O presidente da Federação Portuguesa de Atletismo (FPA) criticou hoje o “tabu” mantido pelo Comité Olímpico Internacional (COI) sobre o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio2020, que pode levar os atletas a colocar-se “em risco”.

Em declarações à agência Lusa, Jorge Vieira manifestou-se favorável ao adiamento imediato da competição e advertiu que o prazo de quatro semanas, apontado no domingo por Thomas Bach, presidente do COI, é “demasiado tardio”.

“É pena que se esteja a manter o tabu, pois está-se a forçar os atletas a procurar situações de treino que podem não ser seguras para a sua saúde e leva a que continuem a esforçar-se angustiados pela incerteza. As pessoas procuram segurança através de decisões concretas”, sublinhou o líder da FPA.

Jorge Vieira acredita que a manutenção dos Jogos Olímpicos na data prevista, de 24 de julho a 09 de agosto, conjugaria diversos fatores que tornariam a competição “desequilibrada e injusta” e considerou mesmo que “o espírito olímpico não seria respeitado”.

“Já não é justo porque há países mais ricos que outros e isto acentuaria as diferenças, porque há atletas que conseguem resolver os seus problemas de treino com mais facilidade do que outros. Tudo isto causa desequilíbrios em termos de oportunidades e de saúde”, apontou o dirigente.

Além disso, segundo Vieira, o controlo antidoping a nível mundial não está garantido, uma vez que neste momento “não há cadeias de controlo” e há sempre “quem se aproveite destas situações”, o que é mais um fator a favor do adiamento de Tóquio2020, apesar de todas as implicações logísticas e financeiras.

“O cancelamento é impensável, mas o adiamento levanta outro problema, que é 'para quando'. É uma cadeia de consequências inimaginável, que implica avançar todo o calendário a nível mundial. E falo só pelo atletismo, pois no desporto em geral será esmagador”, concluiu o presidente da FPA.

O novo coronavírus, responsável pela pandemia da covid-19, já infetou mais de 341 mil pessoas em todo o mundo, das quais mais de 15.100 morreram.

Depois de surgir na China, em dezembro, o surto espalhou-se por todo o mundo, o que levou a Organização Mundial da Saúde (OMS) a declarar uma situação de pandemia.

Vários países adotaram medidas excecionais, incluindo o regime de quarentena e o encerramento de fronteiras.

Em Portugal, há 23 mortes e 2.060 infeções confirmadas. O país está em estado de emergência desde as 00:00 de quinta-feira e até às 23:59 de 02 de abril.