"Cá só estão os 16 melhores do mundo, por isso eu só tenho de pensar no primeiro combate, no primeiro ‘round’, no primeiro ponto e, a partir daí, pensar no ponto seguinte, no segundo seguinte. Não me adianta estar a pensar muito para a frente. Eu já disse isto várias vezes: para chegar ao ouro não é uma final, são quatro finais. Só tenho de pensar no primeiro combate e depois logo se vê", defendeu numa conversa com os jornalistas na Aldeia Olímpica.

Ouro nos Jogos Europeus de Baku2015 e bicampeão europeu na categoria -58kg, Rui Bragança recusou assumir-se como candidato ao título olímpico.

"Pode perguntar aos 10.500 atletas que estão aqui se está no pensamento deles o ouro. Nós somos atletas, estamos aqui para dar o nosso máximo, por isso acho que isso nem é uma pergunta. [O ouro] é possível para os 16. Todos nós temos o currículo para conseguir lá chegar. Vamos ver quem no dia 17 está melhor", continuou.

O jovem vimaranense, de 24 anos, desvalorizou o seu currículo, lembrando que, apesar de ser bicampeão da Europa, em prova no Rio estarão bicampeões asiáticos ou bicampeões mundiais.

"Eu sou o número três do ‘ranking’ olímpico, temos o número um, o número dois. Quando entro para o combate está 0-0 na mesma, ninguém me dá mais um ponto, menos um ponto. É o dia, é aquele momento que estamos lá dentro, é impossível prever o que vai acontecer", garantiu.

Para Rui Bragança, quanto mais descontraído estiver no dia do combate, melhor. "Se chegar lá com um sorriso na cara, é a melhor coisa que me pode acontecer. Isto é aquilo que eu mais gosto, isto é o jogo, são aqueles seis minutos em que o mundo desaparece. Se eu conseguir entrar lá dentro e fazer aquilo que mais gosto, aquilo que melhor sei, é quando tenho mais probabilidade de que as coisas corram bem", argumentou.

Realçando que o perigo pode vir de todos os lados, uma vez que o taekwondo é uma modalidade completamente global, o atleta do Vitória de Guimarães voltou a referir que vai entrar em competição sem pensar no pódio ou nos títulos dos jornais.

"Vou dormir é com a ideia de como vou entrar lá dentro, qual vai ser a minha atitude, se eu estiver cansado o que é que vou fazer, se me sentir bem o que vou fazer. Isto aqui é a prova mais importante do mundo, não há lugar para estar a pensar em jornais", explicou.

Bragança destacou que ele e a sua equipa trabalharam para que pudesse chegar ao Rio2016 no melhor momento de forma de sempre, uma preparação que só a competição de quarta-feira poderá confirmar.

"Neste momento, sinto-me muito bem. Fizemos a preparação que achávamos que era necessária, não me lembro de me sentir assim tão bem para uma competição, mas nem sempre o que vamos sentindo antes é aquilo que se revela naquele dia", frisou.

Para ganhar as suas quatro finais, a receita é simples: não sofrer pontos. "Um atleta tem de marcar e não pode sofrer pontos. Como é que o faz? Só ele é que o sabe. Eu sou um atleta que vai muito pela tática. Há atletas que vão pela força, outros pela resistência. Há muitas discussões sobre o que é melhor, no meu caso é ir pela parte tática e tentar resolver um problema de mil e uma formas", explicou.

A viver a sua estreia olímpica, o vice-campeão mundial de 2011 contou que estar na Aldeia Olímpica é diferente de tudo o resto que já viveu.

"Olhamos à volta e estamos a ver um campeão do mundo, um campeão da Europa. Qualquer sítio para onde olhamos estamos a ver o melhor atleta daquela modalidade e isso é uma coisa que nos pode impressionar. Temos de chegar aqui e tentar manter nas nossas ideias aquilo que costumamos fazer e não deixar que este mundo todo nos impressione", disse.

Para criar uma ‘muralha', o espontâneo lutador luso tem tentado manter as suas rotinas, sem andar a passear de um lado para o outro. "Até ao dia da competição estamos aqui para treinar, descansar, comer e no dia 17 combater", concluiu.