O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) criticou hoje a "falta de resposta política" do Governo para o setor do desporto face à pandemia de covid-19, após o envio de uma carta aberta ao primeiro-ministro.

Em declarações à Lusa, José Manuel Constantino menciona que a carta aberta, hoje enviada a António Costa e assinada por COP, Comité Paralímpico de Portugal (CPP) e Confederação do Desporto de Portugal (CDP), vem pedir medidas para o setor, "na linha" de outras missivas já enviadas ao Governo, inicialmente "muito centradas" na resposta sanitária à pandemia, expondo agora um momento crítico para o desporto.

Ao lado da "completa ausência de resposta àquilo que a pandemia está a gerar no desporto", Constantino diz levar "em linha de conta que a partir do momento em que foi conhecida a situação de condicionamento à atividade desportiva, houve um conjunto de medidas" que permitiram evitar "um colapso na situação desportiva", como as relacionadas com os programas olímpico e paralímpico, estendidos até 2021.

"Só que a situação não se esgota nesse tipo de medidas. À semelhança do que os governos europeus têm feito, é necessário um pacote de medidas, designadamente de compensação financeira, para que os pequenos clubes possam ser ressarcidos, pelo impacto económico da paralisação, e possam manter-se em atividade. É absolutamente indispensável encontrar políticas públicas robustecidas em função do que a situação exige dos governos", afirma o dirigente.

Neste momento, algumas atividades desportivas correm o risco de "a prazo terem de paralisar", por "muita dificuldade em retomar alguma normalidade", e "o único modo de atacar" essa falta de capacidade "é com medidas de apoio, financeiro e não só, à semelhança do que está a ser adotado para outros setores da atividade social".

"O Governo tem adotado, e bem, um conjunto de medidas que permitam minorar os efeitos da situação pandémica, de natureza política, económica, financeira e fiscal. Aquilo que nós solicitamos é que, na linha das propostas que apresentámos ao Governo, haja também um conjunto de medidas para o setor desportivo", atira.

As estruturas representativas do desporto alertaram hoje para a crise criada pela pandemia provocada pelo novo coronavírus, em carta aberta ao primeiro-ministro, assinalando o "impacto social, económico, cultural e político" no setor, devido à ausência de respostas.

"A situação pandémica deu origem a uma crise desportiva. E esta requer uma resposta política através de iniciativas públicas robustecidas pela excecionalidade da situação. O que se constata é a ausência de medidas adequadas ao que a situação exige", lê-se na missiva.

Na carta aberta enviada hoje a António Costa, a que a agência Lusa teve acesso, as três estruturas consideram "que, para o Governo de Portugal, não está a ser tomado em devida conta o impacto social, económico, cultural e político que o desporto representa".

No mesmo documento, COP, CPP e CDP admitem que o desporto "tem sido um dos setores mais vulneráveis ao impacto económico, social e sanitário da covid-19, por força das restrições impostas que inibem ou impossibilitam a prática de atividade física e desportiva, traduzidas em relevantes prejuízos para a sua sustentabilidade".

Com a declaração de pandemia, em 11 de março, as competições desportivas foram disputadas sem público, canceladas ou adiadas - casos dos Jogos Olímpicos Tóquio2020, do Euro2020 e da Copa América - ou suspensos, nos casos dos campeonatos nacionais e provas internacionais de todas as modalidades.

A pandemia de covid-19 já tinha levado à suspensão das competições de futebol, em 12 de março, tendo a I Liga sido retomada em 03 de junho, e ao cancelamento das competições seniores das modalidades de pavilhão, sendo que as camadas jovens ainda não retomaram as provas.

Após o fim do campeonato, em 16 de julho, e da final da Taça de Portugal, uma semana depois, as edições de 2020/21 da I Liga e da II Liga arrancaram, respetivamente, em 18 e 10 de setembro, com alguns jogos adiados, mas sem suspensões.

As competições seniores de modalidades coletivas de pavilhão também foram retomadas, assim como o Campeonato de Portugal de futebol, terceiro escalão, e as competições distritais.

Depois de terem sido autorizadas as competições de desportos individuais, a retoma das modalidades coletivas foi regulamentada pela DGS, em 25 de agosto.

Nessa altura, a atualização das normas permitiu a retoma de futebol não profissional, andebol, futsal, basquetebol, voleibol e hóquei em patins, todas consideradas como modalidades de médio risco, fazendo a atividade depender de um regulamento específico e da avaliação dos riscos de contágio.

Estas modalidades ficaram dispensadas de realizarem testes, para os casos de treinos ou "competições entre equipas de zona(s) sem transmissão comunitária ativa".

Já o râguebi e os desportos de contacto, como judo, polo aquático e ginástica acrobática, foram integrados no grupo de alto risco, obrigando os praticantes destas modalidades à realização de testes ao novo coronavírus até 48 horas antes da competição.