Numa altura em que nos encontramos a cerca de um mês do final da temporada a nível nacional, é normal que os clubes já se encontrem a preparar as contratações que pretendem realizar para 2025/26. O que, no caso do Benfica, pode significar o regresso de alguns jogadores com um passado importante no clube. Pelo menos, se tivermos em conta as notícias que saíram na imprensa desportiva ao longo das últimas semanas, que apontaram a possibilidade de Bernardo Silva, João Félix, Nélson Semedo e até Victor Lindelöf regressarem à Luz no verão. Mas será esta a abordagem mais apropriada tendo em vista o reforço da equipa para a próxima época? Vamos por partes.

Em primeiro lugar, importa referir que dotar o plantel do Benfica com jogadores do calibre de Bernardo, Félix, Semedo ou Lindelöf faria, naturalmente, com que a qualidade, a experiência e a maturidade competitiva da equipa à disposição de Bruno Lage aumentassem. Afinal, estamos a falar de atletas com provas dadas ou na Liga Portuguesa, ou em alguns dos melhores campeonatos do mundo, como são os de Inglaterra e Espanha. Acredito, no entanto, que esses possíveis regressos ao clube teriam outro objetivo por detrás, que vai para além das capacidades desses futebolistas dentro das quatro linhas, embora esse deva ser sempre o fator mais importante na escolha de novos reforços: a ligação emocional que os adeptos têm com esses mesmos jogadores. Os quatro nomes que já mencionei como possíveis contratações de verão do Benfica sabem bem o que é vestir a camisola do clube, a sua cultura e a exigência da massa adepta, seja por terem brilhado de águia ao peito no passado ou por terem sido formados no Seixal desde tenra idade. E isto para não falar do estatuto que esses jogadores teriam no balneário, no qual seriam figuras importantes, capazes de estabilizar a equipa em momentos decisivos ou emocionalmente mais delicados, assim como ajudar a desenvolver os jovens talentos que se tentam afirmar na equipa principal, e que querem e precisam de aprender com quem já sabe mais do que eles.

Fazer regressar futebolistas com essa reputação poderia ter, adicionalmente, a capacidade de valorizar o projeto do Benfica, podendo ser interpretado como um sinal de força e ambição do clube se considerarmos o objetivo de comprovar o seu estatuto a nível nacional e reafirmar-se no plano internacional, alcançando melhores resultados e tendo mais sucesso nas competições europeias. Mais: ter no plantel nomes sonantes e que são do agrado dos adeptos é uma forma de gerar entusiasmo, vender camisolas, gerar audiências, levar mais gente ao estádio e até atrair novos patrocinadores.

Há, contudo, o outro lado da moeda. E se o regresso destas caras conhecidas à Luz tem vantagens associadas, a verdade é que também existem fatores que me deixam com mais dúvidas. Começando, desde logo, com o custo elevado que trazer os referidos jogadores de volta poderia significar para o Benfica. Bernardo, Félix, Semedo e Lindelöf têm salários bastante elevados - se calhar, até proibitivos - para a realidade do futebol português, pelo que importa analisar o custo-benefício das suas contratações e fazê-lo de forma neutra e imparcial. Isto é, sem que o lado emocional leve a melhor perante o racional.

A nostalgia, de resto, nem sempre nos leva a tomar as melhores decisões, e o futebol já nos deu provas suficientes disso mesmo. As expectativas que existiriam nesses jogadores seriam muito altas, havendo, por isso, o risco de desilusão se o rendimento estiver aquém do esperado ou mesmo se a equipa não melhorar e não obtiver resultados condizentes com a qualidade dos atletas. E, se isso acontecer, Rui Costa e a restante direção do Benfica serão criticados também por terem envelhecido o plantel e atrasado a aposta em jovens da formação sem o retorno esperado.

Por fim, mencionar ainda que não sabemos as motivações por detrás da vontade destes jogadores em voltar à Luz. Haverá mesmo o desejo e a ambição de fazer com que o Benfica alcance, como equipa, um patamar competitivo superior? Ou estaríamos na presença de futebolistas que veriam este regresso ao clube como uma solução de último recurso, numa altura em que já não têm tanto mercado lá fora (algo que, a meu ver, não se aplica tanto a Bernardo como aos restantes)?

Em suma, o Benfica deve avaliar muito bem, e de forma isolada, se estes regressos ao clube fazem sentido, analisando cuidadosamente as implicações, tanto desportivas como financeiras, associadas às contratações dos já referidos jogadores para a próxima temporada. Aproveitar o mercado de transferências para trazer reforços de qualidade será sempre vantajoso para qualquer equipa, mas não pode colocar em causa o futuro do clube. É, por isso, crucial que o Benfica mantenha uma abordagem racional e alinhada com o seu projeto e com os objetivos desportivos que tem para o mesmo, garantindo que todas as contratações que faça para a equipa principal estejam de mãos dadas com os mesmos. Os retornos de jogadores como Bernardo, Félix, Semedo ou Lindelöf podem ser vistos como oportunidades de ouro, mas as suas integrações no plantel devem fazer parte de um plano sustentado e direcionado para o sucesso no curto, médio e longo prazo.