O presidente do Comité Olímpico de Portugal (COP) reconheceu que a prestação da Missão portuguesa aos Jogos Olímpicos Tóquio2020 superou as expectativas que tinha, embora não tenha alcançado “o limite” do seu valor desportivo.

“[A prestação em Tóquio2020] superou as minhas expectativas, não superou o limite daquilo que eu considerava, do ponto de vista desportivo, que era possível Portugal alcançar, porque encontro valor na nossa Missão olímpica para os resultados poderem ter sido diferentes para melhor do que aquilo que foram”, admitiu José Manuel Constantino, em entrevista à agência Lusa.

Naquele que foi o primeiro ‘balanço’ público da melhor participação de sempre de Portugal em Jogos Olímpicos, o presidente do COP considerou que “os resultados foram excecionais quando comparados com aquilo que é o histórico” das missões nacionais, mostrando-se “plenamente satisfeito e reconhecido aos atletas, aos treinadores e às federações desportivas pelo trabalho que realizaram”.

Contudo, José Manuel Constantino assumiu que acreditou e acredita que o valor desportivo das missões é superior à demonstrada em contexto de Jogos Olímpicos.

“Isso já tinha acontecido no Rio – eu acho que havia valor desportivo para podermos ter resultados diferentes do que tivemos [o bronze da judoca Telma Monteiro] – e receava que pudesse acontecer uma situação de natureza similar. Fiquei naturalmente muito satisfeito com a circunstância de se ter conseguido o resultado que se conseguiu, quer em termos de posições de pódio, quer em termos de primeiros lugares nas classificações finais das diferentes modalidades, mas continuo a reconhecer que há valor desportivo para poder ir um bocadinho mais além”, ressalvou.

Na capital japonesa, Portugal conquistou quatro medalhas – o ouro de Pedro Pablo Pichardo no triplo salto, disciplina em que Patrícia Mamona alcançou a prata, e os bronzes do judoca Jorge Fonseca (nos -100kg) e do canoísta Fernando Pimenta (em K1 1.000 metros) -, 11 diplomas, entre os quais o quarto lugar de Auriol Dongmo, no lançamento do peso, e a melhor pontuação de sempre em Jogos Olímpicos (78 pontos, atribuídos aos atletas classificados entre o primeiro e o oitavo lugares, mais 27 do que em Atenas2004).

Ainda assim, o dirigente olímpico confia que “o limite” desportivo da representação portuguesa “não está atingido”.

“A manter-se este nível desportivo que a nossa Missão olímpica teve nas duas últimas edições dos Jogos, eu creio que é possível ter a ambição de atingir resultados ainda superiores àqueles que tivemos no exercício anterior”, reforçou.

Constantino confirmou que o ponto alto da presença dos atletas portugueses em Tóquio2020 “foram as medalhas que se conquistaram”, escusando-se a apontar a polémica entre o campeão olímpico Pedro Pablo Pichardo e o seu antecessor Nelson Évora, ouro na mesma disciplina em Pequim2008, como o ‘menos’ da participação nacional nos Jogos Olímpicos.

“O incidente que ocorreu foi tratado pelo Chefe de Missão [Marco Alves] na altura em que o teve de tratar. O presidente do COP pronunciou-se nos termos que entendeu mais adequados no momento que considerou adequado e é um assunto que está para nós encerrado”, referiu.

Nelson Évora, que se despediu dos Jogos Olímpicos na qualificação, apoiou o medalha de bronze Hughes Fabrice Zango, do Burkina Faso, na final que deu o ouro a Pichardo, o que levou o presidente do COP a lembrar, na altura, que os atletas estavam a representar Portugal e não a si próprios na capital japonesa, apelando ao “sentido de companheirismo, colaboração, entreajuda, reforço” dos elementos da Missão nacional.

O dirigente olímpico insistiu que, do ponto de vista do COP, “o que havia para dizer sobre essa matéria, está dito”, mas não deixou de confidenciar ter ficado “muito satisfeito” por ter visto os dois atletas cumprimentarem-se, “numa situação saudável e de reconhecimento”, perante centenas de pessoas, na Gala do Centenário da Federação Portuguesa de Atletismo.

José Manuel Constantino escusou-se ainda a colher ‘louros’ por aquilo que aconteceu em Tóquio2020, notando que “o contributo que o COP dá para esse sucesso [da Missão] é relativamente pequeno, não tem significado”.

“Desde que não complique a vida às pessoas que estão no terreno na sua preparação desportiva isso já é reconhecido e já é louvável. Naturalmente se as coisas correrem mal, o primeiro responsável é o COP, porque é o COP que chefia a Missão e, portanto, não tem como fugir a essa avaliação. Há que reconhecer que o mérito é, sobretudo, dos atletas e dos treinadores, dos clubes e das federações. São eles que se preparam, são eles que treinam, são eles que competem, e nós temos a obrigação de fazer tudo quanto estiver ao nosso alcance para que eles só se preocupem com isso”, completou.

O presidente do COP, que já anunciou a recandidatura às eleições de 10 de março, destacou também, no seu balanço, aquele que presumivelmente será “o melhor resultado financeiro da história” do organismo, atingido em plena pandemia de covid-19 e apesar dos gastos extra (ultrapassaram em mais de 50% aquilo que estava orçamentado para os Jogos) que a entidade teve “em matéria de transporte e alojamento” devido ao adiamento da competição.

“Não sendo esse um objetivo que esteja na primeira linha das nossas preocupações, para além de ter equilíbrio financeiro […], eu creio que vamos ter um desempenho financeiro muito significativo e que esse desempenho resulta, sobretudo, de termos sido capazes de melhorar a nossa performance do ponto de vista da receita de patrocínios, quer privados quer do Comité Olímpico Internacional, e isso ter ajudado a compor o nosso resultado financeiro final, que será fechado no final do mês de dezembro”, concluiu.