalidade, e voltamos ao início: foram realmente uns Jogos Olímpicos que nos deram um prazer enorme e que nos deram, de facto, recompensação em relação àquele trabalho todo que foi efetuado durante os quatro anos, no mandato do José Manuel Constantino […], [e os atletas] chegaram às medalhas que chegaram, aos diplomas que chegaram. E, portanto, foi uma sensação de dever cumprido”, resumiu.

Em entrevista à agência Lusa, a propósito da avaliação dos resultados de Paris2024, quando decorreram três meses desde a cerimónia de encerramento dos Jogos Olímpicos, o presidente do Comité Olímpico de Portugal revelou que “o relatório interno da Missão até já foi aprovado na comissão executiva” do organismo.

Portugal saiu da capital francesa com a sua melhor Missão olímpica de sempre, graças ao ouro no madison dos ciclistas Rui Oliveira e Iúri Leitão, que também conquistou a prata no omnium, o mesmo ‘metal’ alcançado por Pedro Pichardo no triplo salto, e ao bronze da judoca Patrícia Sampaio, mas Artur Lopes concede que alguns resultados “até para os próprios atletas foram dececionantes”.

“Quando se questiona os resultados… esta casa vai muito mais além dos resultados. Foi isso que nos deixou o legado de José Manuel Constantino. Não olhar para aquilo que é só a flor que surge, ou a folha que surge no cimo da árvore, temos de ir à raiz. Temos de estudar e ver bem a evolução do que é o trabalho de quatro anos, temos de o fazer passo a passo, temos que o fazer de uma maneira concertada com as federações”, alertou.

O máximo dirigente desportivo nacional nota ainda que “provavelmente há atletas que tiveram resultados menos conseguidos”, mas cujo trabalho é reconhecido pelo COP, até porque, em alguns casos, conseguiram “recordes pessoais que são mais-valias para o somatório final dos Jogos Olímpicos”.

Sem querer aprofundar as conclusões do relatório da Missão, que tem 400 páginas e ainda “tem de ser estudado, relido, visto federação a federação”, num trabalho que descreveu como “extremamente profundo”, Artur Lopes admitiu, contudo, que é um “anseio” do COP que as modalidades coletivas estejam presentes nos Jogos, o que não aconteceu em Paris2024.

“Além de modalidades que não foram, há atletas que não conseguiram a sua qualificação, sendo atletas de excelência. Sabemos já do passado, de toda a sua vida desportiva, que são atletas que são perfeitamente capazes de ter a excelência suficiente para chegar aos Jogos. Não o conseguiram? Todos nós temos questões na nossa vida que não conseguimos. Foi o que aconteceu”, analisou.

No entanto, de acordo com o presidente do COP, “tudo isso” vai ser fruto de estudo e de “uma reflexão profunda”, no sentido de não se perderem esses atletas.

“Não os vamos deixar cair, vamos tentar continuar a acompanhá-los de uma forma muito pró-ativa de maneira a que eles possam continuar na senda do melhor percurso desportivo e chegar aos Jogos. […] Essas razões têm de ser ultrapassadas o mais rápido e melhor possível, quer para o atleta quer para o desporto nacional”, pontuou.

Inscritos no contrato-programa, os objetivos para Paris2024 consistiam ainda, além das quatro medalhas, em 15 diplomas, 57 pontos entre os oito primeiros, 36 classificações entre os 16 primeiros, a presença em 66 eventos de medalhas distribuídos “de forma equitativa em termos de género”, em 17 modalidades - a Missão lusa foi integrada ‘apenas’ por 15 desportos.

Depois dos 11 diplomas, e da melhor pontuação de sempre em Jogos Olímpicos em Tóquio2020 (78 pontos, atribuídos aos atletas classificados entre o primeiro e o oitavo lugares, mais 27 do que em Atenas2004), Portugal alcançou em Paris2024 14 posições ‘diplomadas’ e 57 pontos, além de 33 classificações até ao 16.º lugar.

Questionado sobre se os objetivos estabelecidos no contrato-programa com o Governo para estes Jogos foram demasiado ambiciosos, Artur Lopes foi perentório a responder que não.

“[José Manuel Constantino] era um profundo conhecedor do desporto e um profundo ambicioso. Era um profundo homem de ambição, de querer mais e isso é a demonstração desta casa. Esta casa não ficou estagnada. Como ele sempre dizia, ‘não queremos ser só uma agência de viagens para mandar meia dúzia aos Jogos’. Não, esta casa tem de ir mais além”, concluiu, confessando “um grande prazer” por perceber que o COP “está num nível extremamente alto, para além das missões”.