O inquérito ao ex-presidente da Federação Portuguesa de Judo Jorge Fernandes foi hoje “alargado” pelo Instituto Português do Desporto e Juventude (IPDJ), à luz de novos factos trazidos à comissão parlamentar.
“O IPDJ, em virtude de novos factos divulgados, e alegações que envolvem a Federação Portuguesa de Judo (FPJ) e o presidente destituído da direção, esclarece que o inquérito que já decorre neste Instituto terá o seu âmbito alargado”, informou hoje o organismo do Estado.
Em causa estão os acontecimentos tornados públicos na terça-feira, na Comissão parlamentar de inquérito requerida pelo Bloco de Esquerda, em relação ao conflito vivido no judo, no qual a judoca Telma Monteiro denunciou que Jorge Fernandes, destituído do cargo, continuava a utilizar recursos da Federação (FPJ).
Na ocasião, Telma Monteiro, que se encontrava a prestar esclarecimentos em sede parlamentar, acompanhada pelos também judocas Rochele Nunes, Patrícia Sampaio, Anri Egutidze e Rodrigo Lopes, revelou aos deputados que Jorge Fernandes acabara de chegar à Assembleia da República no automóvel da FPJ.
Uma situação que o ex-presidente, ouvido na segunda parte da audição, confirmou, dizendo estar devidamente autorizado pela Federação, motivando nesse mesmo dia a estupefação do presidente do IPDJ, Vítor Pataco, e já na quarta-feira, também em sede parlamentar, do secretário de Estado da Juventude e Desporto, João Paulo Correia.
“Aquilo que ouvimos ontem [terça-feira] foi um conjunto de denúncias que podem configurar usurpação de poderes e abuso de confiança por parte do ex-presidente da Federação de judo, com a conivência da atual direção da FPJ. E ouvimos também denúncias acerca da ausência de um departamento técnico no seio da federação, revelando que o ex-presidente exercia funções para além das funções da presidência, exercia funções técnicas. Inevitavelmente, darão lugar a um novo inquérito, que terá de ser célere e conclusivo”, disse então o SEJD.
No mesmo dia em que foram ouvidos os judocas, Jorge Fernandes também prestou declarações aos deputados, na reunião imediatamente a seguir, e não só confirmou ter-se deslocado até à AR no carro da FPJ, como apresentou vários dados das despesas da preparação olímpica dos atletas, admitindo ter tido acesso a esses dados, mas, justificando também, que os mesmos são públicos.
As audições de terça e quarta-feira, requeridas por vários grupos parlamentares seguiram-se à crise que ‘estalou’ em agosto de 2022, com um grupo de judocas, entre os quais Telma Monteiro, a denunciarem um clima de opressão e um ambiente tóxico, dirigindo fortes críticas ao ex-presidente.
Mais tarde, num inquérito aberto pelo IPDJ, após queixa da Associação de Judo de Castelo Branco, Jorge Fernandes perdeu o mandato por incompatibilidades ao abrigo do artigo 51 do Regime Jurídico das Federações Desportivas, sendo destituído em dezembro.
O dirigente recandidatou-se ao cargo, juntamente com os órgãos sociais – após ofício do IPDJ a indicar que deveria proceder-se a uma eleição global -, mas o Tribunal de Loures, após providência cautelar da Associação de Castelo Branco, desconvocou essas mesmas eleições, determinando que as mesmas deveriam realizar-se apenas para o cargo de presidente, estando agora marcadas para 29 de abril.
Em paralelo, continua a decorrer um inquérito em relação às convocatórias da seleção, extraído ainda do primeiro e que é agora alargado pelo IPDJ, à luz das denúncias feitas em sede parlamentar, bem como uma auditoria à Federação.
“Perante a gravidade desses factos e alegações, designadamente das declarações proferidas nas recentes audições da Comissão de Cultura, Comunicação, Juventude e Desporto da Assembleia da República, dos atletas (...) e do presidente destituído (...), o IPDJ, no estrito cumprimento da sua função fiscalizadora, atuará junto da FPJ e retirará as devidas consequências do processo em curso”, acrescenta o organismo.
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